Cirurgião por engano
Luciano Siqueira
Quantas vezes alguém estranho já falou
com você imaginando ser quem você não é?
O constrangimento a gente contorna de
algum modo. Uma ou outra frase evasiva quebra o galho.
E quando você é quem se engana?
Ao sair de uma consulta médica e ainda
nas dependências da clínica, o cidadão me cumprimenta com um sorriso largo, estatura
mediana, cabelos curtos repartidos ao meio, uns quarenta anos talvez, que me
parecia familiar, e de pronto antecipei minha saudação efusiva:
– Tudo bem, homem! Quanto tempo!
— É mesmo doutor, já faz um tempinho
que o senhor me operou...
(Epa! Não sou cirurgião. Logo, ele não
é quem eu imaginei que fosse...)
— Sim?
— Eu até estava querendo lhe fazer uma
pergunta.
— A correria é muito grande!...
(Minha resposta sem sentido foi a deixa
para que eu saísse dali rápido que nem míssil teleguiado).
Nem deu tempo do meu suposto paciente
fazer a tal pergunta, nem de pedir desculpas por tê-lo confundido com outra
pessoa.
Eu o confundi com quem?
Confesso que não sei, não tenho ideia.
Apenas me pareceu uma fisionomia conhecida.
Fico agora a imaginar aquele cidadão,
ao chegar em casa, comentando com a esposa e filhos, quem sabe, como lhe
pareceu estranho e apressado o cirurgião que, não faz muito tempo, o operou.
Da minha parte, ficam aqui registradas
minhas desculpas.
E a consciência de que a pressa é amiga
da precipitação. Bem que eu poderia ter tido a calma necessária e o tempo
mínimo para esclarecer que eu não era quem ele pensava ser.
Assim, pelo menos ele não teria ficado
com uma má impressão do dito cirurgião que eu não sou nem nunca fui...
.
O sentido dos fatos em poucas palavras https://bit.ly/3n47CDe
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