02 setembro 2021

Escolha criteriosa

O que deve ser considerado na hora de escolher a escola para o seu filho

Renata Jatobá*, na Folha de Pernambuco

 

Não existe nada mais importante do que o período da Educação Infantil para o desenvolvimento da criança. Logo nos primeiros momentos de vida, a família deseja projetar as melhores vivências e contribuir com todos os momentos de construção dos seus filhos.

Uma das primeiras preocupações é com a escolha da escola que a criança irá construir suas primeiras experiências fora do âmbito familiar, e que terá contribuições significativas para a base da vida adulta.

Saber lidar com as escolhas que poderão favorecer a elaboração da memória afetiva das crianças, que iniciam na Educação Infantil, pode ser uma das situações mais complexas para os pais no período inicial escolar. Tudo isso em consonância com insegurança da família em deixar suas crianças pequenas com pessoas desconhecidas. Essa situação potencializa e proporciona a dúvida do “como fazer para escolher” o melhor espaço de educação para os filhos.

Como ponto de partida dessa reflexão, vamos mencionar seis (6) elementos fundamentais para que os pais possam compreender melhor a importância da escolha consciente para a superação das angústias que envolvem esse momento.

Esses elementos irão ajudar no que deve ser observado, em qualquer unidade educacional; como contemplar de forma abrangente o ambiente seguro, planejado para criança pequena, de maneira a facilitar as interações.

1) O primeiro deles, e o mais importante, é o acolhimento inicial das pessoas da escola, no momento do primeiro contato da família para conhecimento do local, do espaço e da proposta pedagógica. O coletivo de profissionais que constituem o espaço escolar é partícipe da proposta pedagógica que, só será amplamente efetivada, a partir do sentimento de pertencimento dos envolvidos no ambiente educacional.

2) É importante observar os detalhes da rotina dos profissionais da unidade e verificar como lidam com as crianças. Outra observação importante é perceber como o grupo pedagógico da unidade educacional, busca trabalhar no coletivo, se possuem atenção para com a criança que é cuidada pelo coletivo, se a criança é vista e se é notada como criança de todos da escola; o segundo elemento diz respeito ao conceito de educador. O conjunto dos profissionais da escola, independentes dos seus cargos, são educadores. É preciso visualizar se a equipe possui essa consciência, com conceitos, procedimentos e atitudes que serão vivenciados no espaço escolar com intencionalidade educativa;

3) O terceiro elemento refere-se à parceria e integração entre dos professores no cotidiano escolar, ou seja, verificar se o professor solicita participação do outro professor ou das crianças de outra turma, nos diferentes momentos de sua aula;

4) O quarto elemento trata da vivência na prática da proposta pedagógica apresentada. Se a criança realmente tem a ludicidade nas vivências do seu dia a dia, se aprende brincando e se a escola cultiva o prazer em estudar partindo do interesse da criança e incorporando as demais temáticas estabelecidas;

5) O quinto elemento está relacionado a formação cultural e desenvolvimento integral da criança. Os conteúdos trabalhados na escola precisam representar a importante ação cultural, disponibilizados por diferentes níveis. Através da ação e do pensamento, a criança vai interagindo com informações, com as intervenções do professor e vai construindo a sua bagagem cultural sólida e relevante. É preciso ver o mundo de maneira integrada com os aspectos físicos, sócio-afetivos e cognitivos e com acompanhamento individualizado e coletivo. O processo de ensino-aprendizagem deve respeitar as reais necessidades e conquistas das crianças;

6) Por fim, o último elemento apresenta o olhar para a infra-estrutura que precisa ser harmoniosa, projetada para contribuir com a proposta pedagógica diferenciada. Sala de aula vista como laboratório de investigação, com materiais adequados para promover o aprendizado e o cuidado com a vida das crianças pequenas. O ambiente deve ser agradável, descontraído e seguro. E os produtos utilizados, tanto de higiene como na alimentação, precisam ter qualidade e cuidado com o desenvolvimento infantil.

É importante pensarmos a escola que precisa ser para o tempo presente, século XXI, com uma proposta pedagógica que deve nascer de uma análise do mundo complexo, plural, conflitante. De um tempo em que a diversidade humana está em exibição. De um espaço que os limites não são geográficos. De uma época que existe o avanço tecnológico e a busca pela humanização. De um momento pandêmico e de possibilidades virtuais. De um lugar onde o conhecimento ora é objeto de poder, ora é sujeito de transformação de um contexto ora excludente, ora envolvente. Da gestão da Avaliação que conduz a Gestão do Ensino (OLIVEIRA, 2019). De uma era ora de coisas, ora de gente. De uma ciência, com teorias, que conduz uma prática. Isso é a conjuntura escolar.

Então, resgatamos a pergunta: qual é a escola ideal para este tempo? Para preparação da vida ou para o conhecimento como produto mais cobiçado do mercado? Na educação infantil, a escola é preparada para receber a criança em suas proporções físicas; deve-se permitir que a criança vivencie as situações do cotidiano da vida; deve-se fazer o mundo ser sentido pela criança. Maria Montessori (educadora, médica e pedagoga italiana, viveu entre 1870 e 1952), pensou nisso em um tempo muito diferente deste.

A escola precisa centrar a sua atenção na criança, nos seus interesses e movimentos, disponibilizando a experimentação dos conteúdos da vida. Esta proposta era nova quando o movimento da Escola Nova era novidade. As vivências para a conjuntura do aprendizado integral da criança estão para uma base que envolve a formação integral do ser e, também, será importante para o aprendizado dos objetivos futuros.

Assim, a escola precisa deixar a criança descobrir, tentar, investigar, observar e se expressar. Era o que defendia Freinet (pedagogo francês, importante referência da pedagogia 1896 – 1966), tempos atrás. Essa é a nossa base, ou seja, aquela com teorias construtivistas, interacionistas, sócio-interacionistas porque a escola é o lugar onde a criança constrói seus próprios brinquedos, suas próprias atividades, seu próprio dia a dia. A escola é o lugar onde se faz amigos, se brinca de forma direcionada e livremente, se faz o que é preciso e o que se deseja. Em que se parte do contexto da criança e dos seus conhecimentos prévios e, muitas vezes, se chega à sua própria realidade.

Entretanto, existem versões de práticas escolares que não acreditamos, são aquelas que são isoladas as letras como o “B”, e se desenha o “B”, se pinta o “B”, se dramatizar o “B”, se cobre o “B”... Em nada vai contribuir se não existir o contexto de significações para a criança. O que pensaria Piaget (cientista suíço revolucionou o modo de compreender a educação) e Vygotsky (psicólogo bielo-russo que realizou diversas pesquisas na área do desenvolvimento da aprendizagem)? Poderíamos incluir Freire (educador e filósofo brasileiro mais importante da pedagogia mundial) nessa lista.

A escola da Educação Infantil deve ter uma proposta que trata as vivências e as atividades considerando os direitos de aprendizagem 1) Conviver, 2) Brincar, 3) Participar, 4) Explorar, 5) Expressar, 6) Conhecer-se - e os cinco campos de experiências (O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações; Escuta, fala, pensamento e imaginação) e de acordo com os eixos estruturantes da Educação Infantil: interações e brincadeiras, conforme o documento oficial da Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2017).

Assim, as crianças podem aprender e se desenvolver, a partir dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento e da integração dos campos de experiência. A organização das vivências deve estar planejada para ter o protagonismo, criatividade e autonomia e a construção investigadora da criança que devem estar presentes desde a contação de histórias e da leitura de textos do mundo infantil até as possibilidades que envolvem práticas híbridas e as metodologias ativas. Essa é a escola que cada um precisa buscar para os seus filhos, a partir da mudança de uma escola estática para uma escola transformadora na ação prática.

*Doutora em Educação

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Proposta completa. Terceira versão revista. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/pdf/0_BNCC-Final_Apresentacao.pdf. Acesso em: 23 out. 2017.

 

OLIVEIRA, R. A. J. Saberes e práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores nos contextos escolares no Brasil e na França: gestão da avaliação através da intermediação-planejada no ciclo de alfabetização. 412 f. : Il Tese (Doutorado em Educação) – Centro de Educação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2019.

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Veja: A quem interessa o caos? https://youtu.be/yLfPBPiRBik 

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