05 maio 2023

Enio Lins opina

A ilógica cara-de-pau do mito da criminalidade “do bem”

Enio Lins www.eniolins.com.br

 

Certas ocorrências comprovam o clima de surrealismo tresloucado vivido pelo Brasil, onde parece que procedimentos e reflexões com base de velha e boa lógica simplesmente foram para a lata do lixo da consciência humana. Nonsense puro.

Diz-nos os dicionários disponíveis na rede: “Nonsense é o substantivo em inglês que significa sem sentido, absurdo ou contrassenso e indica manifestações contrárias à lógica”. Tempo houve que esse estrangeirismo era de uso corrente na mídia brasileira.

Apois não é que agora o clima de nonsense domina um enorme conjunto de atitudes, permeando manchetes, raciocínios, reportagens inteiras na nossa imprensa – sem falar nas redes sociais ultrapoluídas pelas tais fakes news.

Manifestações contrárias a lógica se encontram a mancheias. Exemplo: a prestigiada revista Fórum publica matéria dizendo que um cidadão que postou mensagem se vangloriando de ter cometido um assassinado “pode ser investigado por homicídio”.

Como assim? O cara divulgou imagens da vítima que acabara de assassinar, relatou como matou a quem acusou de ladrão, assumiu o homicídio praticado, tudo postado por várias fontes e ao vivo – e “pode ser” investigado por homicídio???

O homicídio aconteceu no dia 25 de abril, em São Paulo. Segundo a Gazeta de Limeira, citando a Secretaria de Segurança Pública paulista, o caso foi registrado como “furto e morte suspeita/acidental no plantão do 78º Distrito Policial”. Acidente? 

Nesse mesmo período, noutra pauta, assume ares de “debate democrático” a tentativa de liberar – nas redes – os crimes de calúnia, difamação e injúria, além da manutenção livre de grupos terroristas (como os que defendem atentados contra escolas).

Pois o chamado “PL das Fake News”, projeto de lei que tenta responsabilizar essa criminalidade que infesta os meios virtuais, passou a ser alvo de uma campanha cara-de-pau que defende esse tipo de crime (muito) organizado como “liberdade de expressão”.

Um êxtase delinquente, onde matar, mentir, sonegar, roubar... passou a ser mantra para uma razoável parcela da população que se orienta pelo bolsonarismo, desde que em benefício dos “homens de bem” e “patriotas”. Nonsense puro, cinismo radical. [Ilustração: Francisco Goya]

A inteligência artificial pode nos condenar ao tédio bit.ly/3zSTW3C

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