16 agosto 2022

Quem é quem no futebol

Precisamos valorizar os bons técnicos, mas os protagonistas são os jogadores

O grande craque vai além da técnica. Ele vê, antevê e transvê, imagina o jogo
Tostão, Folha de S. Paulo

 

Mesmo considerando que Abel Ferreira adotou uma postura defensiva correta, quando o time ficou com um a menos contra o Atlético, e que Cuca poderia ter colocado um centroavante para fazer dupla com Hulk, quando o Galo ficou com a superioridade numérica, se Jair ou Hulk tivessem feitos os gols que perderam quando ficaram diante do goleiro, a história seria contada de outra maneira. Cuca seria o herói, o craque do jogo, título dado a Abel.

Em minhas caminhadas diárias, quando converso comigo e com outras pessoas, um leitor me questionou, educadamente, por citar, com frequência, o Manchester City, o Liverpool e os técnicos Guardiola e Klopp como exemplos de equipes e treinadores e por falar pouco do Real Madrid e do treinador Ancelotti, campeões da Espanha e da Europa. O leitor tem razão.

Na quarta-feira, o Real, papador de títulos, ganhou a Supercopa da Europa, ao derrotar, por 2 a 0, o Eintracht Frankfurt, campeão da Liga Uefa. O Real mostrou a mesma escalação e a mesma estratégia da temporada anterior, ao alternar o domínio da bola com o contra-ataque, ao avançar e recuar, sístole e diástole, como nas batidas do coração. É a vida.

O Real está também repleto de ótimos jogadores e de craques, como o goleiro Courtois, o experiente trio no meio-campo, formado por Casemiro, Kross e Modric, e a dupla de atacantes, Benzema e Vinícius Júnior. Casemiro está cada dia melhor, no posicionamento, nos desarmes e nos passes, além de ser muito bom nas jogadas pelo alto, na defesa e no ataque.

Na prancheta, o Real Madrid joga como o Corinthians, com uma linha de quatro defensores, uma de três no meio-campo e outra de três na frente. Porém, diferentemente do Corinthians, os setores são compactos e conectados. No time brasileiro, os pontas são fixos e o centroavante fica isolado, como Robson Crusoé, sem WhatsApp.

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Ao contrário de várias das principais equipes brasileiras, que contratam muitos jogadores e mudam o time a cada partida, com a justificativa de que precisam poupar os atletas, o poderoso e rico Real Madrid possui um elenco pequeno, faz contratações pontuais, como a do excelente zagueiro alemão Rudiger, e escala, em todos os jogos, quase todos os titulares. Abel Ferreira e Fernando Diniz têm condutas parecidas, um dos motivos dos bons trabalhos.

Falta ao Real Madrid um bom reserva para Benzema. É difícil contratar um atacante bom, que não seja muito caro e que tope jogar muito pouco, já que Benzema está presente em quase todas as partidas, durante os 90 minutos.

Apesar de o Atlético não trocar tantos jogadores como outros times, como Corinthians, São Paulo e Flamengo, mesmo com um grande e bom elenco, festejado até pouco tempo atrás, superentusiasmado com a volta de Cuca, por detalhes, como os gols perdidos por Jair e Hulk e a derrota nos pênaltis, está fora da Libertadores, da Copa do Brasil e com pouquíssimas chances de ganhar o Brasileirão. Alguns até já estão com saudade do Turco Mohamed. A vida e o futebol dão muitas voltas.

Precisamos valorizar os bons treinadores, do Brasil e de todo o mundo, como Ancelotti, Abel Ferreira e Felipão, mas os grandes protagonistas do espetáculo são os jogadores, os especiais, os craques, como Benzema. O grande craque vai além da técnica. Parafraseando o poeta Manoel de Barros, a ciência não é capaz de medir o encanto de um craque. Ele vê, antevê e transvê, imagina o jogo. É preciso transver o futebol e o mundo.

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