08 setembro 2022

Opinião de Enio Lins

PUNHAL, FACA E FAKE

Enio Lins, tribunahoje.com

 

Atentado político com arma branca é raridade desde o surgimento das armas de fogo portáteis no século XV. Na história ocidental, o mais famoso dos crimes políticos com objeto perfurante/cortante, sem dúvida, foi o que matou Júlio César, nos idos de março do ano 44 a.C. No Brasil hodierno, entretanto, duas ocorrências de uso desse armamento milenar surpreenderam o País com 103 anos de distância entre uma e outra.

Jair Messias e Pinheiro Machado
, alcançados por arma branca, são personagens distintos e até antagônicos em aspectos fundamentais, apesar da semelhança entre atentados no tocante ao armamento usado. Pinheiro era um conservador, Jair é um reacionário – os conservadores querem a manutenção do status quo e os reacionários querem o retrocesso histórico. Pinheiro era um homem valente, Jair é um covarde.

José Gomes Pinheiro Machado, 
gaúcho de Cruz Alta, vivente entre 1851 e 1915, senador, aos 64 anos de idade era o político mais influente no País, foi responsável – entre outras coisas – pela “Política das Salvações”, implementada pelo presidente Hermes da Fonseca (apesar de se desentenderem quando da aplicação das medidas) em 1912 e que destronou as chamadas “oligarquias nordestinas”. Sua digital pode ser encontrada nas quedas dos Accioly, no Ceará, dos Rosa e Silva, em Pernambuco e dos Malta, em Alagoas.

Pinheiro Machado
 era um homem de comprovada coragem pessoal. Aos 15 anos, escapuliu da escola militar para lutar como voluntário na Guerra do Paraguai (1864/1870), onde se destacou pela bravura. Depois, se licenciou do Senado para combater na Revolução Federalista (1893/1894). Optou pela vida civil, mas foi distinguido com a patente de General, por mérito. Era rico por herança e não pairavam suspeitas sobre seu patrimônio. Senador pelo Rio Grande do Sul desde 1889, integrante do alto clero da política brasileira, ditava normas. Foi apunhalado pelas costas, mortalmente, sem chance de defesa, no dia 8 de setembro de 1915.

Jair Messias
 é um covarde juramentado. Nunca participou de combate de qualquer tipo e, embora fale grosso que é “treinado para matar”, miou em todas as ocasiões que poderia ter colocado em prática esse treinamento todo. Em 1995, no Rio de Janeiro, perdeu a arma, a moto, a carteira e o casacão de couro no que disse ser um assalto. Em 1997, segundo reportagem da revista Sexy sobre escândalos sexuais em Brasília, o ex-capitão então deputado federal teria apanhado de um capitão de verdade, Ivan Mendes – em público – no estacionamento da Câmara dos Deputados, sem esboçar reação. Em 6 de setembro de 2018, cercado por dezenas de seguranças, não conseguiu se defender de uma faca de cozinha – e existe forte suspeita de armação nesse “atentado”, o que é covardia maior ainda.

O mesmo tipo de arma, dois desfechos
: Pinheiro Machado queria ser presidente da República, mas uma arma branca o matou junto com seu sonho. Jair Messias iria perder a eleição, mas uma arma branca o elegeu presidente – para a desgraça do Brasil.

[Ilustração: Aroeira]

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