Rumo aos 100 anos,
PCdoB inicia plenária final do 15º Congresso
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A
sexta-feira (15) marcou mais um momento histórico para a militância comunista,
com o início da plenária final do 15º Congresso do PCdoB, rumo ao centenário do
partido. O evento foi nomeado “Haroldo Lima” em homenagem ao histórico
dirigente comunista falecido neste ano em decorrência da Covid-19. A abertura
da plenária do congresso, que pela primeira vez aconteceu de maneira virtual
devido à pandemia, reuniu mais de 600 delegados de todo o país.
A
plenária foi aberta pela presidenta nacional do partido e vice-governadora de
Pernambuco, Luciana Santos. Na sequência, foi exibido vídeo sobre a história do
PCdoB (veja abaixo), que em 2022 completa 100 anos. Também foram
eleitas a mesa diretora dos trabalhos congressuais — coordenada pela deputada
federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) — e as comissões eleitoral e de resolução,
além de ter sido aprovado o regimento interno.
Haroldo
Lima também foi homenageado com a exibição de vídeo (veja abaixo) que
mostrou alguns dos principais momentos de sua profícua contribuição teórica e
sua rica trajetória de lutas em defesa do socialismo e do Brasil. O vídeo
também homenageou os dirigentes comunistas Augusto Buonicore, José Carlos Ruy e
Wagner Gomes, que também faleceram recentemente e que igualmente desempenharam
importante papel no desenvolvimento teórico do partido e na luta da classe
trabalhadora. O vídeo termina com a solidariedade do PCdoB às famílias das mais
de 600 mil vítimas da Covid-19.
A
mesa presencial da plenária foi composta pelos dirigentes do Comitê Central Nádia
Campeão, Marcio Cabreira, Vanessa Grazziotin, Ricardo Alemão Abreu, Jandira
Feghali, Fábio Tokarski, Walter Sorrentino, Edna Costa, Davidson Magalhães,
Daniel Almeida, Nivaldo Santana e João Vicente Goulart.
Informe político
A
abertura contou com um informe especial feito
pela presidenta Luciana Santos. “O 15º Congresso do PCdoB ocorre em um contexto
extraordinário, em uma conjuntura nacional e internacional marcada por grande
instabilidade política e múltiplas crises. Atuamos para impor um fim ao projeto
autoritário de poder de Bolsonaro e construir saídas para as graves crises em
que está mergulhado o país. Ao mesmo tempo, travamos uma intensa luta política com
vistas a superarmos os dilemas que as restrições democráticas impõem ao nosso
pleno funcionamento”, destacou a dirigente ao abrir o informe.
Ela
salientou que o além de histórico, o 15º Congresso celebra “importantes
vitórias políticas e reafirma a resiliência do PCdoB. É o congresso que dará
início às comemorações do nosso centenário e que coroa o processo de integração
com o PPL. Ele se dá no momento em que a tática da frente ampla ganha contornos
mais nítidos e conquistamos a aprovação da Lei das Federações Partidárias, uma
vitória política de grande envergadura”.
Luciana
fez um breve balanço do processo congressual, que mesmo diante de um cenário
adverso reuniu 33 mil militantes pelo país para debater o Projeto de Resolução
Política e a Plataforma Emergencial, com diversas contribuições. “Isto é a
expressão maior de nossa inteligência coletiva”, colocou.
Com
relação à pandemia, Luciana destacou: “vivemos uma época que será lembrada por
muitas gerações. A pandemia da Covid-19, tem levado vidas de milhares de
pessoas no Brasil e mundo afora. Nós, que somos parte deste valoroso povo que
tem sofrido com a ausência de senso de urgência e o negacionismo, também
perdemos entes queridos. Quero aqui fazer um tributo aos que tombaram nesta
luta pela vida. São valiosos camaradas e companheiros de vários estados que
foram acometidos pelo coronavírus e não resistiram. São heróis e heroínas da
luta pela vida”.
Cenário
internacional
Ao tratar
do cenário internacional, Luciana Santos salientou que a pandemia agravou as
principais contradições do cenário internacional. “Em um ambiente complexo e
conflitivo, marcado por sobreposições de fenômenos e uma intensa luta entre as
velhas potenciais imperialistas — destacadamente os EUA —, países e nações
lutam para constituir projetos de desenvolvimento soberanos”.
Os polos
dinamizadores desta conturbada transição em curso, explicou, “são o declínio
relativo da superpotência estadunidense e a emergência de novos polos de poder,
sejam eles econômico, político, diplomático ou militar, localizados, sobretudo,
na antiga semiperiferia e periferia do sistema internacional. O fenômeno mais
representativo dessa tendência é o protagonismo da China socialista como
potência, e a recuperação do poder nacional da Rússia”.
Ao tratar
da China, a dirigente lembrou que a trajetória do país “comprova a atualidade
do socialismo, a viabilidade de projetos nacionais que consigam combinar
desenvolvimento econômico soberano com a erradicação da pobreza e da miséria, a
expansão de direitos sociais e a proteção da vida e do bem-estar do povo”.
Impactos
da Covid
Outro
ponto destacado pela presidenta do PCdoB ao analisar o cenário mundial foi o
impacto da pandemia da Covid-19, “um dos maiores acontecimentos do século com
repercussões que vão muito além da questão de saúde e da economia, impactando
na configuração do tabuleiro da geopolítica mundial. São quase cinco milhões de
vidas perdidas ao redor do mundo e mais de 600 mil somente no Brasil”.
Além
disso, acrescentou que “o mundo pós-Covid-19 tende a aprofundar as
desigualdades, o fosso entre o capital e o trabalho, a ebulição social,
impasses e polarização política” e que os países que melhor têm enfrentado a
pandemia e seus múltiplos impactos “têm como características principais a
existência de um Estado nacional forte, com projeto de país bem definido, que
utiliza os instrumentos econômicos e monetários para criar políticas de
proteção social, de regulação do mercado de trabalho, e do setor financeiro”.
Por outro
lado, destacou que as medidas de austeridade e choque fiscal que marcaram o
receituário neoliberal nos últimos anos demonstraram ser “incapazes de
responder aos desafios do mundo, aguçaram contradições sociais no interior das
nações, concentraram riqueza e atacaram direitos sociais. Há um sentimento cada
vez maior de injustiça e uma percepção de que a desigualdade se amplia”.
Alternativa
à crise
Neste
cenário, disse Luciana, “parcelas das elites deixaram de lado o polimento do
liberalismo político e flertam com forças de extrema-direita, anticivilizacionais,
com vistas a manter suas margens de lucro”. Contudo, apontou, “em essência é o
capitalismo que vive seus impasses estruturais e que no curso da crise torna
visível sua faceta mais desprovida de pudores”.
A
presidenta enfatizou que diante da atual crise em nível global, a luta contra o
neoliberalismo e contra o neocolonialismo passa pela questão nacional, pelo
fortalecimento da soberania com desenvolvimento social. “Estamos seguros de que
as forças que buscam a transformação social conseguirão descortinar novos
caminhos para lutas emancipacionistas. A luta por uma nova sociedade, a
socialista, está presente nos dias de hoje. Ela representa conquistas
civilizacionais, soberania, desenvolvimento e progresso social. O tempo
presente, e futuro, é do socialismo!”.
Brasil
sob Bolsonaro
Em sua
fala, Luciana Santos fez uma aprofundada análise sobre a situação do país sob o
governo de Jair Bolsonaro. “O quadro político brasileiro é marcado por uma
grande instabilidade, por uma sequência de crises múltiplas e simultâneas, que
evolui com celeridade, produzindo, nos últimos meses, inflexões decisivas no
comportamento das forças políticas, econômicas e sociais, que se refletem nas
pesquisas. É crescente o isolamento de Bolsonaro, ao tempo em que ganha
contornos cada vez mais nítidos e variados a frente ampla”, declarou.
Ao falar
sobre os diversos impactos negativos do atual governo na vida do país e do
povo, a dirigente assinalou: “O Brasil sob o governo da extrema-direita regrediu
em vários sentidos nos últimos três anos. A democracia e as instituições nunca
foram tão ameaçadas. O desemprego e a inflação atingiram números recordes. A
renda do brasileiro caiu ao menor patamar em dez anos”.
Além
disso, salientou, “ampliamos a desigualdade e a pobreza, a fome voltou a bater
à porta da nossa gente, o feijão e o arroz começam a deixar de fazer parte do
prato dos brasileiros. Um número cada vez maior de pessoas volta a cozinhar
usando lenha ou álcool por não conseguir comprar o gás de cozinha. O drama
social pode ser visto nas ruas, com um número cada vez maior de pessoas vivendo
em situação de vulnerabilidade”.
Ela
também apontou que a política ultraliberal do teto de gastos “corta recursos
fundamentais para o funcionamento do Estado brasileiro em áreas como saúde e
educação, e elimina a realização de investimentos”, piorando ainda mais as
condições de vida do povo.
Luciana
acrescentou que “o Brasil vai se tornando um país mais pobre. São 800 mil
empresas quebradas, com perda de massa salarial; 14,4 milhões de pessoas
desempregadas, em um processo de acelerada desindustrialização e “uberização”
de nossa força de trabalho. A expressão mais dramática da incompetência do
Governo Federal é o aumento alarmante da fome, 116,8 milhões de pessoas vivem
em insegurança alimentar. Temos 20 milhões de brasileiros que costumam passar
mais de 24 horas sem comer”.
Após
destacar o importante papel do SUS e de seus trabalhadores e trabalhadoras no
enfrentamento à pandemia, Luciana apontou: “Se não fosse a sabotagem do governo
federal poderíamos ter bem menos do que 600 mil mortos. Se por um lado as
famílias ainda choram por seus entes perdidos, a pandemia vai deixando de ser
um assunto presente nos noticiários, a vida começa a ganhar contornos de uma
semi-normalidade e a preocupação maior dos brasileiros se volta para a situação
econômica”.
Menos
apoio, mais golpismo
Luciana
Santos também analisou as diversas iniciativas golpistas de Bolsonaro que
procura corroer e enfraquecer as instituições como parte de seu projeto
autoritário, com destaque para os atos de 7 de setembro. Na sequência, ela
apontou que “Bolsonaro vai perdendo apoio em todas as esferas, principalmente
entre setores econômicos importantes como se demonstrou com o lançamento dos
vários manifestos de representantes do PIB, do mercado financeiro e do
agronegócio”.
Porém,
alertou: “Não é inteligente achar que o governo irá ver passivamente suas
dificuldades aumentarem sem se fazer valer dos instrumentos e recursos
econômicos e políticos que possui. A Presidência da República é uma máquina
muito poderosa quando colocada em função de um projeto político”.
Frente
ampla
Considerando
esse cenário, Luciana Santos colocou que a tática de frente ampla democrática
de todas as oposições defendida pelo PCdoB “se firmou e está em ascenso. A
defesa da conformação de frentes políticas amplas é parte da identidade
política do PCdoB e defendida por nós em momentos de grandes impasses e crises
como vivemos atualmente”.
A
dirigente acrescentou que a tática “demonstrou ser o caminho correto para
realizar o enfrentamento ao governo Bolsonaro. Expressão maior disto é a
crescente articulação em amplo espectro da sociedade, do mundo político, nas
instituições e nas manifestações de rua”. Sobre as próximas eleições, destacou:
“O ano de 2022 será de intensa luta política e de classes. O PCdoB empenhará
seus esforços para a convergência das mais amplas forças com vistas a derrotar
este o projeto de Bolsonaro, que é inimigo do Brasil próspero, democrático e
soberano”.
Federações
partidárias
Com
relação às federações, Luciana Santos salientou: “a aprovação da Lei das
Federações partidárias é uma vitória espetacular, resultante de uma batalha
épica feita em um cenário de profunda adversidade política. Trata-se de uma
ideia que circula desde o processo constituinte, ganhando mais força na década
de 1990 com o nosso Haroldo Lima e com o deputado mineiro Bonifácio de
Andrada”.
Para
avaliarmos esse feito, disse, “não podemos desconsiderar o contexto em que a
lei foi aprovada e sancionada. Trata-se de uma conjuntura completamente adversa
para as forças democráticas e progressistas, em que temos um governo de
extrema-direita, profundamente anticomunista e que faz constantes ameaças aos
marcos democráticos”.
Ela
ponderou que a federação “abre um novo caminho na democracia no país, permitindo institucionalizar
a tradição frentista na esfera da luta eleitoral. Ela se torna uma grande
janela de oportunidades para o campo progressista e popular no Brasil e,
particularmente, para o PCdoB”.
E
concluiu: “A construção de alternativas políticas e legislativas com vistas a
assegurar nossa atuação institucional se orientou pelos pressupostos de
preservação da continuidade histórica, identidade e autonomia do Partido
Comunista do Brasil. Isto feito com respeito à democracia interna, amplo debate
com liberdade de opinião, com respeito à divergência de posições e um forte
sentido de construir nossa unidade e da busca por saídas políticas. A aprovação
da Lei das Federações é resultado do persistente e unitário trabalho do
coletivo partidário”.
Análise
dos últimos quatro anos
Luciana
Santos também fez uma breve análise do período de quatro anos que separa o 14º
do 15º Congresso do PCdoB. Entre outros pontos, colocou que este quatriênio “é
marcado pela consolidação do golpe e ascensão de uma força de extrema-direita
ao governo do Brasil. Ao longo deste período, o trabalho do partido se viu
colocado por desafios de ordem política e material. Estivemos à frente de um
dos períodos mais duros para a vida do país, e por consequência, do partido,
desde a conquista da legalidade na década de 1980”.
Em 2018,
avaliou, “acertamos na tática quando procuramos dotar o partido de um papel
político maior, estabelecendo entre as iniciativas o lançamento de uma pré-candidatura
presidencial com a camarada Manuela d’Ávila, que percorreu o país debatendo uma
plataforma de ideias para o Brasil”.
No
período mais recente, do ponto de vista do enfrentamento ao governo de
extrema-direita, disse: “adotamos a tática de frente ampla como forma de
desmascarar, isolar e abrir perspectiva para derrotarmos Bolsonaro.
Denunciamos, desde o primeiro instante, o caráter autoritário e retrógrado de
seu projeto de poder, bem como os interesses e as forças que lhe davam
sustentação”.
Novo conceito
de direção
Voltando-se
para a vida partidária, Luciana Santos destacou que hoje “abre-se uma janela de
oportunidades para o PCdoB. Podemos construir um novo capítulo na história de
nossa participação na luta político-eleitoral e contribuindo para o revigoramento
do partido em todas as esferas”.
Em
conjunto com isto, disse, “acreditamos que o debate em torno do novo conceito
de direção pode contribuir em grande medida para este esforço de revigoramento
do partido. Ele passa por estabelecermos um núcleo mais político, uma Comissão
Política permanente, por melhorar a dinâmica do nosso sistema de direção,
reforçando as comissões auxiliares, os fóruns, grupos de trabalho e as próprias
reuniões do Comitê Central”. E concluiu: “O entendimento é de que, para além de
acertar na política, o nosso núcleo de direção tem que, em tempo ágil,
conseguir operacionalizar a mesma, transformando nossa opinião política em
força material”.
Por fim,
Luciana agradeceu aos líderes do partido e à bancada na Câmara, bem como ao
Comitê Central cessante, à Comissão Política Nacional e à Comissão Executiva
Nacional, aos comitês estaduais e municipais e a cada militante do partido “que
o constrói dia a dia e luta por uma nova sociedade”. E arrematou: “Como diria o
poeta, ‘a história é um carro alegre, cheio de um povo contente, que atropela
indiferente todo aquele que a negue’. Sigamos escrevendo a história. Viva o
PCdoB! Fora Bolsonaro!”.
Priscila Lobregatte
.
Veja:
Aqui sua sugestão é levada a sério https://bit.ly/2YS51Di
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