07 fevereiro 2022

Crônica da quinta-feira

A fortuna ao alcance da mão

Luciano Siqueira


Quando visito lojas de antiguidade ou feiras de arte e artesanato, como a de San Telmo, em Buenos Aires, experimento uma certa frustração por não saber distinguir com exatidão o valor das peças.

Ou não perceber uma obra rara, eventualmente posta à venda.

Agora, fico sabendo, pelo noticiário da CNN, que "um desenho do século 16 de uma das principais figuras do Renascimento alemão foi avaliado em mais de US$ 10 milhões depois de ter sido inicialmente comprado em uma venda de garagem por apenas US$ 30 em 2017."

Trata-se da obra - “A Virgem e o Menino – de Albrecht Dürer, considerado o maior artista alemão de seu tempo.

O cara que a adquiriu jamais desconfiaria da verdadeira botija em suas mãos.

Puro acaso.

Será que algo não poderia ter acontecido comigo?

Ou até aconteceu, sem que percebesse – e por pura ignorância deixei de comprar algo a preço de banana que depois poderia ser revendido por muito dinheiro.

O registro cabe porque gosto de arte e de artesanato. Até artesão já fui, tendo aprendido o ofício no pavilhão dos presos políticos na Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá, no tempo da ditadura; e dele sobrevivi por uns dois anos e meio, já em liberdade e concluindo o curso médico na UFPE.

Fazia bolsas de couro.

Quanto a uma riqueza assim ocasional, confesso que nenhuma inveja tenho. Até porque jamais aprenderia a lidar com tamanha fortuna – mesmo destinando a maior parte à luta do povo.

O fato é que há milionários que se vangloriam de uma trajetória anterior de muito trabalho. Ou de esperteza.

Outros, que enaltecem a pura sorte.

Sigo pobre. Resta-me comemorar a felicidade pessoal.

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Onde a luta encontra a poesia e se expressa em imagens https://bit.ly/3E95Juz

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