04 outubro 2021

Palavra de poeta: Chico de Assis

Ambiguidade

Chico de Assis*
 
A lágrima seca
congelou em meu rosto
o fim de uma alegria que não houve
porque seria infinda.
 
O travo da tristeza
imobiliza meu corpo
enquanto o gosto amargo
inunda minha boca.
 
A tarde crepuscular
vai-se impondo
aos olhos que perdem
o brilho e pedem auxílio.
 
A ansiedade se estabelece
e preenche o espaço inútil
de uma mesa em conversa
tosca e fútil.
 
Tu assistes a tudo
triunfante e bela
em tua mortal
e crudelíssima indiferença.
 
Eu percebo confuso
que mais uma vez
(a última vez?)
confundí aceno e posse.
 
[Ilustração: Pablo Picasso]
 
*Advogado, poeta
 
Veja: Mais do que nunca vale o diálogo sem preconceitos https://bit.ly/3kbDHqq

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