A construção coletiva das idéias é uma das mais fascinantes experiências humanas. Pressupõe um diálogo sincero, permanente, em cima dos fatos. Neste espaço, diariamente, compartilhamos com você nossa compreensão sobre as coisas da luta e da vida. Participe. Opine.
[Artigos assinados expressam a opinião dos seus autores].
- No debate da Globo, Ciro traduz toda a sua frustração de candidato derrotado fazendo coro com a direita e tendo Lula com o seu alvo principal. Lamentável.
- Para um indivíduo absolutamente avesso ao debate de ideias, como Bolsonaro, ouvir críticas e ser instado a se explicar é verdadeiramente uma tortura...
- Nunca tinha ouvido falar nesse padre Kelmon, do PTB. Que ridículo!
- Ciro é um cara experiente e deve ter uma boa assessoria. Por que tanta empáfia?
- Alguém poderia sugerir algum tema para debate no qual o atual presidente da República pudesse se dar bem?
- Esse padre Kelmon é padre mesmo!? Um provocador de baixíssimo nível. Qual regra permitiu esse cara participar desse debate?
- Infelizmente, um debate muito precário e anos luz de distância de alternativas concretas para a superação da crise do Brasil. A própria dinâmica estabelecida não ajuda.
- Que bate boca precário agora entre a candidata Simone e Bolsonaro! Qual o tema mesmo da pergunta? Pensei que fosse golpe de estado...
- Agora a cena deveria se chamar "o elogio à mediocridade e ao achincalhe": Bolsonaro pergunta e o tal padre responde.
- Modéstia à parte, reivindico para mim mesmo a medalha de ouro da paciência: passa de 1:30 da manhã e eu ainda estou aqui vendo o debate da Globo!
Pesquisa
Datafolha: Lula tem 50% dos votos válidos e mantém chances de vitória no
primeiro turno Há uma semana, o ex-presidente tinha mesmo percentual pelo cálculo
que exclui indecisos e votos brancos e nulos. Bolsonaro tem 36% Marlen Couto, O Globo
A nova pesquisa do Datafolha, divulgada nesta
quinta-feira, mostra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com chances
de ser eleito para um novo mandato já no próximo domingo. O petista tem 50% dos
votos válidos, mesmo percentual da semana passada. Já o atual presidente e candidato
à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), atinge 36% dos votos válidos no primeiro
turno, ante 35% na pesquisa anterior.
Pela margem de erro da pesquisa, de dois pontos percentuais para mais ou
menos, Lula teria de 48% a 52% dos votos válidos se a eleição fosse hoje. Só é
dispensada a realização de segundo turno caso algum candidato obtenha maioria
absoluta na votação marcada para 2 de outubro.
O cálculo dos votos válidos desconsidera brancos e nulos e os eleitores
que não responderam. A conta é comparável à utilizada pela Justiça Eleitoral na
hora da apuração oficial.
O candidato Ciro Gomes (PDT) tem 6% dos votos válidos. A senadora Simone
Tebet (MDB) chega a 5% por esse cálculo. Já Soraya Thronicke (União Brasil)
marca 1%.
Os apoiadores de Ciro e Tebet foram nas últimas semanas um dos focos da
campanha de Lula, que intensificou a busca pelo chamado “voto útil” para tentar
vencer a eleição sem a necessidade de uma disputa em segundo turno.
O ex-presidente angariou novos apoios na reta final da campanha,
inclusive de artistas que antes declaravam voto em Ciro. As investidas do
petista incomodaram o candidato do PDT e Tebet, que reagiram contra Lula em
discursos e propagandas na TV, no rádio e na internet.
Considerando os votos totais, Lula oscilou um ponto para cima e agora
tem 48%. Já Bolsonaro soma 34%, também um ponto a mais que na semana anterior.
Ciro marca 6% e Tebet soma 5%. Votos em branco e nulo são 3%. Outros 2% afirmam
não saber em quem votar. Na pesquisa espontânea, quando a lista de candidatos
não é apresentada, esse índice chega a 11%.
Leia também: Fake news sobre urnas,
pesquisas e TSE dominam retórica da mentira https://bit.ly/3BQHoup
O Datafolha questionou os entrevistados sobre
a decisão do voto: 85% dos eleitores estão totalmente decididos em que irão
votar para presidente, número que é puxada pelos eleitores de Lula e de
Bolsonaro. Os que dizem que ainda podem mudar de voto são 15%. Na última
pesquisa, na semana passada, 18% diziam que ainda podiam mudar de candidato.
Os eleitores com voto decidido estão em menor número entre os entrevistados que
apoiam Ciro e Tebet. Entre os que escolhem o candidato do PDT, 54% dizem estar
totalmente decididos, índice que é de 62% entre os hoje eleitores da
emedebista.
Ainda segundo o instituto, Lula é citado como
segunda opção de voto por 21% dos eleitores que ainda podem mudar de ideia. O
petista está empatado tecnicamente com Ciro, que é citado por 19%.
Vantagem de Lula entre mulheres e mais pobres
Nos estratos, Lula segue com vantagem em grupos que representam a
maioria do eleitorado. Entre as mulheres, o petista está 22 pontos à frente de
Bolsonaro (53% dos votos válidos a 31%). A vantagem cai para seis pontos entre
os homens (47% a 41%).
No eleitorado com renda familiar até dois
salários mínimos, Lula tem 32 pontos de vantagem nos votos válidos (59% a 27%).
Ao longo da campanha, não houve impacto do aumento do Auxílio Brasil para R$
600 e de outras medidas econômicas anunciadas pelo governo. Nas faixas com
maior renda, que têm peso menor entre os eleitores, o atual presidente tem
desempenho melhor. No grupo com renda de 5 a 10 salários, ele chega a 50% dos
votos, contra 35% de Lula.
O país também segue com votos distintos a
depender da religião do eleitor. Lula segue com vantagem entre católicos (57% a
29%), enquanto Bolsonaro lidera entre os evangélicos (53% a 32%).
No Sudeste, não houve mudança no placar. Lula
lidera com 45% dos votos válidos, contra 38% de Bolsonaro. O petista segue com
ampla vantagem no Nordeste (66% a 23%), enquanto o atual presidente agora
aparece numericamente à frente no Sul, com 46%, ante 41% de Lula. Os dois estão
empatados no limite da margem de erro para a região, que é de cinco pontos.
No Centro-Oeste, Bolsonaro tem 45% e Lula tem
41%. No Norte, o petista tem 45% e o candidato do PL marca 42%. Nas duas
regiões, os candidatos também estão empatados na margem de erro.
Rejeição
Ainda segundo a pesquisa, mais da metade do eleitorado (52%) não Contratado pela “Folha de S.Paulo” e TV Globo, o
Datafolha entrevistou presencialmente 6.800 eleitores de todo o país entre os
dias 27 e 29 de setembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para
um nível de confiança de 95%. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) com o número BR-09479/2022.votaria em Bolsonaro
de jeito nenhum. Os que dizem não votar em Lula somam 39%.
Já a avaliação do governo Bolsonaro ficou
estável. De acordo com o Datafolha, 44% dos brasileiros reprovam o governo. Os
que aprovam são 31%, e os que consideram regular são 24%.
O Datafolha também mediu um cenário de segundo
turno. Lula teria 54%, contra 39% de Bolsonaro. Na comparação com a semana
passada, o atual presidente variou um ponto para cima e o petista tem o mesmo
resultado.
TRAIÇÃO
COM DIGITAL EXPOSTA Enio Lins, tribunahoje.com
Briga familiar faz parte da história da luta pelo poder, em
todos os tempos. Roma, por exemplo, testemunhou o punhal de Brutus descendo
sobre seu padrinho César, nos idos de março do ano 44 a.C., e em junho de 1497
o assassinato de Giovani Bórgia gerou suspeitas sobre seus irmãos César e
Godofredo (os três eram filhos do Papa Alexandre VI). Não foram grandes
surpresas.
Na França moderna, talvez o grande escândalo político/familiar tenha sido a
reação da madame Le Pen às provocações machistas de seu ex-marido, que a mandou
arranjar uma colocação de empregada doméstica. Ela procurou a revista Playboy e
se propôs a fazer um ensaio erótico, nua, como numa faxina. Publicado na edição
de 10 de junho de 1987, sujou a carreira de Jean-Marie Le Pen, então astro do
neofascismo francês. Apesar da criatividade do gesto, alguma incisiva resposta
dela era esperada.
O clã do Jair se abalou com a guerra entre ele e a ex-esposa 02, Ana
Cristina Valle, que se sentindo lesada na separação, em 2007, acusou
formalmente Jair Messias de várias falcatruas, como lhe furtar um cofre de
banco, ocultar patrimônio, receber pagamentos não declarados e agir “com desmedida
agressividade”. Ela pediu apoio diplomático para deixar o País como forma de
garantir a própria vida. Em 2018, num acordo com o ex, voltou ao Brasil para
tentar a carreira política, sem sucesso até agora. Mas os conflitos do casal
eram notórios, sem surpresas.
Em Alagoas, o deputado Arthur Lira vive um tumultuado processo
pós-separação de Jullyene Lins, sua ex-esposa e atual candidata a deputada
federal, que apresenta um extenso rol de acusações – e que está impedida por
decisões judiciais de fazer essas denúncias durante a atual campanha –, mas
esse quadro também não é novidade.
Novidade mesmo é um pai tentar impedir a eleição do filho, até então
seu correligionário e apoiador. Luís teve Paulo como auxiliar na presidência da
Assembleia durante anos, depois o apoiou como seu substituto no Legislativo,
depois o prestigiou como governador-tampão, foi prestigiado de volta, e, sem
aviso, tentou um cavalo-de-pau na reta de chegada. O inesperado ataque tem a
digital bolsonarista bem visível, e não teve efeito significativo sobre a
liderança de Paulo Dantas, que segue como primeiro colocado, mas é uma prova do
que os seguidores do mito podem fazer em termos de golpes e traições –
inclusive familiares. [Ilustração: Amarildo]
Datafolha: Lula tem 50% dos votos
válidos e pode vencer no 1º turno. Lula, Bolsonaro, Ciro e Tebet
mantiveram as mesmas pontuações da semana passada, conforme o levantamento. Leia
mais https://bit.ly/3y5zooh
Violência: armas apontadas para elas Incentivo ao armamento e
corte de 90% das verbas para combate à violência doméstica são parte da receita
misógina de Bolsonaro. Assassinatos, ameaças e tortura dispararam. Hoje, 1 em
cada 4 homicídios de mulheres ocorre dentro de casa Carolina Ricardo e Natália Pollachi na Piauí
O país acompanhou
aterrorizado as imagens da execução de Michelli Nicolich, assassinada em São
Paulo na semana passada pelo seu ex-marido, Ezequiel Lemos Ramos, pai da
criança de 2 anos que ele também matou. O agressor era registrado pelo Exército
como CAC (categoria que inclui caçadores, atiradores e colecionadores) e já
havia sido denunciado por Michelli por ameaças de morte. Ele chegou a ser preso
preventivamente, e a delegada responsável pelo caso
solicitou corretamente a apreensão de duas armas que ele mantinha em casa, além da suspensão do registro de Ramos junto ao
Exército.
A legislação brasileira permite que, em caso de acusação de violência
doméstica, o registro de armas do denunciado seja imediatamente suspenso e que
seja solicitada a apreensão cautelar das armas. Tal possibilidade foi incluída
na Lei Maria da Penha em 2019, por meio da Lei n.º 13.880, cuja tramitação contou com
apoio de várias organizações da sociedade civil, entre elas o Instituto Sou da
Paz.
O agressor de Michelli, no entanto, teve a prisão preventiva convertida
em uso de tornozeleira eletrônica como medida cautelar alternativa. Assim que a
ex-esposa se mudou para São Paulo, esse uso não foi mais considerado necessário
pela Justiça. Quatro meses após o boletim de ocorrência de ameaça, ele viajou
mais de 1 mil km e usou uma terceira arma para cometer o duplo assassinato em
plena luz do dia.
Esse caso reflete muitas questões estruturais e urgentes do país. De
imediato, evoca a necessidade de colocar em prática políticas públicas
multissetoriais e constantes para reforçar a igualdade de direitos em um país
marcado pelo machismo estrutural. Graças a ele, nós, mulheres, ainda somos
vistas como cidadãs de segunda categoria, como propriedades das nossas famílias
ou companheiros, corpos à disposição, predestinadas a realizar o trabalho não
remunerado de cuidado doméstico e familiar que viabiliza o funcionamento da
sociedade.
O assassinato de Michelli Nicolich também explicita a necessidade
urgente de rever o descontrole no acesso a armas e munições. O governo
Bolsonaro desfigurou a legislação do setor por meio de decretos e portarias,
boa parte legalmente questionáveis (havendo decisões do STF que suspendem
parcialmente algumas das medidas). Os pronunciamentos públicos do presidente
incentivam uma corrida armamentista diária. O resultado é inquestionável: mais
que dobrou a quantidade de armas em mãos de pessoas comuns, especialmente as
registradas como CACs – que podem comprar maiores quantidades, tipos mais
potentes e não precisam justificar sua necessidade.
Ao mesmo tempo, o governo deliberadamente atrasou investimentos em
tecnologia de controle e fiscalização dessas armas. Isso fez com que até hoje
as polícias estaduais não possam consultar o sistema do Exército em que as
armas de CACs estão registradas. Já foi confirmado que o agressor tinha uma
terceira arma registrada em seu nome, possivelmente a arma usada no crime.
Independentemente de ter sido usada ou não, essa terceira arma não foi
imediatamente identificada e apreendida no momento da primeira denúncia pela
falta de acesso das polícias ao sistema do Exército – que, por sua vez, também
tardou a cooperar no fornecimento dessa informação.
Fiscalização eficaz e respostas rápidas são essenciais para mitigar
riscos. As mulheres brasileiras sabem que critérios objetivos para adquirir uma
arma, como não ter antecedentes criminais, ter um emprego fixo e ter feito um
teste psicológico até dez anos antes, não são garantias suficientes. Boa parte
das agredidas são vitimadas por ex-companheiros ou familiares, pessoas que
antes detinham sua confiança, o típico “cidadão de bem”.
Não é à toa que a rejeição da política armamentista é mais alta nesse
grupo. Enquanto o porte generalizado de armas é rejeitado por 83% do público, a
rejeição sobe para 88% entre mulheres, segundo pesquisa Datafolha realizada em
junho de 2022. Ao contrário do que afirmam seus defensores, a ampliação do
porte é apoiada por apenas 15% da população, uma pequena minoria composta
majoritariamente por homens, brancos e de alta renda – um perfil de
beneficiários que coincide com a maior base do atual governo e com a tentativa
de reafirmação de papéis tradicionais de gênero que as armas também carregam. É
simbólico dessa priorização que o mesmo governo que publicou mais de quarenta
normas para facilitar o acesso a armas tenha cortado em 90% a verba para
proteção de mulheres.
Essa
retórica armamentista e toda a indústria que dela se alimenta têm disseminado o
argumento, importado dos Estados Unidos, de que armas serviriam ao
empoderamento feminino, gerando super-heroínas invencíveis. Ocorre que essa
ideia não tem respaldo em dados de realidade, que indicam que mais armas geram
mais violência em cenários de desigualdade social e que as chances de reação
armada bem-sucedida são baixas. Funciona ainda menos em casos de violência
doméstica, situações de profunda vulnerabilidade psicossocial, dependência
econômica e baixa capacidade de reação em um duelo caseiro. Para fortalecer
essas mulheres, é preciso consolidar uma rede de apoio de políticas públicas
capazes de oferecer suporte psicológico, abrigo emergencial e capacitação
profissional para mantê-las longe do agressor, assim como um sistema de justiça
e segurança pública apto e eficiente para responsabilizá-lo.
Dados
do Ministério da Saúde indicam que 51% das mulheres mortas por
agressão foram vitimadas com armas de fogo e que 70% delas eram mulheres
negras. De 2012 a 2019, a proporção dessas mortes que ocorreu dentro de casa,
forte indício de violência de gênero, subiu de 1 a cada 5 casos para 1 a cada
4. Além das mortes, a arma dentro de casa é um forte elemento para a prática de
ameaças físicas e de violência psicológica, além de dificultar a ruptura do
relacionamento abusivo ou mesmo a denúncia por parte da mulher.
Com
o aumento da participação de arma de fogo na morte de mulheres por violência de
gênero, é fundamental disseminar a determinação da Lei n.º 13.880 para que as
armas dos agressores sejam apreendidas, que todas as delegacias passem a
aplicar a regra e que as mulheres saibam que essa é uma medida de proteção disponível.
Como os bancos de armas de CACs não estão disponíveis para as polícias
estaduais, é urgente que o Exército acelere essa evolução tecnológica e reveja
processos para garantir que todas as armas e autorizações de compra em nome de
acusados de agressão sejam identificadas e recolhidas. É importante também
entender se a Justiça poderia ter mantido o monitoramento eletrônico ou outras
medidas cautelares, considerando a gravidade das ameaças.
É
essencial entender e corrigir todas as falhas que resultaram no assassinato de
Michelli Nicolich. O Estado e o sistema de Justiça e Segurança por muito tempo
ignoraram ou negligenciaram a proteção de mulheres. Casos como esse não são
mais aceitáveis.
_________________
Carolina Ricardo e Natália Pollachi são,
respectivamente, diretora-executiva e gerente do Instituto Sou da Paz.
Leia também: Fake
news sobre urnas, pesquisas e TSE dominam retórica da mentira https://bit.ly/3BQHoup
Toda
eleição para cargos executivos é assim. Num dado momento, por boas ou más
intenções surge a cobrança do chamado programa de governo, em geral da
candidatura mais cotada para vencer.
Recordo-me do ex-governador Miguel Arraes, aliado do PCdoB, com
quem tive a oportunidade de conviver por 24 anos.
Em 1982, ainda pelo MDB (que então encarnava a frente ampla democrática de
resistência à ditadura militar), o senador Marcos Freire despontava como forte
candidato oposicionista ao governo do Estado.
Arraes não simpatizava com essa alternativa: "Cadê o programa?"
Quatro anos após, em 1986, ele próprio é que foi o candidato, eleito em
memorável campanha que marcou a história de Pernambuco:
"Programa? Não há necessidade, o povo sabe o que eu penso", dizia
ele.
Dois pesos, duas medidas conforme as circunstâncias. E a correlação de forças.
Agora a cobrança recai sobre Lula, que tem chances reais de vencer
o pleito presidencial talvez até já no primeiro turno.
A grande mídia, que circunstancialmente reforça a candidatura do ex-presidente
— Bolsonaro é o inimigo comum declarado —, diz-se desinformada sobre a proposta
programática do futuro governo da coalizão Brasil da Esperança.
Isso apesar da plataforma apresentada por Lula e Alckmin no início da campanha
e que vem ensejando proposições do conjunto da sociedade e de segmentos
organizados, através de plataforma digital.
Na verdade, colunistas e editorialistas, movidos pelos interesses do mercado
financeiro e do poderoso agronegócio, mostram-se inquietos em relação à
política econômica do futuro governo.
Desejam uma solução “frankenstein” para a crise: derrotar o
fascismo, mas conservar, na essência, o figurino neoliberal.
A cobrança é uma impropriedade, tanto porque programa de governo propriamente
dito só se estabelece quando o governante toma posse e se assenhora plenamente
da situação real que encontra, como porque, no caso específico da candidatura
de Lula, a agregação de novas forças à frente ampla que a sustenta prossegue
incorporando opiniões diversas.
Confirmando-se a vitória, pelo menos teoricamente se terá três
meses de transição do atual para o futuro governo. Tempo para pisar nas
condições concretas de governo e de decantar as proposições recolhidas.
Agora, bem que Lula poderia — ao estilo Miguel Arraes — ponderar: "Para
que antecipar um programa de governo se a nação já sabe o que penso e as
motivações dos variados apoios que recebo?"
Na verdade, como todo governo, o próximo será de intensa disputa
interna entre as forças que o comporão, tão amplas e diversificadas quanto
complexos são os problemas a serem enfrentados sob a consigna da reconstrução
nacional.
Voto útil em Lula já é realidade e
acentua crise na campanha de Ciro. Levantamentos internos já
apontam o risco de Ciro se desidratar ainda mais, a ponto de ser ultrapassado,
nesta reta final, pela presidenciável do MDB, Simone Tebet. Leia maishttps://bit.ly/3UHwvUl
Fake
news sobre urnas, pesquisas e TSE dominam eleição de 2022 Mentiras de 2018 focavam
questões morais, como 'mamadeira de piroca'; agora, sistema eleitoral é um dos
principais alvos Patrícia Campos MelloPaula SopranaRenata Galf,
Folha de S. Paulo
A
"mamadeira de piroca",
notícia falsa que marcou a eleição de 2018, deu espaço em 2022 para denúncias infundadas
sobre urnas e pesquisas eleitorais, conspirações sobre a TV Globo e a corte
eleitoral e o boato de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fechará igrejas
caso eleito.
Em
2018, a campanha foi dominada por fake news ligadas a questões morais e de
gênero, como a mensagem dizendo que mamadeiras com bico em formato de pênis
tinham sido distribuídas
em creches pelo PT e o boato da criação de um "kit gay"
pelo então candidato à Presidência Fernando Haddad para
doutrinar crianças.
Naquele
ano em que a avalanche de notícias falsas surpreendeu os eleitores e as
autoridades, montagens mostrando a ex-presidente Dilma Rousseff com o
ex-ditador cubano Fidel Castro e acusações de terrorismo contra políticos também
inundaram os grupos de WhatsApp, segundo levantamentos feitos pelas agências de
checagem Lupa e Aos Fatos, pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e
pela USP na época.
Já
em 2022, segundo mapeamento da Palver, empresa de tecnologia que monitora mais
de 15 mil grupos públicos de WhatsApp, as mensagens desinformativas que mais
viralizaram questionam de algum modo as urnas ou as autoridades eleitorais.
Uma
das mais compartilhadas de 15 de agosto, início da campanha, a 15 de setembro
dizia que o voto para presidente seria invalidado caso o eleitor não votasse
para os outros cargos. Outra narrativa afirmava que o ex-delegado da Polícia
Federal Protógenes Queiroz havia investigado as urnas eletrônicas e descoberto
que o PT nunca teria vencido às claras no Brasil.
Um
dos conteúdos falsos de maior circulação dizia que as urnas já estavam sendo
abertas e fraudadas em um sindicato ligado ao PT, em Itapeva: "Denúncia
urgente! Bomba! Urnas eletrônicas sendo modificadas dentro do Sindicato do PT
em Itapeva, São Paulo. A fraude sendo revelada antes da eleição".
Segundo
a Palver, com base no número de usuários que receberam a mensagem na amostra,
ao menos 130 mil pessoas foram expostas a ela.
Na
segunda-feira (26), o TSE esclareceu que, desde 2014, um cartório eleitoral de
Itapeva realiza o procedimento de carga e lacração das urnas do Sinticom
(Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário) por
falta de espaço no cartório, e que os funcionários que atuam no procedimento
foram contratados por licitação. Mas a ideia continua circulando.
No
Facebook, um vídeo da deputada federal Carla Zambelli (PL) sobre o sindicato
somou mais de 600 mil visualizações em menos de 24 horas.
No
YouTube, foram 84 mil. NoKwai, dezenas de
vídeos circulam com as imagens gravadas no local. Alguns deles vêm acompanhados
dos termos "golpe das urnas" e "fraude escancarada". O mais
viral tinha 194 mil visualizações.
Outro
discurso de destaque convoca apoiadores de Bolsonaro a enviar fotos dos comprovantes
de voto para determinados grupos de Telegram, um tipo de contagem paralela.
Já
um boato, cujas variações atingiram ao menos 20 mil pessoas, diz que a
totalização dos votos será fraudada para "apresentar números iguais aos
das pesquisas".
Ainda
há teorias populares dizendo que as urnas eram entregues na favela e carregadas
por garis; que 80% delas têm o código-fonte programado para adulteração; e que
o TSE reduziu o número de urnas para brasileiros que vivem no exterior, maioria
que seria eleitora de Bolsonaro, e ampliou nos presídios. O texto ainda incita bolsonaristas a
seguir o exemplo da invasão do Capitólio nos EUA, em 6 de janeiro.
"Em
2018, a desinformação tinha o objetivo construir a polarização, colocando de
forma antagônica temas que não estavam sendo debatidos dessa forma pelas
pessoas, causas feministas, questões LGBT", diz Fabrício Benevenuto,
professor de ciência da computação da UFMG e coordenador do projeto Eleições
Sem Fake.
"Em
2022, a polarização já está formada e a desinformação está
focada em atacar os candidatos e deslegitimar as eleições e as pesquisas."
Outra
diferença entre os dois pleitos é que, em 2018, a maioria das fake news
circulava em formato de imagem (59,7%), diante de 19,6% em vídeo, 12,5% em
texto e 8,2%, áudio.
Neste
ano, segundo a UFMG, a maior parte está em vídeo (37,3%), depois em texto
(32,9%), imagem (22,6%) e áudio (7,2%). O monitoramento também mostra vídeos do TikTok e
Kwai entre os mais compartilhados.
O
cenário ainda conta com amplo uso de redes de nicho, como Gettr, BitChute
e Rumble, usadas em especial pela extrema-direita, pontua Tai Nalon,
diretora-executiva do Aos Fatos, a partir de dados da organização.
"O
ambiente para a desinformação está mais fragmentado, porém muito mais amplo,
com mais lugares de distribuição do que em 2018", diz.
Há
quatro anos, eram poucos os grupos de esquerda. Agora, dados da UFMG mostram
que uma pequena parte dos conteúdos dos grupos desse espectro já aparece entre
os mais compartilhados —embora a direita ainda protagonize a disseminação de
fake news.
Outra
novidade de 2022 é a popularização dos deep fakes e de vídeos manipulados.
Entre os mais difundidos de 15 a 26 de setembro em grupos de WhatsApp
acompanhados pela UFMG está o deepfake em que o âncora do
Jornal Nacional, William Bonner, anuncia resultados falsos de uma
pesquisa Ipec que teria Bolsonaro à frente de Lula.
Segundo
Cristina Tardáguila, fundadora da Agência Lupa e diretora do International
Center for Journalists, a desinformação de 2018 estava no WhatsApp.
Agora,
é cada vez mais comum mensagens com links chamando para assistir a lives, ou
com vídeos, de youtubers, podcasts ou veículos de mídia favoráveis ao
governo, como Jovem Pan, Gustavo Gayer, RedeTV! e Record.
Nos
vídeos, diz Tardáguila, proliferam afirmações falsas sobre o processo
eleitoral, as urnas e os candidatos.
"São
conteúdos geralmente muito longos, que oferecem dificuldade para os checadores
verificarem, e as checagens não aparecem no mesmo espaço", diz. "E é
difícil as plataformas derrubarem um vídeo de três horas por causa de duas ou
três afirmações falsas."
Os boatos sobre a
Globo, o STF e de uma suposta perseguição
do PT a cristãos também ganharam tração na reta final. O
Monitor de WhatsApp da UFMG apontou que, entre os 10 textos mais compartilhados
no aplicativo, 3 diziam que Lula ataca cristãos e que fecharia igreja e
prenderia pastores, o associando ao ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, ao
demônio e a religiões de matriz africana.
IMAGENS,
VÍDEOS E MENSAGENS DE TEXTO DESINFORMATIVOS MAIS COMPARTILHADOS EM 2022
Lista é feita com base
em conteúdos que aparecem entre os mais virais dos levantamentos de Palver e
UFMG
·Título de eleitor falso com código de validação e QR-code
pró-Lula
Código no documento, que
nada tem a ver com o voto, transferiria voto para candidato do PT
·Imagens de manifestações a favor de Jair Bolsonaro com o texto:
#GloboLixo não engana mais –analistas políticos internacionais afirmam que
Bolsonaro passará de 100 milhões de votos
·Foto que mostra suposta fazenda da família do ex-presidente
Lula, que, na verdade, é a fazenda Nova Piratininga, que fica em São Miguel do
Araguaia, norte de Goiás
A narrativa falsa é de
2019
·Mensagem sobre bloqueio de bens do ex-presidente Lula: “A
Receita Federal está sendo impedida de agir. Lula quer impedir a Receita
Federal de avaliar o patrimônio que ele e Lulinha montaram com evidências de
mutretas”
·Suposto esquema de recebimento de recursos Grupo Globo para os
ministros do STF Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski
·Imagem manipulada em que Lula aparece beijando e abraçando
Suzanne von Richthofen
·Vídeo do youtuber Gustavo Gayer dizendo que o IPEC funciona no
mesmo endereço que a sede do Instituto Lula
O TSE determinou que
Twitter, Facebook e TikTok removam conteúdo do ar
·Vídeo de Bolsonaro no 7 de Setembro ao lado do empresário
Luciano Hang em Brasília
Divulgação foi proibida
pelo TSE e enquadrada como propaganda irregular devido ao uso de aparato
estatal
·Vídeo deep fake do presidente Lula em um comício, dizendo que
seus eleitores são vagabundos, traficantes e bandidos
·Vídeo deep fake de William Bonner anunciando falso resultado da
pesquisa Ipec com Bolsonaro à frente
·Montagem com a entrevista de Lula ao Jornal Nacional
·Mensagens sobre diversos tipos de fraude nas urnas
·Mensagens dizendo que Lula ataca cristãos, fecharia igrejas e
prenderia pastores
Associam o ex-presidente
ao ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, ao demônio e a religiões de matriz
africana, vistas de modo intolerante
·Vídeo atribuído à Ursa diz que TSE deixa parte do código com
erros propositais para que as urnas das localidades onde Bolsonaro tem mais
votos sejam substituídas
A Ursal não existe e
virou meme em 2018 ao ser citada por Cabo Daciolo como uma possível organização
de esquerda de países latinos
·Mensagens associando o ministro Alexandre de Moraes e o TSE a
conluios com a TV Globo para fraudar a eleição
CONTEÚDOS MAIS DIFUNDIDOS EM 2018
Lista feita a partir de
levantamentos da UFMG e da Lupa
·Montagem de foto mostrando “Dilma e Fidel em Cuba”
·Suposta ficha criminal de Dilma acusada de terrorismo
·Foto de parada gay em Nova York dizendo ser de pessoas ligadas à
TV Globo, afirmando que não votam em Bolsonaro
·Montagem mostrando supostas feministas fazendo sexo e defecando
em igreja
CONTEÚDOS DESINFORMATIVOS MAIS VIRAIS EM 2018 NO
FACEBOOK
Elaborado a partir de
levantamento da agência Aos Fatos
·Urnas eletrônicas que autocompletavam para o PT
·Kit gay –projeto Escola sem Homofobia idealizado pelo então
candidato Fernando Haddad seria usado para doutrinar crianças de 6 anos
O projeto era voltado
para o Ensino Médio e não foi adotado em escolas públicas
·Montagem antiga de uma capa da revista Veja, de 2014, com a foto
do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa pedindo para que os brasileiros não
votassem no PT
·Áudio falso do Padre Marcelo Rossi declarando apoio a Bolsonaro
·Postagem falsa dizendo que Haddad teria defendido em livro sexo
entre pais e filhos
·Mamadeira de piroca
Boato dizendo que
mamadeiras eróticas teriam sido distribuídas pelo PT em escolas