Ação golpista mal
ensaiada
Luciano Siqueira
Não sei se é exatamente mal ensaiada. Pelo menos a juízo do quase ex-presidente Jair Messias Bolsonaro e dos membros mais íntimos do seu quartel general da desfaçatez e do ódio, provavelmente seria uma ação “inteligente”.
Tudo indica que o bloqueio de mais de 500 estradas pelo país afora, realizado por fragmentos da turba insana e
ensandecida é parte do golpe que enfim se frustrou.
Em breve saberemos exatamente o que
ocorreu no palácio da Alvorada nas 40 horas que antecederam o murcho
pronunciamento do presidente candidato derrotado, que durou pouco mais de dois
minutos.
Plausível é a hipótese de que o capitão
teria buscado apoios para uma tentativa de rejeitar o resultado das urnas e
instalar uma situação de anormalidade institucional.
A intensa disseminação de mensagens de
cunho golpista, no âmbito da realidade paralela alimentada pelas milícias
digitais, usou e abusou de referências ao artigo 142 da Constituição, na
interpretação tendenciosa bolsonarista a chave para que o presidente, com o
apoio das Forças Armadas e de uma banda do parlamento e das "ruas em
protesto", pudesse decretar ilegal o resultado do pleito.
Estaria assim instituído o ambiente
apropriado à permanência do capitão na chefia do governo e, numa versão amena
da trama golpista, a convocação de novas eleições.
Porém tudo falhou desde o início. O
presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lyra, se apressou no
reconhecimento da vitória de Lula, o mesmo acontecendo com o presidente do
Senado, Rodrigo Pacheco.
Depois, os ministros do STF foram
sagazes e consequentes ao só aceitarem o encontro com o presidente após este
fazer seu pronunciamento oficial, e assim mesmo os receberam na sede da suprema
corte ao invés de se deslocarem ao Planalto.
Antes formalizaram, em nota oficial, a
compreensão de que o presidente já havia reconhecido a derrota e autorizara
seus ministros a iniciarem a transição para o novo governo.
Assim, a persistência dos bloqueios de
estradas pelas exatas 72 horas consideradas condição sine qua non para o golpe,
estribado na interpretação fajuta do tal artigo 142 da Constituição, restou
como tragicomédia.
A invasão do Capitólio à moda
tupiniquim acaba hoje, ridícula.
Leia também: Lula tem respaldo jurídico para exigir dados e
cooperação técnica desde já https://bit.ly/3Du805j
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