Quem cumprimenta quem ao amanhecer
Luciano Siqueira
Há diferença de classe
em tudo na vida. Para simplificar: a burguesia pensa e age de um jeito, a
classe trabalhadora de um jeito oposto, ou pelo menos muito diferente.
Claro que muita gente
da classe trabalhadora — assim chamamos o proletariado dos nossos dias — pensa
como a classe opressora e tenta agir como se a ela pertencesse.
É a dominação ideológica
da classe dominante. Desde Karl Marx Friedrich Engels a gente sabe disso.
Mas eu me refiro aqui
a uma espécie de comportamento diferencial meio que intuitivo.
Quer um exemplo?
Em nossas caminhadas
matinais aqui nesse minúsculo território do Recife que engloba os bairros
Graças, Aflitos e Tamarineira, Luci e eu costumamos cumprimentar as pessoas com
um simples "bom dia!"
Pois bem. Aí temos
uma clara distinção no comportamento "de classe".
As pessoas mais
simples — diaristas a caminho do trabalho, lavadores de carro, vendedores de
frutas, mungunzá e cuscuz, zeladores de edifícios, jardineiros, porteiros,
guardas municipais — invariavelmente retribuem nosso comprimento.
Mas aquelas que têm
toda a pinta da burguesia (de fato ou pretensa), 80% nos negam o cumprimento.
Conscientemente eu não, ao nos olharem de soslaio, parecem nos identificar como
intrusos em suas ruas e calçadas. Ou, provavelmente alguns nos reconhecem pela
militância política — o que dá no mesmo.
Cumprimentar ou não
as pessoas certamente é um diferencial psicológico infalível.
Infelizes são os que
negam ao passante um simples bom dia. Minha mãe diria que a esses faltam civilidade.
Eu penso que é discriminação "de classe" mesmo.
Felizes são os que,
mesmo às voltas com as agruras da vida simples e sacrificada, respondem ao
nosso cumprimento e abrem um sorriso de cumplicidade.
Um dia todos se
cumprimentarão solidariamente, sem rancor nem preconceito, quando a exploração
e a opressão de classes forem superadas.
Aí viveremos todos a
"festa de pão e rosas" a que se referia Diógenes Arruda.
E a uma só voz
compartilharemos a caminhada matinal com um sonoro “bom dia!”
O caleidoscópico tempo presente https://bit.ly/3Ye45TD
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