Incerteza é uma das razões da
magia e da popularidade do futebol
Índice de 20% de resultados
inesperados é uma porcentagem muito alta
Tostão, Folha de S. Paulo
Uma das tarefas mais
importantes e difíceis dos treinadores e dirigentes é a contratação de
jogadores com qualidade, que não sejam caros e que tragam benefícios técnicos e
financeiros ao clube. Penso que alguns clubes contratam jogadores demais.
Alguns chegam para somar, como gostam de dizer. Outros, para subtrair. Ganham
muito e jogam pouco.
No
passado, havia os olheiros, amadores, com fama de descobrir jovens futuros
craques. Existem muitas lendas do futebol sobre isso. Com o tempo,
progressivamente, os olheiros foram substituídos por analistas de desempenho profissionais, científicos,
que ajudam bastante os treinadores nas decisões. Porém, mesmo com tantas
informações, as contratações, para dar certo, precisam de conhecimento
científico e também de fatores inesperados, de detalhes, objetivos e
subjetivos, que vão além do previsto.
A contratação de Hulk pelo Atlético foi, na época,
questionável, por causa do enorme investimento. Hulk, pela técnica, pela força
física, pela dedicação e pelas muitas facilidades que encontra, na média, no
Brasil e na América do Sul, tornou-se um dos principais ou o melhor jogador do país. Contra o Del Valle, fez dois belos gols, após dois passes
brilhantes do volante Allan.
A seleção é outro patamar. É discutível se Hulk deveria ou não ser chamado. Ocorre o mesmo com outros jogadores que atuam no país. O nível técnico, no Brasil e na América do Sul, é muito inferior ao da seleção brasileira e ao dos grandes times do mundo. Gabigol, nos melhores momentos, atuou algumas vezes pela seleção e não foi bem.
Nesta
semana, o Manchester City contratou o norueguês Haaland, sensação na Europa. Ele será o jogador que
vai fazer o City ficar melhor e ser campeão da Europa ou terá muitas
dificuldades de se adaptar ao time em que todos os jogadores do meio para a
frente são muito habilidosos e trocam muitos passes? Veremos.
Deve
dar certo, porque Haaland não se limita a ser apenas um pivô ou um finalizador.
Ele é veloz e costuma se posicionar na intermediária, com o corpo de lado, com
um olhar no passe e outro no posicionamento dos defensores, para receber a bola
na frente. Romário era mestre nesses lances.
Jogadores
como Romário, Haaland e outros contrariam os modernos conceitos neurológicos de
que o cérebro faz uma coisa de cada vez. São atletas especiais, com uma
inteligência espacial e cinestésica, capazes de, em uma fração de segundo,
calcular a velocidade da bola e a movimentação dos companheiros e dos
adversários.
Dizia-se
que Mbappé poderia ir ao Real Madrid. Se fosse verdade,
seria bom ou ruim para Vinicius Junior, já que Mbappé é mais completo que o brasileiro e também
joga melhor da esquerda para o meio? Vinicius Junior iria para a direita, para
ocupar o lugar de Rodrygo, outro excelente jogador.
As
grandes equipes do Brasil e do mundo contratam, cada vez mais, excelentes
jogadores e, com isso, diminuem as chances de perder para equipes inferiores.
Segundo o matemático Marcelo Viana, colunista da Folha, a Universidade de
Oxford, na Inglaterra, publicou, recentemente, um trabalho com 88 mil jogos de ligas europeias,
realizados entre 1993 e 2019. As vitórias das equipes nitidamente superiores
passaram de 60% para 80%.
Penso
que os 20% de resultados inesperados são ainda uma porcentagem muito alta, por
causa do grande número de partidas. Ainda bem. A incerteza é uma das razões da
empolgação, da magia e da popularidade do futebol.
.
O fato e a ideia https://bit.ly/3n47CDe
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