23 novembro 2022

Pablo Milanés, presente!

Cultura perde Pablo Milanés, voz da resistência latino-americana

Compositor e músico de poesia e voz únicas, Milanés foi considerado o cantor da Revolução Cubana e teve na temática social uma de suas principais fontes de inspiração
Priscila Lobregatte, Vermelho www.vermelho.org.br


O mundo perdeu, nesta terça-feira (22), uma das mais belas e poéticas vozes da música latino-americana e da Revolução Cubana, o cantor e compositor Pablo Milanés. Pablito, como era conhecido em seu país, faleceu aos 79 anos em Madri, onde passou a viver desde 2017. Ele sofria de uma doença onco-hematológica e teve uma série de infecções nos últimos meses. 

Pelas redes sociais, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, que estava na Rússia quando recebeu a notícia, destacou: “Pablo morreu, lemos quando acordamos nesta terça-feira na Rússia, e a dor vem com a notícia. Um de nossos maiores músicos desapareceu fisicamente”. Díaz-Canel destacou ainda que a voz de Pablo é “inseparável da trilha sonora de nossa geração. Minhas condolências a sua viúva e filhos, a Cuba”. 

Além da grave doença, neste ano Milanés ainda teve de enfrentar a perda de Suylen Milanés, sua filha, vítima de derrame aos 50 anos. Ele tinha ainda quatro filhos: Lynn, Lyan, Haydée e Antonio.

Referência incontornável

Pablo Milanés nasceu em 24 de fevereiro de 1943 em Bayamo, em Cuba, e ficou conhecido por ser a voz que cantou a Revolução Cubana, além de ser compositor e intérprete de canções de luta que marcaram os anos 1960 e 1970. “Autor de uma obra monumental, este legado musical constitui uma referência incontornável da identidade e da cultura cubanas, e suas canções e interpretações magistral são, por direito próprio, parte da trilha sonora da Revolução Cubana”, apontou o site do jornal Granma, ao falar do artista. 

Milanés começou sua carreira em concursos de rádio e televisão locais, dos quais saiu vencedor algumas vezes, e estudou música no Conservatório Municipal de Havana. Em 1965 gravou seu primeiro álbum, Mis 22 años. Ao lado de Silvio Rodríguez e Noel Nola, foi um dos grandes nomes da Nova Trova Cubana e das canções de protesto que marcaram aqueles anos. 

Conforme lembrou o Granma, “seu legado musical está contido em mais de 40 álbuns que incluem músicas emblemáticas como El breve espacio, Yolanda, Cuba Va, Amo esta Isla e Comienzo y final de una verde mañana, entre muitos outros, assim como colaborações inesquecíveis com inúmeros músicos cubanos e com vários dos maiores artistas de Nossa América e de outras regiões”. 

No Brasil, uma das cações mais conhecidas foi Yolanda, que Milanés fez em homenagem à sua esposa quando do nascimento da filha Lynn, e que ganhou uma versão de Chico Buarque. Juntos, os dois artistas a cantaram em show no Rio de Janeiro, em 1983, originando o álbum Pablo Milanés ao Vivo no Brasil. 

Pelo Twitter, o músico brasileiro o classificou como “lendário” e citou trecho da música Cancion por la unidad latinoamericana, de autoria de Milanés:

“Quem garante que a História

É carroça abandonada

Numa beira de estrada

Ou numa estação inglória

A História é um carro alegre

Cheio de um povo contente

Que atropela indiferente

Todo aquele que a negue”.

Outros grandes nomes da MPB gravaram composições de Milanés, entre eles Milton Nascimento. Os três, aliás, se conheceram nos anos 1970, em meio à luta contra a ditadura militar brasileira. Milton gravou Canción por la unidad latinoamericana no álbum Clube da Esquina 2 (1978).

Meu melhor público

O talento de Milanés lhe rendeu reconhecimento e admiração nacional e internacional. O músico recebeu dois Grammys Latinos de melhor álbum de cantor e compositor (2006) e excelência musical (2015). Em Cuba, recebeu prêmios como a medalha Alejo Carpentier, em 1982, e o Prêmio Nacional de Música, em 2005; além da medalha Haydée Santamaría, em 2007, da Casa de las Américas por suas contribuições à cultura latino-americana.

A última apresentação de Milanés em Cuba aconteceu em junho, após três anos, para cerca de 10 mil pessoas. “Sempre disse que é meu melhor público”, declarou na ocasião. 

O jornal Granma noticiou, quando ocorreu o show: “Na apresentação, ele resolveu um aparente paradoxo: como, de um formato instrumental levado à expressão mínima, alcançar uma ressonância poderosa em uma esfera maciça. Será dito com razão que o trabalho de Pablo alcança, impacta e cresce em qualquer ambiente”. 

Na foto, Milanés com Chico Buarque, Djavan e Caetano Veloso, em 1986. Foto: reprodução/redes sociais Pablo Milanés

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