05 abril 2023

Nivaldo Santana opina

Grande política também é o trabalho de base

Como conciliar o aumento da representatividade sindical do PCdoB com a elevação do trabalho de construção partidária é o grande desafio.
Nivaldo Santana*/Vermelho www.vermelho.org.br

 

Em sua obra clássica “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”, Lênin sistematiza a experiência vitoriosa dos Bolcheviques e aponta as três condições básicas que sustentaram a disciplina partidária:

a.    Consciência da vanguarda proletária e sua fidelidade à revolução;

b.    Capacidade de ligar-se às mais amplas massas trabalhadoras e não trabalhadoras;

c.    Justeza da linha política, da estratégia e da tática, com a condição de que as mais amplas massas se convençam disso por experiência própria.

Este tripé traz à tona os debates ocorridos no Partido em que se propõe o deslocamento do centro de gravidade da organização para o trabalho de base. A bola da vez, portanto, é transformar a organização de base em grande política.

O Partido é dotado de um programa socialista renovado, tem produzido orientações táticas justas, nossa capacidade de diálogo com as mais amplas forças sociais e políticas é um fato. Tudo isso é muito bom e indispensável.

Mas, como escreveu nosso camarada Luciano Siqueira, “ao observador atento não escapa a discrepância entre a importante e consistente influência dos comunistas no seio da frente ampla e a sua reduzida força orgânica”.

Analisar as causas deste fenômeno é o grande desafio posto aos comunistas. Para tanto, vale lembrar o que Marx dizia: “os filósofos têm interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”.

Onde estamos falhando na nossa tarefa de ligação com as massas? Quais as medidas políticas e organizativas que devemos perseguir para superar esta lacuna? São perguntas fáceis de fazer e difíceis de responder.

Por sua natureza de classe, o Partido deve colocar no centro a estruturação entre os trabalhadores. Para tanto, precisa, entre outras coisas, estudar as mudanças na organização do trabalho e seus impactos na subjetividade do trabalhador.

Para além de compreender melhor os novos métodos de organização e gestão do trabalho, é necessário considerar que, na atualidade, existem vários tipos de relações trabalhistas e vários espaços e situações de exercício da atividade laboral.

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Essa situação nova impacta tanto a construção partidária como a atividade sindical. Por isso, é imprescindível elevar a qualidade militante para conquistar corações e mentes e redobrar os esforços para desenvolver a consciência de classe do trabalhador.

A experiência aponta que existem diversas frentes de atuação de massa que, de uma forma ou outra, dialogam com os trabalhadores. Esse trabalho pode se dar nos bairros, nas escolas e em outros espaços onde o trabalhador exerce sua sociabilidade.

O trabalho sindical, todavia, é o meio mais eficaz para ligar o Partido com os trabalhadores. Do ponto de vista classista, os sindicatos são a principal organização de massa que o Partido deve priorizar na estruturação entre os trabalhadores.

Se esta opinião é verdadeira, precisamos passar em revista as atividades da frente sindical. As lutas e mobilizações pela conquista de direitos devem contribuir para o desenvolvimento da consciência de classe.

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O grande desafio é combinar duas variáveis interdependentes: avançar na organização sindical sem se descuidar da organização partidária. Em bom português, dar um salto de qualidade na organização dos trabalhadores é avançar no crescimento do Partido.

Esse movimento pressupõe a passagem da consciência sindical para a consciência política e daí para os compromissos orgânicos e ideológicos com o Partido. Este é o nó górdio a ser desatado.

Em diversos casos, provavelmente na maioria, há uma imensa brecha entre a organização sindical e a organização partidária. Os sindicatos de orientação classista têm por definição priorizar a ação de massas. Por isso, precisam de boa organização.

Ocorre que a boa organização sindical, com assembleias massivas, organização nos locais de trabalho e grande capacidade de luta e mobilização não necessariamente preenche plenamente os requisitos de um trabalho político mais avançado.

Em nosso trabalho sindical, temos cunhado a expressão “pirâmide invertida” para diagnosticar um fenômeno de organização: cabeça grande, tronco raquítico e membros atrofiados. Em linguagem popular, muito cacique para pouco índio.

Todo sindicalista sabe que para manter a hegemonia na categoria é preciso ampla aceitação das bases para a direção sindical. Por isso é importante eleger cipeiros, delegados, representantes sindicais, comissões de empresa, etc.

Essa militância sindical organizada é imprescindível, mas insuficiente para um trabalho de base politizado, de qualidade superior. O obstáculo a ser transposto é transformar as bases sindicais, ou boa parte dela, também em bases partidárias.

A luta sindical de orientação classista em defesa do emprego, do salário e dos direitos se apoia, pelo menos, em três pilares básicos: forte organização de base, capacidade de mobilização e politização dos trabalhadores.

As lutas espontâneas são o embrião da consciência de classe. Essas lutas precisam evoluir, no entanto, para que os trabalhadores compreendam que o Partido é necessidade histórica para a superação do capitalismo e a conquista do socialismo.

Para cumprir com êxito essas tarefas, todas as ferramentas devem ser utilizadas. As lutas e mobilizações devem vir acompanhadas de cursos de formação, palestras, debates, seminários, comunicação ampla pelas redes sociais e por materiais impressos.

A construção partidária entre os trabalhadores é tarefa complexa, demorada. Não se pode resolver tudo do dia para a noite. Perseverança, criatividade, plasticidade na abordagem são requisitos essenciais.

Todo este trabalho precisa ser planejado. Um bom planejamento deve ser claro e objetivo, ter metas, meios de alcançá-las e avaliações periódicas. Planejamento bom é o que dá certo, mostra resultados tangíveis.

Nesse planejamento deve constar novas filiações, periodicidade de reuniões, cursos, contribuição militante, formação de novos quadros, atração crescente de jovens e mulheres. Estes indicadores são importantes termômetros do crescimento partidário.

Além desses indicadores, a experiência do Brasil mostra que o desempenho eleitoral do Partido é considerado o principal instrumento de avaliação de sua capilaridade organizativa, de seu enraizamento social e de sua influência entre as massas.

Quando se analisa a trajetória eleitoral declinante do Partido e o desempenho abaixo das expectativas de candidaturas vinculadas ao sindicalismo, podemos ter várias causas, mas uma causa maior é recorrente: inserção social e política insuficiente.

A votação dos comunistas exibe o grau de enraizamento social do Partido. Não há relação direta entre o trabalho sindical, no seu sentido estrito, e o desempenho nas eleições. O problema é de outra dimensão.

Como hipótese para debate, podemos sugerir que a votação das candidaturas de sindicalistas expressa, principalmente, mas não apenas, o baixo grau de politização da base, uma defasagem entre a influência sindical e a influência política.

Nas últimas quatro décadas, o trabalho sindical dos comunistas tem crescido. Das Conclats nos anos 1980, passando pela organização da Corrente Sindical Classista e, agora, protagonizando o crescimento da CTB, é crescente a trajetória comunista.

O mesmo não ocorre, no entanto, com a organização partidária entre os trabalhadores. Como conciliar o aumento da nossa representatividade sindical com a elevação do trabalho de construção partidária é o grande desafio.

A vida ensina que não existe soluções simples para problemas complexos. Mas, neste particular, vale o ensinamento de que é melhor acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão.

Todas estas questões devem fluir com força na frente sindical e de todo o coletivo partidário. Todos estão convocados para opinar.  A palavra de ordem é transformar em mantra a consigna de que “a grande política da atualidade é o trabalho de base”.

Para tratar destas questões, foi convocado o 9º Encontro Sindical do PCdoB, a ser realizado nos dias 16 e 17 de junho deste ano, em Salvador. Será uma oportunidade ímpar para jogar luzes no caminho da estruturação do Partido entre os trabalhadores!

*Secretário Sindical do PCdoB e secretário de Relações Internacionais da CTB

A luta política na base da sociedade https://bit.ly/3FZNuve

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