Duas táticas na reta final e a
ameaça de golpe
Luciano Siqueira, no Vermelho www.vermelho.org.br e no www.lucianosiqueira.blogspot.com
Noves fora complexas e atribuladas manobras e iniciativas dos
dois principais concorrentes à presidência da República, chegamos à reta final
da campanha com táticas diametralmente opostas, características da natureza
mesma dos projetos em conflito.
O conjunto das pesquisas, sem contar uma rodada do Datafolha
a ser anunciada hoje à noite, indica não apenas a consolidação da polarização
entre Lula versus Bolsonaro, como tendência à vitória do ex-presidente, podendo
até acontecer já no primeiro turno.
Tirante a carga emocional crescente do movimento pro
liquidação da fatura agora, a hipótese da vitória de Lula em 2 de outubro se
apoia tanto na crescente ampliação da diversidade e da amplitude dos apoios que
vem recebendo, como na suposição de que haja embutidas nas pesquisas tendências
de eleitores ditas "envergonhada", "oculta pelo medo" ou
"útil".
Nesse cenário, o presidente Jair Bolsonaro proclamou, em
improvisado discurso em Londres, onde compareceu para os funerais da rainha
Elizabeth, que vencerá no primeiro turno por larga margem "se as eleições
forem legítimas".
Parece estranho, mas não é.
É a tática que resta ao futuro ex-presidente, em franca
desvantagem: tumultuar o processo para conferir a chance de interrompe-lo
mediante golpe de força.
Dará certo? Provavelmente, não.
Mas a ameaça existe. E não deve ser subestimada.
Isto porque no outro extremo a candidatura do ex-presidente
Lula consolidou-se como expressão de uma ampla frente em defesa da democracia,
tão heterogênea que inclui entre os seus variados matizes liberais convictos e
influentes de mãos dadas com defensores de um projeto
nacional-desenvolvimentista adequado as circunstâncias atuais do mundo e do
Brasil.
Um arco-íris capaz de vencer e necessário para a
governabilidade diante da tremenda tarefa da reconstrução nacional.
Assim, enquanto Bolsonaro radicaliza suas diatribes, Lula
consolida a amplitude e a pluralidade.
Correndo por fora, as candidaturas de Ciro Gomes e Simone
Tebet também se diferenciam, tanto porque o pedetista segue apontando
prioritariamente sua metralhadora giratória contra Lula, não se sabe ao certo
com que a intenção; como porque a emedebista parece conformada com a provável
migração de parte de seus eleitores para o ex-presidente.
Considerados esses fatores, é possível concluir que estamos
na iminência de uma vitória do campo democrático e progressista sobre as forças da extrema direita.
Entretanto, há que se acoplar à disputa eleitoral
propriamente dita a mobilização social e política anti golpe. Inclusive
valorizando articulações em plano internacional no sentido de que, uma vez
anunciado pelo TSE o resultado do pleito, chefes de Estado dos cinco
continentes de imediato se pronunciem cumprimentando o vencedor e enaltecendo a
lisura do processo.
É como se estivéssemos conduzindo um valioso vaso de
porcelana chinesa milenar cercado de todas as garantias de conduzi-lo até o seu
destino, sem riscos de que caia ao chão.
Leia também: Bolsonaro e o
baile da Ilha Fiscal https://bit.ly/3eqD64I
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