27 dezembro 2021

Crônica da segunda-feira

Poético universo devassado

Luciano Siqueira

 

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo/Perdeste o senso!/E eu vos direi, no entanto,/Que, para ouvi-las, muita vez desperto/E abro as janelas, pálido de espanto...”, versos do famoso soneto de Olavo Bilac – verdadeira pérola da poética parnasiana – me vêm à mente toda vez que ouço a notícia de novas descobertas acerca do imenso e imponderável universo.

Tudo me parece inalcançável, pelo menos aos simples mortais como eu; entretanto, objeto de observações através de telescópios monstruosos e cálculos matemáticos ultra sofisticados.

A associação com a poesia vem instintivamente, desde que ainda adolescente me tornei leitor atento de tudo o que me vinha às mãos, hábito que mantenho até hoje.

São tantas as referências poéticas aos astros, que intuitivamente me ficou a impressão de que esse infinito território desconhecido haveria de ser sempre espaço reservado à imaginação romântica dos bons poetas.

Indevassável.

Mas de tempo em tempo ocorre a devassa.

Como a anunciada tentativa do “mais poderoso telescópio do mundo” confirmar, ou não, teorias sobre a evolução do mundo físico como o concebemos.

Trata-se do equipamento James Webb, patrocinado pela Nasa e agências espaciais do Canadá e da Europa.

Justamente as estrelas observadas com tanto fervor pelo poeta Bilac são alvo da expedição. Sabe-se que elas relampejaram pela primeira vez 100 milhões de anos depois do “Big Bang”, fenômeno físico-químico que há 13,8 bilhões de anos deu origem ao cosmo.

Gente amiga, é muita especulação para minha modesta capacidade cognitiva!

Mas creio na consistência dessas hipóteses.

Até porque anunciadas em termos senão poéticos, cientificamente rítmicos e sonoros.

Leiam em voz alta:

Esgotado o seu combustível, os primeiros astros explodiram ciclopicamente (arre!), dando origem ao universo composto por extraordinária variedade de novos elementos químicos.

Daí surgiram tudo o que sabemos e sentimos existir: galáxias, planetas, micro-organismos de todos os tipos e esse produto supremo que conhecemos por seres humanos...

O tal telescópio circulará pelo espaço justamente para confirmar tudo isso.

Se falhar será frustrante, pois custou 10 bilhões de dólares e contém sofisticações extremas, como um espelho constituído por 18 hexágonos de berílio banhados em ouro.

Cientistas testam suas dúvidas.

Poetas proclamam certezas, como Shakespeare: “Duvida da luz dos astros,/De que o sol tenha calor,/Duvida até da verdade,/Mas confia em meu amor.”

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Veja: A poesia em seus lugares e cores https://bit.ly/3BKdwhd

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