Federações ajudariam a
assegurar o pluralismo político
Renildo Calheiros
www.pcdob.org.br
Em todo o
mundo, surgem novas formas de agremiações partidárias, capazes de consolidar
maiorias e representar os interesses do povo. Para governar, é preciso
aglutinar os partidos. Países como Alemanha, Chile, Espanha, Portugal e Uruguai
já contam com experiências similares e exitosas. A chanceler Angela Merkel, por
exemplo, governa a Alemanha por federação partidária desde 2005.
A federação é uma
alternativa de organização partidária moderna, testada e aprovada em vários
países. Promove o aperfeiçoamento e a modernização de todo o sistema partidário
ao fortalecer legendas, ao valorizar convergências programáticas e ao enxugar
democraticamente o espectro partidário.
Trata-se da união
de siglas, com afinidades entre si, para atuar em conjunto, em todo o
território nacional por pelo menos quatro anos. Com programa, estatuto e
direção próprios, as federações se expressam, como se fossem um único partido
em todos os lugares. É um amadurecimento para a fusão, mas sem exigir a
extinção dos partidos.
As federações
estimulam a ação política conjunta e a governabilidade ao criar frentes
políticas mais sólidas. Será possível termos mais unidade programática e darmos
um caráter mais nacional às legendas, valorizando suas identidades, suas
representatividades e a fidelidade partidária.
Essa figura
não existe no arcabouço jurídico brasileiro e precisa ser criada. A proposta
que será votada no plenário da Câmara dos Deputados já foi aprovada no Senado
em 2017. É o Projeto de Lei (PL) 2522/2015 de autoria da Comissão de
Reforma Política do Senado Federal.
Desde a década
de 90, projetos propondo as federações partidárias circulam nas comissões da
Câmara. O primeiro a defender essa ideia foi o então deputado Haroldo
Lima (PCdoB-BA), que apresentou o PL 1203/1999, com o objetivo de
consolidar frentes políticas.
A federação
funciona independentemente do sistema eleitoral, seja ele proporcional ou
majoritário. Ela une os partidos. Em qualquer hipótese, ela participará do
processo eleitoral como um só partido com um número de candidatos igual ao de
um único partido. E os eleitos atuarão nas diversas Casas legislativas. A
federação funcionará como uma única agremiação partidária.
A federação é
o oposto da coligação. A coligação é um arranjo local de partidos heterogêneos,
com o objetivo de disputar a eleição e se encerra com a divulgação do resultado
do pleito. Já as federações, que terão vida longa, são constituídas por
convergências programáticas e nacionais. É uma espécie de antessala da fusão. É
uma frente de partidos que implica atuação conjunta em Prefeituras, Câmaras de
Vereadores, Assembleias Legislativas, Congresso Nacional e Presidência da
República. É um passo à frente no sistema partidário brasileiro, que o torna
mais moderno e atual.
Ela estimula a
unidade do campo político, inibindo a fragmentação progressiva do sistema
partidário e contribui para uma melhor compreensão do eleitor. Assegura ainda o
pluralismo político. Essa é uma garantia democrática prevista na Constituição
Federal. O quadro partidário será enxugado naturalmente sem que seja uma
decisão autoritária, impositiva, essas legendas decidirão livremente se
federar.
Legendas com
uma causa a defender têm o direito de existir. Se elas entenderem que,
federadas, darão mais representatividade as suas bandeiras na sociedade, então
a federação se justifica. Ninguém é obrigado a formar uma federação. Apenas os
partidos que decidirem, democraticamente, em suas instâncias internas, formarão
uma frente política duradoura. É um direito, uma alternativa. Convém lembrar
que quem não se interessa hoje pode ter interesse amanhã.
A federação
não é uma aliança de ocasião. Teoricamente é possível abandonar a agremiação
antes do prazo de 4 anos. O partido, entretanto, perde o tempo de rádio e TV, o
direito a funcionamento parlamentar e o fundo partidário. Na prática, quem
entra não sai antes do prazo porque o prejuízo é muito grande.
Não é uma
alternativa de direita nem de esquerda.
Os Estados
Unidos, maior economia do planeta, têm centenas de siglas. Temos a impressão de
que só existem dois, porque lá é tudo pago e muito caro. Apenas as duas
legendas que representam os conglomerados econômicos mais fortes têm condições
de fazer campanha em rádio e TV.
Não cabe ao
Estado definir os partidos. Estas são escolhas da sociedade. Os partidos são
construções sociais e estão sujeitos a esta dinâmica. Devem existir quantas
legendas a sociedade queira. Temos de respeitar o princípio constitucional da
livre organização partidária. A democracia pressupõe espaço para as novidades
florescerem. A federação garante o equilíbrio entre a representação das causas
populares nos espaços de poder e a racionalidade do sistema partidário.
A mobilidade
no tamanho dos partidos é característica em nosso país. É a eleição democrática
que define quem cresce ou não. Legendas como PT, PSDB, PSD e PSL já foram
pequenas e viraram grandes por escolha popular. Por essa razão, é errado
congelar arbitrariamente siglas, engessar o quadro partidário. Isso prejudica o
dinamismo da sociedade, que é bem complexa, heterogênea e desigual.
Sendo assim, o
nosso país precisa de mais democracia e não de menos. Não devemos ter um
sistema partidário que assegure reserva de mercado. Democracia não é mercado. A
federação é um passo adiante e fundamental para melhorarmos a qualidade e o
funcionamento da política brasileira.
*Renildo
Calheiros é líder do PCdoB na Câmara dos Deputados .
Artigo
originalmente publicado no portal Poder 360
.
Até
onde irá o governo Bolsonaro? https://bit.ly/3h5e6xJ
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