15 abril 2023

Futebol: opções táticas contam

Atuação do Fluminense contra Flamengo foi histórica, a não ser esquecida

Mas os Estaduais não têm mais a importância e o nível técnico de outras épocas
Tostão/Folha de S. Paulo

 

Na coluna anterior, escrevi que, na vitória do Real Madrid sobre o Barcelona por 4 x 0, as conexões da mente com o corpo entre Vinicius Junior, Benzema e Modric foram celebrações da arte, da beleza e da eficiência ao se jogar futebol. A mente fala pelo corpo. O mesmo ocorreu com o Fluminense, na goleada por 4 x 1 sobre o Flamengo.

Enquanto a maioria dos times do mundo usa a estratégia posicional com dois jogadores próximos às laterais para ampliar a distância percorrida pelos defensores de um lado a outro, o Fluminense desloca Arias da direita para o centro e Marcelo da esquerda para o meio, para ter superioridade numérica, trocar passes e envolver o adversário.

Como o Flamengo atua com três zagueiros e dois alas, deixa apenas dois jogadores na intermediaria, na marcação pelo centro, o que facilitou para os muitos jogadores do Fluminense trocarem passes em direção ao gol.

O Fluminense foi brilhante pela maneira especial de jogar e pelos muitos talentos individuais. Fernando Diniz, com o primeiro título conquistado na sua carreira, ganha mais prestígio. A partir de agora será menos criticado nas derrotas. Porém não se tornou um gênio, como já dizem. Menos, menos. Todos os profissionais devem ser avaliados pela média de suas atuações após médio ou longo prazo.

O Flamengo já está atrás de Jorge Jesus. A sua contratação poderia ser benéfica por aumentar o número de vitórias e até de derrotas, porque, definitivamente, haveria uma exorcização do fantasma Jorge Jesus, que aflige o time há anos.

Se o Flamengo tivesse ganhado o campeonato, os comentários já estariam prontos: que Vitor Pereira acertou ao poupar jogadores mesmo na derrota pela Libertadores e que Fernando Diniz errou ao escalar um dia antes todos os titulares.

Já o Palmeiras agiu corretamente ao colocar todos os reservas na altíssima altitude da Bolívia, já que haveria uma grande chance de derrota mesmo com todos os titulares.

O Palmeiras continua ganhando títulos. O time, que já é coletivamente o mais forte do Brasil e o que tem individualmente a melhor equipe titular, caminha para possuir também o elenco mais talentoso, por ter uma gestão séria e eficiente, dentro e fora de campo. O Palmeiras não joga dinheiro fora em contratações, investe bastante nas categorias de base e cada vez mais forma ótimos jogadores. Abel sabe o momento certo de colocar os jovens em campo.

O Atlético-MG vive uma confusão paradoxal, maluca. Ao mesmo tempo em que comemora o título estadual e a classificação para a fase de grupos da Libertadores, passa por uma grande turbulência com as críticas de Coudet à diretoria. As reclamações do técnico deveriam ser feitas ao clube, não em entrevistas à imprensa. Por outro lado, as queixas do técnico sobre contratações são corretas, já que o elenco atual é inferior ao de anos anteriores, quando o Galo conquistou grandes títulos.

Todos os campeões estaduais merecem aplausos. As festas das torcidas foram belíssimas e emocionantes. É salutar desfrutar desses momentos. Porém, não se pode perder o senso crítico. Os estaduais não têm mais a importância e o nível técnico de outras épocas. Há um exagero nas avaliações e elogios aos times, jogadores e à qualidade das partidas. O futebol que se joga no país, na média, está longe do nível técnico do visto nas principais equipes do mundo.

Por outro lado, a beleza e a atuação empolgante do Fluminense contra o Flamengo é histórica, para nunca ser esquecida. Parafraseando o ótimo narrador Paulo Andrade, da ESPN, "que time é esse?".

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