05 fevereiro 2023

Nosso planeta

Como é o núcleo da Terra e como sua rotação afeta o planeta

BBC News

 

. O centro da Terra é um dos grandes mistérios da ciência. Nas últimas décadas, os cientistas começaram a ter algumas certezas sobre como é — e como se comporta — o coração do nosso planeta.
. Só que estudá-lo diretamente é impossível hoje: as pesquisas que chegaram mais longe conseguiram perfurar até cerca de 12 quilômetros de profundidade, e o núcleo do planeta está a mais de 5.000 km de distância.
. Há poucos dias, foi publicado um novo estudo cujas conclusões, se confirmadas, oferecem uma perspectiva diferente sobre o que está acontecendo nas profundezas da Terra — e como isso pode nos afetar.
. Os cientistas que realizaram o estudo acreditam que o núcleo no centro do planeta está desacelerando sua rotação ou pode até ter começado a girar no sentido oposto.
. Mas o que isso significa e que importância tem?
As camadas da Terra
. Para entender a nova teoria, é preciso recapitular primeiro o que se sabe sobre o centro da Terra.
. Os cientistas determinaram que a estrutura do nosso planeta é formada por três partes principais: a crosta terrestre (ou superfície), o manto e o núcleo.
. Uma maneira simples de imaginar essa estrutura é compará-la a um ovo: a crosta seria a casca, o manto seria a clara, e o núcleo seria a gema do ovo.
. Sabe-se que o núcleo interno é uma esfera de ferro e níquel com um raio de 1.221 quilômetros. Sua temperatura de 5.400°C é quase tão alta quanto a do Sol (5.700°C).
. Mas está a uma profundidade tal que se mantém como uma esfera sólida de metal.
. Pesquisas anteriores mostraram que o núcleo está separado do resto da Terra por uma camada externa de metal líquido, o núcleo externo.
. Isso significa que o núcleo interno pode girar de forma independente — e não necessariamente de forma sincronizada com o resto do planeta.
. Mas entender exatamente como ele gira tem sido alvo de debate entre os cientistas há décadas.
As mudanças no núcleo
. Ao observar ondas sísmicas causadas por terremotos, os cientistas conseguem ter uma ideia melhor do que está acontecendo no centro do planeta sem a necessidade de realizar perfurações.
. Os grandes terremotos acontecem na crosta terrestre, liberando energia pelo planeta, o que pode fazer tremer a superfície.
. Os cientistas Song Xiaodong e Yang Yi, da Universidade de Pequim, na China, estudam as ondas sísmicas há vários anos. Ao monitorar as trajetórias dessas ondas, eles descobriram que houve "poucas mudanças na última década".
. O estudo deles indica que a rotação do núcleo interno da Terra foi interrompida e que, ao longo das décadas, girou primeiro em uma direção e depois em outra, possivelmente em um ciclo.
. Segundo eles, a última vez que mudou de direção foi no início da década de 1970, e a próxima mudança ocorreria em meados da década de 2040.
. Assim, essa rotação coincide aproximadamente com as mudanças na duração do dia, que são pequenas variações no tempo exato que a Terra leva para girar sobre seu eixo.
Como isso nos afeta?
. As mudanças dentro do núcleo da Terra têm um impacto na superfície, onde vivemos. Elas têm a capacidade de alterar coisas como a navegação e, inclusive, a duração do dia, ainda que de maneira imperceptível.
. E isso se deve ao campo magnético.
. Nosso planeta está sempre girando no espaço e, em seu centro, o núcleo metálico da Terra também gira. Esses movimentos criam uma força magnética que envolve a Terra, ou seja, seu campo magnético.
. O campo magnético da Terra protege o planeta da radiação do Sol, mas também influencia a velocidade com que o planeta gira sobre seu eixo.
. Em outras palavras, pode mudar quão longos são nossos dias.
. O fato de os dias terem uma duração diferente ao longo do tempo não é, no entanto, novidade.
. "Graças ao registro geológico, e principalmente ao estudo das camadas de crescimento dos fósseis de corais, sabe-se que os anos no passado geológico duraram mais dias. Ou seja, a Terra girava mais rápido e, portanto, os dias eram mais curtos. No Mesozoico, os dias duravam 23 horas", explica o Instituto de Geociências da Universidade Complutense de Madri, na Espanha.
. Quando os dias ficam mais demorados, é apenas uma fração de milissegundo.
Mas é suficiente para que, assim como o ano bissexto, tenham sido necessários cerca de 27 segundos bissextos desde a década de 1970 para manter a precisão dos nossos relógios.
. Acredita-se que a velocidade de rotação da Terra sobre seu eixo tenha mudado continuamente ao longo da história devido à mudança na rotação do núcleo interno.
. O movimento do Polo Norte magnético da Terra acelerou tanto nos últimos anos que foi necessário realizar ajustes para a navegação de aeronaves comerciais e militares.
. Mas determinar o quanto poderia estar mudando nos últimos anos é algo que está em discussão por meio de pesquisas como as de Song Xiaodong e Yang Yi.
. Alguns cientistas sugerem, inclusive, que o trabalho desses pesquisadores seja complementado com mais estudos antes de se chegar a conclusões.
. O geofísico John Vidale, da Universidade da Califórnia, nos EUA, que não participou do estudo, afirma que "algo está acontecendo" no núcleo da Terra, mas são necessárias mais evidências.
. "Vamos descobrir, mas pode levar uma década", observou.
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