Afinal, malegômeno é o quê?
Luciano Siqueira
Fiz meu curso ginasial (como se chamava
antigamente) no Colégio Estadual do Atheneu Norte-riograndense, em Natal, no
turno da noite.
A turma ia chegando do trabalho e antes
de começarem as aulas ficava por ali jogando conversa fora.
Uma brincadeira que fazíamos era
desafiar uns aos outros a dizerem o significado de palavras pouco usuais.
"Energúmeno", por exemplo —
termo que hoje calha muito bem para caracterizar o atual presidente da
República.
Numa certa medida nós nos inspirávamos
no Marquês de Pombal, que se notabilizara por recuperar o uso de palavras que
haviam ficado esquecidas, especialmente quando mandou na colônia e impôs a língua
portuguesa como idioma único no Brasil.
Tinha um colega, conhecido por Wilson Doido,
que era verdadeiro ás no desvendar o sentido das palavras. E sempre tinha uma
anedota para complementar a resposta.
Me intrigava tamanha habilidade num
balconista de farmácia como ele.
Um dia eu o desafiei com o termo
"malegômeno", que improvisadamente tirei da minha própria caixola.
Pura invenção.
Jamais lera ou ouvira pronunciar aquela
palavra.
Wilson Doido sentiu o golpe. Pela
primeira vez se viu embatucado: não conhecia a palavra, mas não queria dar o
braço a torcer.
Arriscou significados vários, do tipo
pessoa maléfica e afins — que rejeitei todos.
Deu a hora da aula sem que a peleja
fosse resolvida.
Iniciamos a noite justamente com a aula
do professor de português, José Patrocínio, reconhecidamente competente e muito
bem informado.
Instado a esclarecer o significado do
termo malegômeno, disse desconhecê-lo e se comprometeu a pesquisar em sua
coleção particular de dicionários.
Na próxima aula esclareceria.
Mas na próxima aula, na semana
seguinte, o professor obviamente comunicou à turma que não havia encontrado nos
dicionários a dita palavra.
Feito bumerangue, o desafio caiu em meu
próprio colo, pressionado a esclarecer aonde a havia encontrado.
Não me fiz de rogado e aprofundei a
invencionice respondendo que a encontrara numa das obras justamente de
Sebastião José de Carvalho e Melo, o famoso Marquês de Pombal.
E assim a polêmica foi encerrada sem
sequer o professor e os mais atentos alunos perceberem que eu os havia
ludibriado, pois o Marquês de Pombal usara palavras em desuso em seus discursos
e não exatamente em obras escritas, ele que historicamente é tido como
importante estadista português, que se deixou influenciar pelo
iluminismo.
Mas não se conhecem livros de sua
autoria...
.
Uma
imagem pode ter vários significados. Depende de quem a observe https://bit.ly/3E95Juz
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