24 novembro 2022

Enio Lins opina

NO CENÁRIO MUSICAL LATINO, DUAS GRANDES PERDAS

Enio Lins, tribunahoje.com

 

Dois músicos referenciais se foram anteontem. Encerraram as carreiras e passam a ter vida eterna em suas gravações: Pablo Milanés e Erasmo Carlos. Um cubano, outro brasileiro, estilos distintos, idades aproximadas, Pablo com 79; Erasmo 81 – a mesma geração.

Erasmo Carlos cravou sua imagem com o programa Jovem Guarda, transmitido pela TV Record nos anos 60, juntamente com Roberto Carlos, seu parceiro e amigo-irmão (tinha gente achava que seriam irmãos mesmo, considerando o segundo nome, Carlos, como sobrenome). Era o “Tremendão” e fazia o papel de roqueiro pacífico, romântico, sem pedras a rolar. Aparentemente se dava bem com todo mundo e não se envolvia em polêmicas.

Pablo Milanés (a pronúncia, em português brasileiro, vai sendo escrita como Milanês, Milanez...) furou o bloqueio imposto à Cuba e chegou ao Brasil pelas mãos de Chico Buarque, inicialmente com “Yolanda”, depois sequenciado em parceria tríplice com Milton Nascimento em “Canción por la unidad latinoamericana”. Era um defensor da revolução cubana, sem deixar de fazer um rol de críticas ao governo da ilha, polemizou politicamente com o PC Cubano, mas antirrevolucionário jamais!

Lula e Alckmin se pronunciaram sobre a morte de Erasmo. Lula, em postagem no Twittter, fez referências elogiosas como “amigo de fé, irmão camarada, cantou amores, a força da mulher e a preocupação com o meio ambiente”; Alckmin disse, também por Twitter, que “a perda de Erasmo Carlos é sentida por todos os brasileiros”. Não foi noticiado se o futuro ex-presidente falou algo sobre a morte do “gigante gentil”, como Rita Lee chamava o amigo grandão.

Miguel Diaz-Canez, presidente de Cuba, tuitou (de Moscou, onde está em visita oficial) que “morre um de nossos maiores músicos, voz inseparável da trilha sonora de nossa geração”, enquanto o primeiro-ministro Manuel Marrero, de Havana, declarou que a cultura da ilha está de luto pela morte de um dos fundadores da Nova Trova Cubana.

Foram ambos artistas prolíficos. Erasmo Carlos gravou 30 discos, Pablo Milanés gravou 30 discos. Essa conta pode variar para mais quando se fizer um balanço mais detalhado da produção de cada um, afinal sempre escapa algo aos pesquisadores, e não se pode descargar a existência de gravações e/ou composições inéditas, quase sempre encontradas nos baús pessoais aqui ou ali.

Dois artistas do primeiro escalão da música latino-americana, que viveram intensamente décadas efervescentes neste lado do mundo. Cada qual a seu modo, inovaram em suas composições e modo de vida, souberam tocar milhões de corações e mentes.

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