O drama e a esbórnia: tudo é mercadoria
Luciano Siqueira
Na tela do meu
smartphone, as principais manchetes d’Globo. Em destaque, a tragédia das chuvas
no litoral paulista e a notícia de que algumas belas mulheres que desfilaram no
carnaval escolheram o modelo de biquíni asa delta.
Os dois
acontecimentos ali, disputando entre si: o maior acidente climático de todos os
tempos na história do Brasil versus a vestimenta, ou a quase ausência dela, de
beldades (como se dizia no século XX) cuja existência eu ignorava.
É que o mundo gira, a
vida segue e o nosso ainda habitável planeta Terra esquenta — em todos os
sentidos, física e socialmente falando —, mas é carnaval e há espaço e tempo
para filigranas da vaidade humana.
Sem nenhum
preconceito, vale dizer, tento decifrar a razão para igual destaque para
ocorrências tão dispares.
Devem ser mulheres
famosas e de audiência própria, e é natural que desfilem em escolas de samba
que apostam tudo para conquistar o público — e os jurados.
E, de quebra, fazem o
merchandising de algumas marcas em evidência.
Na Parte I, Capítulo
1 de sua obra clássica 'O capital', Karl Marx demonstrou que o sistema
transforma tudo — inclusive vaidades e desejos — em mercadoria.
Então, marxista
convicto, vejo-me diante da evidência de que o filósofo revolucionário alemão
já previa a conversão de (supostamente) belas mulheres e sua pouca roupa, em
pleno sambódromo, em mercadorias de sucesso.
Lembro o dizer em uma
crônica de Clarice Lispector: "eu sempre soube de coisas que nem eu mesma
sei que sei".
Pois a essa altura da
vida eu não devia estranhar as duas manchetes contraditórias e geminadas d'O Globo.
Pierrôs e Colombinas são para sempre https://bit.ly/3Ye45TD
Excelente explanação/provocação Mestre. Esse formato dado pela mídia, tornando um produto "similar" essas duas notícias, contribuem para a banalização de situações que deveriam ser discutidas com mais seriedade e profundidade pela sociedade.
ResponderExcluirSe o Brasil fosse um país onde o coletivo predominasse sobre o individual, provavelmente a manchete seguinte (às consequências das chuvas no litoral paulista) seria sobre que Estados têm adotado políticas públicas de prevenção e quais outros apresentam riscos semelhantes ao do litoral paulista.
ResponderExcluirColo sempre, cada postagem eu aprendo co você, muitas ações estão a espantar mesmo.
ResponderExcluirBRAVO, querido amigo!
ResponderExcluirA vaidade se não passar do extremo se entrelaça com a beleza e ela realça nossos melhores detalhes com os produtos do capital. Acho de uma tristeza tamanha que muitas mulheres ainda não tenham acesso a estes produtos que realçam a beleza feminina nós tornando mais atraentes a nossos próprios olhares. Gostaria que todas tivessem acesso a maquiagem, a produtos de beleza, a cirurgias plásticas, a bons perfumes, a roupas com tecidos macios 100% algodão, linho puríssimo e por aí vai .. Mas esse acesso é pra poucas, infelizmente. Até o absorvente não querem dar o acesso as estudantes de periferia, avalie estas minhas colocações. Acho que o que está faltando é políticas públicas voltadas a nossas necessidades como mulher também que embora pareça só vaidade, nos ver arrumada, cheirosa, maquiada, nos torna casa vez mais belas e confiantes de nós mesmo. Assim eu penso! E sobre as desnudas eu não sairia quase sem roupa em um desfile de escola de samba mas quem quiser sair que saia. Kkkkkk... Apenas um comentário pessoal meu. Beijos amigo!
ResponderExcluirExcelente análise, Dr. Luciano, dessa complexidade "fabricada" e que serve como cortina de fumaça para os verdadeiros dramas sociopolítico-econômicos pelos quais fomos e somos "obrigados" a digerir em nosso dia a dia brasileiro, principalmente nesses últimos quatro anos em que viramos reféns da política neoliberal e da necropolitica bolsonarista !
ResponderExcluirEu marxista da vida toda, me atrevo a comentar alguém que tão bem sabe mostrar a atualidade do grande Marx
ResponderExcluirEu como marxista da vida toda me atrevo a comentar o meu prefeito preferido sobre a atualidade do grande Marx
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