20 abril 2023

Futebol: caem treinadores

Supervalorização de treinadores é a principal razão de tantas demissões

Eles não são os grandes responsáveis por tudo o que acontece em campo
Tostão/Folha de S. Paulo

 

Os treinadores das grandes equipes do Brasil e do mundo são quase sempre estudiosos, organizadores, conhecedores das informações, dos detalhes técnicos e táticos e ainda contam com a ajuda de especialistas nas comissões técnicas.

A ciência é universal. Existe um comportamento padronizado da maioria dos treinadores, que não significa que sejam iguais. A competência vai depender de outros fatores: da capacidade de observar, entender e comandar um grupo de atletas com posturas emocionais diferentes. Mais importante ainda para o sucesso de um treinador é a qualidade individual dos jogadores.

Alguns treinadores fogem do padrão habitual. Sampaoli é um desses. Depois de vários técnicos pragmáticos, que vêm o futebol como um jogo de xadrez, uma disputa de estratégias, o Flamengo tem um treinador diferente, surpreendente. Sampaoli é da escola do Loco Bielsa. Os loucos são bem-vindos. Sampaoli costuma brilhar ou fracassar. Nunca é mais ou menos.

O Palmeiras, como o Flamengo, precisa vencer o segundo jogo pela Libertadores já que os dois times perderam a primeira partida. O argentino Flaco López tem feito muitos gols, alguns belíssimos.

O jovem Endrick também tem balançado as redes. A expectativa principal não é se ele vai fazer ou não muitos gols, e sim se vai aos poucos se tornar um excepcional atacante, como nas categorias de base. Ainda é cedo para saber.

O treinador Abel Ferreira foi novamente expulso, merecidamente. A CBF está correta em orientar os árbitros para terem muito rigor contra a agressividade e o mau comportamento dos treinadores durante as partidas e as excessivas reclamações dos atletas. Essas posturas de técnicos e jogadores prejudicam bastante o espetáculo.

O Corinthians, que venceu o primeiro jogo da Libertadores, volta hoje a atuar, em casa. A partida contra o Cruzeiro pelo Brasileirão foi muito ruim, tediosa, sem intensidade e com raras chances de gols. O Cruzeiro, assim como na derrota por 1 x 0 para o Náutico pela Copa do Brasil, trocou muitos passes, mas de um jogador parado para outro, do lado. O time não avançava com a bola, não ultrapassava a marcação nem criava chance de gols.

Antes da partida, vários torcedores do Corinthians já pediam a demissão de Fernando Lázaro. No meio de semana escutei também, na imprensa, muitas criticas ao treinador por causa dos últimos jogos. Se o Corinthians não tivesse vencido o Cruzeiro, haveria grandes chances de ele ser demitido, o que é incompreensível, pois o time demonstra ter boas possibilidades de evoluir. Falta mais intensidade, mais pressão para recuperar a bola, deficiência ainda frequente no futebol brasileiro.

É indiscutível a enorme importância dos treinadores. Por outro lado, existe um pensamento generalizado, viciado, equivocado de que os técnicos com as suas estratégias de jogo são os únicos ou os grandes responsáveis por tudo o que acontece em campo, nas vitórias ou nas derrotas. Pequenas condutas técnicas, rotineiras, passam a ter um grande significado. Essa supervalorização é a principal razão de tantas demissões de treinadores. Falta o tempo necessário para que haja um entrosamento da equipe.

As pessoas ignoram outros detalhes decisivos, objetivos e subjetivos, como a imprevisibilidade do futebol e as ações, gestos técnicos e as escolhas feitas pelos jogadores.

O futebol é uma mistura de arte, ciência e acasos. Não existe arte sem técnica nem ciência sem imaginação, criatividade.

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