15 julho 2021

Variante Delta

Delta é mais transmissível, mas estudos não apontam elo com casos mais severos, dizem especialistas

Variante tem provocado aumento de casos pelo mundo. Especialistas ouvidos pelo G1 explicam que maior transmissibilidade não significa, necessariamente, que quadro de Covid será mais grave.
Por Bruna de Alencar e Mariana Garcia, G1

 

variante delta do coronavírus já foi detectada em pelo menos 111 países, segundo o mais recente boletim epidemiológico da Organização Mundial da Saúde (OMS). Assim como as outras variantes de preocupação (alpha, beta e gamma), ela é mais transmissível. Entretanto, ainda não é possível afirmar se as variantes provocam casos mais graves ou se são mais letais.

“Por enquanto, o que sabemos é que a variante delta é mais transmissível, mas ainda não conseguimos definir exatamente quão mais grave é. Isso vem desde a alpha”, diz a imunologista Ester Sabino.

·         Como a variante delta avança pelo mundo e quais as perspectivas para o Brasil

·         O infectologista da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, também destaca que, até aqui, só está comprovada a alta transmissibilidade das variantes.

·         “Ainda não há comprovação que as variantes, inclusive a delta, tenham uma taxa de virulência maior entre os infectados. O que acontece é que, como elas são mais transmissíveis, há chances da população, caso infectada, desenvolva a doença, seja casos leves, moderados ou graves”, explica Kfouri.

Potencial de contágio

Em um artigo publicado na revista científica Eurosurveillance, pesquisadores ligados à OMS e ao Imperial College London apontam que a variante delta foi a que teve o maior aumento na taxa de reprodução em relação ao coronavírus original.

Enquanto a alfa (B.1.1.7, responsável pelo primeiro surto no Reino Unido) teve aumento de 29% na transmissibilidade, os pesquisadores apontam que a delta chegou a 97% de incremento em relação ao vírus original.

A pesquisadora Melissa Markoski, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e pós-doutora em imunologia, explica que uma das formas de visualizar a transmissibilidade é através do seu R0 (lê-se 'R' -zero), que mede a taxa de reprodução do agente.

Em outras palavras, o R0 é o número médio de pessoas que cada indivíduo infectado com um vírus consegue contaminar, considerando que as pessoas não estão vacinadas e nem utilizaram métodos de se proteger do contágio.

"Quando a R0 é menor que 1, significa que o agente está controlado, explica Markoski. Entre as variantes da Covid-19, a variante delta é a mais contagiosa, apresentando R0 entre 5 a 8.

Uma taxa maior de contágio, contudo, não significa maior taxa de mortalidade. Markoski explica que embora sejam conceitos diferentes, muitas vezes maior taxa de contágio é relacionado à maior gravidade de uma determinada doença. Isso acontece porque, se uma doença for mais contagiosa, haverá mais casos na população, o que pode ocasionar em um aumento no número bruto de hospitalizações e mortes.

Mutação do vírus é comum

Uma variante é resultado de modificações genéticas que o vírus sofre durante seu processo de replicação. Isso ocorre de maneira aleatória. “Variantes aparecem todos os dias, centenas ou milhares, eu diria. A cada vez que o vírus se copia, ele sofre mutações”, explica Kfouri.

Um único vírus pode ter inúmeras variantes. Quanto mais o vírus circula – é transmitido de uma pessoa para outra –, mais ele faz replicações, e maior é a probabilidade de modificações no seu material genético que vão dar origem a novas variantes.

“Existem milhares de variantes, todos os dias surgem novas. E no meio de milhares de novas variantes aparece uma com capacidade maior de transmissão, que toma conta da epidemia. Quanto mais damos chances, mais variantes piores aparecem”, diz Sabino.

Por isso, Raquel Muarrek, infectologista do Hospital São Luiz e do Emilio Ribas, ressalta que é importante avançarmos na vacinação da população para evitar que o vírus continue tenso sucesso em suas mutações.

“Existem milhares de variantes, todos os dias surgem novas. E no meio de milhares de novas variantes aparece uma com capacidade maior de transmissão, que toma conta da epidemia. Quanto mais damos chances, mais variantes piores aparecem”, diz Sabino.

Por isso, Raquel Muarrek, infectologista do Hospital São Luiz e do Emilio Ribas, ressalta que é importante avançarmos na vacinação da população para evitar que o vírus continue tenso sucesso em suas mutações.

"Qual é o problema: temos combinações dessas mutações. Pessoas vacinadas apenas com uma dose ou não vacinadas fazem uma combinação ou uma mutação do vírus", afirma Muarrek.

O impacto da vacinação

O especialista André Bom, do Hostital Sírio-Libanês, aponta que a circulação de variantes com maior transmissibilidade vai exigir que mais pessoas sejam vacinadas para a obtenção da chamada "imunidade coletiva".

“Pode interferir muito em alguns sentidos. Com a variante original, uma pessoa infectava duas a três pessoas. Isso faz com que a gente precisasse de uma cobertura vacinal entre 60% e 70%. Com a variante delta, uma pessoa infecta 5 a 8 pessoas diferentes, então, você precisa de uma proporção muito maior de vacinados para reduzir a circulação do vírus de forma sustentável”.

 

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