A um
passo da coesão
Luciano Siqueira, no portal Vermelho www.vermelho.org.br
O fato insofismável
(como se dizia antigamente) é que a sociedade brasileira tem sofrido terrível
esgarçamento, que atinge as instituições, esfacela a estrutura econômica e
impõe ao povo, e mesmo parcelas expressivas da elite, um traço profundo de
insatisfação e perplexidade.
A ascensão de Jair
Bolsonaro ao governo central se deu na esteira de uma brutal campanha, encetada
sobretudo pelo poderoso aparato midiático dominante, tendo como vértice o
combate cerrado ao PT e às forças de esquerda e a negação da própria atividade
política.
E numa mescla mal
costurada de ultra liberalismo tardio e cultura do ódio (expressão
contemporânea do figurino fascista), Bolsonaro tem governado há quase 4 anos
sob a senha da destruição.
De tal modo que a
resistência democrática que vem se erguendo como contraponto ao desastroso
governo (e inevitavelmente interage com as eleições de outubro), ainda tem a
marca da dispersão.
Por muitas razões,
entre as quais o grau de destruição dos mecanismos de unidade e convergência que
o bolsonarismo, de modo explícito ou não tanto, vem alcançando.
Uma expressão disso
acontece agora, quando se multiplicam Manifestos em defesa da democracia sob a
iniciativa de diferentes instituições e entidades e setores da sociedade.
Em tese, convergem
para o mesmo objetivo — a resposta às ameaças golpistas cotidianamente
repetidas pelo presidente da República.
Mas dispersam
energias, pois se desaguassem em ações comuns provavelmente repercutiriam muito
mais no conjunto da população.
Hoje mesmo, quando
se tem a leitura solene da “Carta às brasileiras e brasileiros pela democracia”
na Faculdade de Direito da USP e ocorrem atos semelhantes em tradicionais
faculdades de direito pelo Brasil afora, muitas leituras do mesmo documento
acontecerão, concomitantemente, no mesmo horário, em outros ambientes das
mesmas cidades.
Em São Paulo mesmo,
três passeatas em locais distintos estão previstas.
E manifestos de
origens diversas, com semelhantes conteúdos, também se multiplicam pelo país
afora.
Nada mal, muito ao
contrário, pois todas essas iniciativas — como assinala o ex-ministro José
Carlos Dias, hoje, na Folha de S. Paulo — "representam reação à escalada
golpista de Bolsonaro".
É possível que a
partir das múltiplas manifestações de hoje se crie naturalmente o leito comum
da resistência.
Ou seja, talvez
estejamos a um passo da coesão.
Assim aconteceu em
outros momentos marcantes da luta democrática em nosso país, como na memorável
jornada pelas diretas já.
E ironicamente o
próprio bolsonarismo arrogante, agressivo e ameaçador — que tende a elevar o
tom no próximo 7 de Setembro - contribuirá para o ajuntamento e a coesão de
forças do amplo e diversificado campo democrático.
Não se trata,
obviamente, de algo que possa acontecer de maneira estritamente espontânea.
Implica a ação consciente de correntes políticas e agrupamentos sociais
consequentes.
Que assim seja.
Uma avaliação muito coerente. O momento é mesmo de unir forças para que possamos afastar o perigo que ameaça nossa democracia. Só os mal intencionados, os ignorantes, os alienados e os defensores da violência continuam defendendo esse desgoverno.
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