27 maio 2023

Tentativa de fraude

O negacionismo está de volta na CPI do 8 de janeiro

Bolsonaristas querem fraudar os fatos para proteger autores e patrocinadores de ato golpista
Bruno Boghossian/Folha de S. Paulo

 

A tropa de choque bolsonarista ensaiou mais um golpe na abertura da CPI do 8 de janeiro. Em minoria, os oposicionistas mostraram que pretendem fraudar até os fatos mais cristalinos daquele domingo e reescrever a história para proteger autores e patrocinadores dos ataques.

Os bolsonaristas se inspiraram na CPI da Covid e recorreram ao negacionismo. A primeira arma dos aliados do ex-presidente foi alegar que não houve nenhuma tentativa de golpe. Um senador chegou a dizer que a relatora Eliziane Gama (PSD) fazia "um prejulgamento" ao descrever os acontecimentos daquela maneira.

Os golpistas do 8 de janeiro podem ser descritos como lunáticos que não tinham força para derrubar um governo. Mas será preciso mais que uma lavagem cerebral para fazer com que o país esqueça que aquela turma marchou sob o lema da "tomada do poder", o financiamento de grupos organizados e o incentivo de políticos que difundiam a enganação de uma eleição roubada.

A manobra da oposição na CPI seria só uma tentativa isolada de tumulto não fosse o respaldo oferecido pelo presidente do colegiado. O deputado Arthur Maia (União Brasil) deixou a porta aberta para os bolsonaristas e disse que o papel da comissão é "identificar se de fato aconteceu uma tentativa de golpe de Estado".

Escolhido com a bênção de Arthur Lira (PP), o presidente da CPI indicou que, em nome de uma "participação plural", dará voz a teses alinhadas ao golpismo. A primeira medida foi a criação de um cargo de segundo vice-presidente para Magno Malta (PL) —senador que, após a derrota de Bolsonaro, cobrava uma "ação dura" para "salvar o país".

O negacionismo bolsonarista imita uma conspiração tramada por aliados de Donald Trump nas investigações sobre a invasão do Capitólio. Em março, políticos republicanos passaram a usar imagens editadas para minimizar atos de violência, descartar o enquadramento do ataque como tentativa de golpe e argumentar que os manifestantes eram só turistas frustrados com a eleição.

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