Dois traços
da regressão e o que virá em breve
Luciano Siqueira, no portal Vermelho
Negação da ciência em toda linha e incapacidade de sustentar um plano de governo com começo, meio e fim são dois traços marcantes da regressão civilizatória consignada em Bolsonaro e na extrema direita que governa o país.
Tudo o que transpira
reflexão, inteligência e inovação é visto como artimanha do inimigo ideológico
de esquerda.
Daí o desmonte dos
centros e institutos de pesquisa, os tremendos cortes dos recursos da CAPES, do CNPq e do FNDE.
E também o sufocamento
das atividades culturais, levando na esteira a imposição de condições
subsistência miseráveis a cerca de 5 milhões de trabalhadores.
A regra do governo é: se não é possível o controle
absoluto, que se fechem as portas. O Ministério da Cultura, que um dia foi
chefiado por Celso Furtado, hoje se reduz a uma Secretaria conduzida por um
ex-ator desqualificado e de conduta nada ilibada.
Temas como igualdade racial e de gênero são pautados
à exorcização em ambientes supostamente cristãos, alvos de medidas
administrativas persecutórias sequenciadas.
Concomitantemente, a gestão já alcançou o primeiro lugar no
pódio dos governos que menos aprovaram proposições no Congresso. Isto a despeito
da maioria numérica conquistada sabe-se como e a que custo.
Houve Medida Provisória devolvida por não se enquadrar nos
requisitos mínimos consignados em Lei.
Entretanto, tão destrambelhado assim o presidente – e a turma
que com ele governa – seguem o rumo pré-estabelecido, em que se enquadram as
baboseiras pronunciadas pelo presidente a todo instante e, sobretudo, em suas
lives semanais.
Ao arrepio do bom senso.
Mas a bel prazer dos seus impulsionadores milicianos
digitais.
Se o presidente mente despudoradamente, o criticamos pelo
absurdo. Mas em sua rede de transmissão digital, que alcança alguns milhões, a
mentira é reproduzida como verdade absoluta, dita incompreendida ou “distorcida”
pela mídia convencional e pelas oposições.
E assim segue a guerra cultural, que se aproxima do seu
segundo teste eleitoral, em 2022.
Pelo andar da carruagem, são justificadas as expectativas de
que as forças democráticas, se juízo tiverem e convergirem numa direção comum,
possam derrotar o tenebroso presidente e a extrema direita.
Mas não se deve subestimar o tamanho da confusão que as
milícias digitais ainda são capazes de promover na consciência de uma parcela
expressiva de milhões de eleitores.
Também não se deve subestimar a resistência de forças sociais
elitistas e midiáticas que são capazes de contrapor a uma candidatura à
esquerda, mesmo que apoiada em ampla e diversificada frente, se fracassadas
suas démarches em favor de uma pretendida “terceira via”.
Daqui até o réveillon, o ambiente pré-eleitoral mergulha em
especulações. De janeiro em diante, o jogo será pra valer.
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Veja: Alianças e disputas em torno de quê? https://bit.ly/3m3IpbJ
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