O futuro do Brasil na visita de Lula à China
Há
todos os ingredientes para poder desenhar, agora, o Brasil das próximas
décadas. Que a oportunidade não seja desperdiçada.
Luís Nassif/Jornal GGN
A
visita de Lula à China poderia ser o início de um projeto que nunca frequentou
as plataformas de governos petistas: o de desenvolvimento. O partido trouxe
para o poder, com Lula, o mais bem-sucedido projeto de política social da
história, reconhecido internacionalmente. Mas apenas dois projetos consistentes
de desenvolvimento.
O primeiro foi a Petrobrás com o pré-sal. Durante um bom momento,
a empresa garantiu o fortalecimento da indústria de base, dos centros de
pesquisa, ajudou a criar estaleiros. Foram adotadas políticas
desenvolvimentistas típicas, como o conteúdo nacional e políticas de estímulo a
pequenas empresas e a empresas inovadoras.
O
segundo foi o Programa de Desenvolvimento Produtivo (PDP), uma criação muito
mais da Fiocruz que do governo. Nela, utilizou-se o poder de compra do SUS para
negociar a transferência de tecnologia de multinacionais para laboratórios
oficiais que, depois, licenciava para laboratórios privados.
E foi só.
Foram criadas políticas de incentivo às montadoras, sem nenhuma
contrapartida, sequer a de metas de exportação ou manutenção de empregos. A não
ser com a PDP, jamais negociou-se o acesso ao mercado interno brasileiro – um
ativo de qualquer país ciente de seus interesses.
Agora, tem-se a China tratando o Brasil como foco preferencial
de seus investimentos. A partir daí, será possível negociar um conjunto de
contrapartidas. E, de posse delas, buscar o mesmo tratamento dos Estados Unidos
e da União Europeia.
Há dois bons exemplos históricos nos quais se mirar.
Um
deles, Getúlio Vargas explorando as disputas na Segunda Guerra Mundial. Outra,
JK, montando o modelo de atração da indústria automobilística. As pré-condições
eram, primeiro, ter um sócio brasileiro. Com isso, cooptou os grandes
financistas da época, como os Monteiro Aranha. O segundo, a criação de um
parque de fornecedores nacionais, oferecendo muito mais emprego e resultados do
que a montadora em si.
Agora, se está à beira de uma nova revolução industrial, da
indústria verde aos microchips. Com a nova guerra fria e os resquícios do
Covid, há um redesenho da cadeia global de fornecedores.
É hora de Lula aproveitar a experiência do BNDES e começar a
desenhar as contrapartidas fundamentais para um novo ciclo de desenvolvimento.
O país tem muito a oferecer: o mercado interno, o biossistema da Amazônia e do
Cerrado, metais fundamentais, como o lítio. Tem, também, uma enorme acumulação
de capital financeiro, após os anos de esbórnia patrocinados pelo Banco
Central. Ou seja, tem o pincel e as tintas. E conta com o prestígio
internacional de Lula.
Há todos os ingredientes para poder desenhar, agora, o Brasil
das próximas décadas. Que a oportunidade não seja desperdiçada.
O diferencial da China no mundo globalizado https://bit.ly/3YXKhmR
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