Crônica da terça-feira

A maior das invenções
Luciano Siqueira

Quando criança, frequentemente perguntávamos em nossa turma na Lagoa Seca, qual teria sido a mais importante invenção da humanidade.

A respostas variavam conforme o foco ocasional das nossas atenções.

O avião, por exemplo, sempre esteve em cotação alta.

Com tempo e a reincidência dessa brincadeira, fui me convencendo de que a melhor de todas as invenções depende da necessidade momentânea.

Desse modo, minha escolha esteve sempre variável conforme as circunstâncias.

A escrita sobre papel eu citei muitas vezes, mencionado a sua origem nos papirus egípcios.

O chopp bem gelado também compareceu algumas vezes em minhas respostas, em finais de sexta-feira com colegas da Faculdade de Medicina da UFPE.

Isto sem desconhecer referências à roda, à pólvora e à máquina a vapor quando o foco esteve colocado naquilo que teoricamente chamamos de evolução das forças produtivas.

Ultimamente tenho preferido eleger como grande realização humana aquela escova de cerdas plásticas e cabo resistente que se usa para lavar e limpar a hélice do liquidificador.

Explico e justifico.

Nas chamadas tarefas domésticas, sou reconhecidamente um bom lavador de pratos.

Lavar a louça e apetrechos é minha especialidade.

Gosto da empreitada porque enquanto lavo escuto música, ouço o noticiário ou simplesmente penso na vida.

Mas tem um detalhe que me desafia: como deixar impecávelmente limpa a parte interna do copo do liquidificador?

A dificuldade está justamente no manuseio da esponja para limpar a hélice sem se cortar.

É aí que ganha status de grande invenção da humanidade a dita escova de cerdas plásticas e cabo rígido. Mexo à vontade até perceber que tudo ficou limpo como quero.

Isso é muito importante para evitar a proliferação de microrganismos patógenos que podem produzir infecção intestinal, por exemplo.

Neste fim de ano frequentei duas casas cedidas por amigos para que pudéssemos reunir parte da família.

Em ambas não encontrei a tal escova. E ao forçar a barra com a esponja ganhei cortes superficiais nos dedos da mão direita.

De pronto, em meu ranking particular, o livro impresso e a rede na varanda, que haviam ganho status de invenções privilegiadas em disputa acirrada com as vacinas contra a Covid, desceram do pódio para darem lugar à escova ausente.

E assim ficou comprovado, mais uma vez, o quanto sou volúvel, indeciso e utilitarista em matéria de maior invenção humana.

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Veja: imagens da vida como ela é – ou como desejamos que seja https://bit.ly/3E95Juz