17 janeiro 2022

Crônica do domingo

Caminho curto engana

Luciano Siqueira

 

Nesta atribulada terceira década do século 21, tudo parece conspirar em favor do que se supõe "mais prático", no sentido de se obter o que se deseja pelo caminho mais curto.

Esse é o fascínio da informação em tempo real, via internet.

E das soluções práticas aparentemente descomplicadas.

Para o fazer rotineiro cotidiano pode até ser. Para compreender o sentido da vida, não.

Porque o mundo é muito mais complexo do que aparenta.

Por isso, Karl Marx advertiu que se a essência fosse igual à aparência não haveria necessidade da ciência.

E a ciência existe justamente para esclarecer o que não está facilmente visível. 

Ou aparentemente compreensível.

Vale para esse o infinito universo objeto de sofisticadas pesquisas e projeções matemáticas, vale para a engrenagem da sociedade humana e até para as relações interpessoais.

Sem querer complicar, a compreensão do que se passa na vida material e na consciência das pessoas nem sempre se alcança pelo caminho mais curto e em linha reta.

Frequentemente, para que a gente se entenda é necessário buscar pacientemente enxergar o que não estamos vendo por caminhos aparentemente labirínticos ou complicados.

Sim, pacientemente — sem ansiedade do tal "em tempo real" das plataformas digitais.

Livre de armadilhas algorítmicas.

Afinal, a razão está com o poeta Fernando Pessoa: "Navegar é preciso; viver não é preciso."

[Ilustração: Jakcson Pollak]

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De antenas ligadas no que acontece https://bit.ly/3n47CDe

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