O
talento começa na infância
Garotos deveriam ser mais bem
orientados para conviver com a frustração
Tostão, Folha de S. Paulo
Janeiro é o mês da Copinha, mês de os
garotos sonharem com o sucesso no futebol. Tudo é incerto. Alguns, mais
promissores e habilidosos, ficarão pelo caminho, enquanto outros, com menos
talento, serão mais vitoriosos.
Nos
anos 1960, não havia Copinha. Joguei, por Minas Gerais o torneio brasileiro de
seleções de base, em Volta Redonda, entre garotos de 15 a 20 anos. Como tinha
14, tive de ter uma autorização de meus pais e do Juizado de Menores para
participar.
Aos
16 anos, já era titular do Cruzeiro. Treinava de dia e
estudava de noite. Com 18 anos, tive de fazer uma difícil escolha, entre ser um
atleta profissional e estudar. Optei pelo futebol, pois já atuava pela seleção
brasileira. Aos 26 anos, parei de jogar, por causa de um descolamento
da retina, e realizei um sonho de adolescente, de ser um profissional
universitário. Na época de garoto, pensava que o futebol era apenas uma
diversão.
Os
garotos deveriam ser mais bem orientados pelos clubes, para conviver melhor com
a frustração e com o sucesso e para aprender outra atividade, ainda mais que o
tempo de atleta pode ser muito curto. Como dizia o grande craque Dirceu Lopes,
ninguém está preparado para a fama.
No
passado, a formação dos atletas começava nas peladas de rua, nos campos de
terra, com a bola de pano, depois, com a de borracha e, por fim, a glória, com
a de couro. Era uma brincadeira, sem regras e sem professores. Alguns acham que
esse período favorecia a formação de atletas com mais habilidade e
criatividade. Na adolescência, os jovens iam para as categorias de base dos
clubes, onde aprendiam posicionamento e jogo coletivo.
Hoje,
é diferente. Muitos meninos vão cedo para as escolinhas, com bons gramados e
professores, e aprendem as regras e o comportamento em campo. Chegam mais
prontos às categorias de base dos clubes. Por outro lado, existe uma crítica,
discutível, de que os meninos atuais aprendem a técnica muito cedo, sem o
adequado desenvolvimento psicomotor, o que prejudicaria a formação de craques.
É
óbvio que a tecnologia é essencial na formação das crianças e no
desenvolvimento do futebol, mas não deveríamos endeusar a ciência acadêmica
como explicação para tudo o que acontece no jogo. No mesmo raciocínio, temos de
cobrar melhoria na estrutura do futebol brasileiro, porém isso não diminui os
conceitos e as condutas ultrapassadas de muitos treinadores, desde as
categorias de base.
Assim
como dirigentes e treinadores, nós, analistas, temos de evoluir, depender menos
da audiência e das redes sociais.
Não
basta ter conhecimento científico sobre a preparação de jogadores, desde as
categorias de base. É preciso saber ensinar.
No
esporte e em todas as atividades, principalmente as ligadas à arte e à
inventividade, os grandes talentos começam a impressionar na infância. No futebol,
os maiores craques repetem, nas principais equipes e nos estádios do mundo, o
que faziam quando eram crianças, nas brincadeiras e nas peladas de rua.
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Imagens da vida como ela é – ou como desejamos que seja https://bit.ly/3E95Juz
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