Morbidez que não me seduz
Luciano Siqueira
Vi apenas o título, confesso que não li
o texto. Mas exercito o meu direito à estranheza. Repulsa mesmo.
Trata-se de um curso de escrita
criativa focado em luto. Sofrimento e morte, creio.
Nada contra quem usa sua veia poética
ou seu talento em prosa ou o pincel para tratar de tema tão mórbido.
Certa vez Ariano Suassuna gastou alguns
preciosos minutos do seu tempo, em conversa descontraída comigo, para
demonstrar que o ideal da arte é a beleza.
Concordei.
E ainda me arrisquei a dizer que a
poética de Augusto dos Anjos, mórbida por natureza, exibe inquestionável
beleza.
Porém, sinceramente, não me atrai
aprender a escrever tendo como substrato a morbidez.
O mundo não vai lá muito bem. O sistema
capitalista imperante, mergulhado em crise estrutural profunda, espalha
desgraça por toda parte.
Guerras e fome.
Então, uma trincheira da resistência se
dá exatamente na preservação daquilo que Guevara defendia como estado de
espírito revolucionário: 'Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura
jamás.'
Esse modestíssimo escriba, que ao lado
de suas obrigatórias anotações acerca da dura realidade concreta e da luta
política para transformá-la — expressões da vida militante —, se arrisca em
crônicas quase diárias, dá-se ao direito de evitar a crueza da morte, da perda,
do desengano e da tristeza como temas.
Sim, pois ao lado da dureza da peleja prolongada pela transformação do mundo há espaço permanente para os traços mais
simples e belos da vida, como esse bem-te-vi que pousa agora na janela da minha
biblioteca aqui em casa, como para que para dar razão ao Che Guevara: não
devemos perder a ternura nunca.
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Veja: Onde a luta encontra a poesia https://bit.ly/3IxslYK
Gostei tanto! Realmente se há um caminho mais ensolarado, por que ir pela sombra?
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