26 março 2023

Futebol inteligente

Talento é também a capacidade de tornar simples o que é complexo

Não se pode confundir o talento e a simplicidade com o vulgar
Tostão/Folha de S. Paulo

 

Antes de fazer meu curso de psicanálise achava que não entenderia as ideias de Freud, porque imaginava que eram muito complexas e que eu não tinha conhecimento para tanto. Com a ajuda do professor, fiquei surpreso, pela clareza dos textos, que diziam o que eu observava no mundo. Compreendi que até os mistérios da alma tinham uma lógica. Freud colocou ordem no caos.

Quando atuei ao lado de Pelé, percebi que uma de suas principais qualidades era tornar simples o que era complexo. Com poucos movimentos e gestos, Pelé chegava ao gol com facilidade, além de ter uma extraordinária técnica.

Quando me tornei colunista, crítico, voltei no tempo e tentei descobrir algo que, dentro de campo, Pelé tivesse dificuldades, que não fosse excepcional. Não consegui.

O grande escritor Graciliano Ramos dizia que escrever é a arte de cortar palavras e que as palavras existem para dizer, e não para enfeitar.

O talento vai além da habilidade, da técnica, da criatividade, da fantasia e das qualidades físicas e emocionais. É também a capacidade de tornar simples o que é complexo.

O artilheiro, como Cano, precisa de um, no máximo dois toques na bola para fazer o gol. A bola não procura o artilheiro, como diz o chavão. É o artilheiro que sabe antes dos outros aonde a bola vai chegar.

Os neurocientistas falam que é uma inteligência cinestésica, espacial, do movimento. Em uma fração de segundos, o jogador mapeia o que está em sua volta e calcula os movimentos e a velocidade da bola, dos adversários e dos companheiros. Nada disso adianta se o jogador não tiver uma grande técnica para finalizar.

Ver, compreender e agir https://bit.ly/3Ye45TD

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