05 dezembro 2022

Os sentidos de "Araras vermelhas"

Cida Pedrosa lança “Araras Vermelhas” em homenagem à resistência contra a ditadura

Vencedora do prêmio Jabuti nas categorias Poesia e Livro do Ano em 2020, Cida Pedrosa apresentou seu livro em São Paulo
Hora do Povo

 

A escritora Cida Pedrosa, poeta de Bodocó, no sertão pernambucano, lançou o seu livro Araras Vermelhas nesta terça-feira (29). O evento aconteceu na livraria Megafauna, no centro de São Paulo, em formato de bate-papo com o escritor e professor de literatura Cristhiano Aguiar, além de amigos, leitores e políticos também presentes.

Autora de Solo para vialejo, vencedor do prêmio Jabuti nas categorias Poesia e Livro do Ano em 2020, Cida Pedrosa é também vereadora no Recife pelo PCdoB e fez questão de ressaltar que militância política nunca foi incompatível com a poesia, em especial em Pernambuco, “onde tem mais poeta do que gente”.

Em Araras Vermelhas, publicado pela Companhia das Letras, a escritora traz um poema intercalando a história da guerrilha do Araguaia, movimento de combate à ditadura na região amazônica, com suas lembranças da infância e juventude. “Eu me joguei na escrita, e esse livro é um longo poema onde intercalo esse fato histórico com as minhas memórias pessoais. Porque, apesar de estar lá em Bodocó, todo mundo que estava nesse país naquela época vivia a ditadura de alguma forma”.

“Eu nasci numa cidade que não tinha televisão. Eu morava num sítio que não tinha energia elétrica, não tinha banheiro. É desse lugar que eu vinha quando cheguei ao Recife. Foi um susto enorme. Eu via ruas pichadas com “tortura nunca mais! Volta Arraes”, “liberdade para os presos políticos”, e a pergunta foi: “Que diacho é isso?”.

“A ditadura me atravessou de maneira muito forte”, disse Cida, lembrando que fez da praça pública um local de denúncia contra a opressão. “Nós recitamos por mais de seis anos e era uma luta diária. Isso há 40 anos. É desse lugar que eu venho. Vendi o meu primeiro livro de mão em mão e tenho uma relação direta com pessoas ligadas à cultura que saíam do cárcere. Nós recitávamos na rua, muito jovens, e recebíamos aqueles que estavam saindo do cárcere, que também eram poetas”.  

Cida conta que a ideia do livro é também a de resgatar personagens do Brasil que foram “apagados” da história, que tiveram suas “cabeças cortadas” por aqueles que achavam que cortariam assim os seus ideais. “No Araguaia não foi diferente. Não bastava prender, torturar, executar. Tinha que fazer com que não existisse mais ninguém, tinha que aniquilar da história. Eu queria, com isso, fazer uma ligação com Tiradentes, Zumbi, Lampião”.

Ao mesmo tempo, conta a autora, “eu queria mostrar que a luta dos guerrilheiros do PCdoB, dos camponeses e tantos outros que estavam lá não estava isolada do que acontecia no mundo. Embora pareça que estava isolada, toda a América vivia algo parecido. Allende é eleito, deposto e assassinado. No Uruguai começa uma ditadura, na Argentina outra. Nesse período estava se encerrando o armistício do Vietnã, que nada mais é do que o absurdo autoritarismo dos EUA”.

Sobre o nome do livro, Cida conta que quando escreve gosta de saber a origem das palavras. “O livro ia se chamar ‘Canto para o Araguaia’, que era um nome muito ruim. E quando eu descobri que Araguaia significa rio das araras vermelhas eu enlouqueci. E esse livro se chama Araras Vermelhas, que são os guerrilheiros, que é o nome do rio Araguaia”.

A atuação política da poeta premiada passa também pela administração pública desde a década de 90. Chefiou áreas de direitos humanos, segurança cidadã, saneamento, meio ambiente e direitos das mulheres. Na gestão da Secretaria da Mulher do Recife, em 2018, recebeu o título de cidadã recifense, concedido pela Câmara Municipal. Em 2022 é eleita vereadora da capital pernambucana. ­­­

A dirigente nacional do PCdoB Nádia Campeão falou sobre a oportunidade especial de poder ter em São Paulo a poeta Cida Pedrosa. “Para nós, Cida é muita coisa ao mesmo tempo. É nossa companheira, nossa camarada da direção nacional, nossa vereadora do Recife, mulher combativa, é uma feminista, é a nossa poeta que encanta em todos os eventos que fazemos e, acima de tudo, é uma companheira muito generosa, espontânea e com muito carinho pela vida”, declarou.

“É uma satisfação muito grande receber a poeta Cida Pedrosa trazendo em poesia esse momento de resistência da história do Brasil”, afirmou Nivaldo Santana, também dirigente do PCdoB, durante o evento.

A literatura pode comover as pessoas com mais força do que uma tese https://bit.ly/3H1ecoJ

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