27 maio 2022

Ciência: descoberta

Ninho de 80 milhões de anos: paleontólogos encontram ovos de titanossauro no Brasil pela primeira vez

Pesquisadores fazem estudo inédito da nidificação a partir da biologia evolutiva
Época

 

Pesquisadores do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas da Argentina (Conicet), em parceria com paleontólogos e geólogos brasileiros, fizeram o primeiro registro de um ninho de titanossauros no Brasil, estimados em 80 milhões de anos. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista "Scientific Reports" do grupo Nature. Os ovos foram encontrados em Uberaba (MG).

— Os titanossauros eram dinossauros herbívoros muito diversos e amplamente distribuídos em todos os continentes durante o Cretáceo (período que começou há cerca de 145 milhões de anos e terminou há cerca de 66 milhões de anos), mas com maior diversidade na América do Sul, principalmente na Argentina e no Brasil — explicou Lucas Fiorelli, um dos autores, segundo divulgação do Conicet nesta quinta-feira.

Para o pesquisador Agustín Martinelli, a descoberta "fornece evidências claras da primeira área de nidificação colonial de dinossauros titanossauros no Brasil".

Locais de nidificação de titanosauros já foram encontrados na Espanha, França, Romênia e Índia, mas os paleontólogos destacaram que essa descoberta no Brasil traz uma nova visão no estudo dos ovos fósseis, já que é a primeira vez, e explicitamente, que os ovos de dinossauros são estudados a partir da biologia evolutiva, numa abordagem que segue a metodologia sistemática taxonômica clássica.

— Seu sucesso evolutivo deveu-se, entre outras coisas, à sua grande adaptabilidade quase geral para nidificar colonialmente em vários ambientes. No entanto, a dependência direta de seu comportamento de nidificação desses ambientes ultraespecíficos, como paleossolos áridos, ambientes hidrotermais, entre outros, pode ter desempenhado um papel fundamental como fator de extinção no final do Cretáceo — afirmou Thiago Marinho, paleontólogo na Universidade Federal do Triângulo Mineiro, em Uberaba, e membro da equipe de pesquisa.

Os titanossauros foram do grupo de dinossauros com as maiores espécies que habitaram a Terra, inclusive alguns de grande porte na região de Uberaba chegaram a atingir até 25 metros de comprimento. Por outro lado, o tamanho dos ovos são bem menores, com cerca de apenas 12 centímetros em diâmetro.

— Na realidade, há uma limitação física e fisiológica para o tamanho dos ovos — disse Fiorelli. — Os titanossauros teriam sido coloniais e generalistas em seus aspectos reprodutivos, nidificando em um rebanho em uma área enorme, construindo ninhos maciços com dezenas de ovos, e possivelmente teriam comportamentos filopátricos, algo semelhante às tartarugas marinhas que periodicamente retornam para nidificar o mesmos locais.

Resultados de uma descoberta feita em uma mina de calcário abandonada em Ponte Alta, a 30 quilômetros do centro de Uberaba, na década de 1990, por João Ismael da Silva, funcionário da Fundação Cultural de Uberaba e técnico do Complexo Científico e Cultural de Peirópolis da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, permitiram à equipe determinar que os ovos recentemente descobertos pertencem ao grupo dos titanossauros.

Onde hoje é a cidade de Ponte Alta, eles devem ter adotado uma estratégia de nidificação soterrada e os ovos foram incubados em condições semiáridas específicas sob calor ambiente, afirmam os especialistas, marcando condições de nidificação que teriam sido comumente escolhidas por titanossauros durante o Cretáceo.

Foi em 1951 quando o primeiro fóssil do Cretáceo de Uberaba foi formalmente descrito: um ovo esférico atribuído a um dinossauro. Essa primeira descoberta promoveu pesquisas paleontológicas na cidade, tornando-se referência internacional no estudo de vertebrados fósseis do Cretáceo no que hoje é o território brasileiro. Após sete décadas de pesquisa desde a primeira descoberta, centenas de fósseis foram encontrados, fornecendo um vislumbre da vida no passado da região.

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O fato e a ideia https://bit.ly/3n47CDe      

Um comentário:

  1. Anônimo10:35 AM

    Um trabalho muito interessante, e deve haver muita adrenalina no paleontólogo para fazer um trabalho tão diferenciado que poucos conhecem .só ver em filmes de ficção.

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