O crime do craque Robinho
Enio Lins www.eniolins.com.br
Eça de Queiroz, num de seus magistrais livros, “O crime do padre Amaro”, publicado em 1875, visitando o poder do confessionário, aborda o pecado machista encapsulado e turbinado pela força da batina, versus a vulnerabilidade social da mulher.
Longe de se dissipar, esse poder destruidor do machismo se apresenta tão nocivo e covarde como nos séculos passados. Ao contrário do jogo de sedução retratado por Eça, a violência pura, o estupro, parece atrair mais aos cafajestes contemporâneos.
Os diálogos do tal Robinho poderiam ser impressos em cartões vermelhos, pois todas as falas dele são faltas graves, confissões de um mesmo crime: estupro. Estupro de vulnerável, violentação coletiva, covardia ainda maior e mais repugnante.
Não há arrependimento, sequer consciência pesada, apenas a reafirmação do prazer opressor, da naturalização da violência e a disposição – pusilânime – de fugir das responsabilidades, aventando o desejo da agressão física à vítima violentada.
Como de resto acontece com todos os covardes, o cara que é (ou foi) um craque está pisando na bola e fazendo uma sucessão de gols contra. Certamente aposta num apito mudo da arbitragem. Mas sua argumentação diz muito do lodo ideológico em que joga.
Emblemática é a comparação que o jogador, ex-capitão do Santos, faz entre si próprio e outro ex-capitão (dos demônios), o Jair. Se acha, juntamente com o mito, vítima de uma imprensa perseguidora. Pobres garotos, tão inocentes...
É o mesmo arcabouço ideológico que permeia, embasa, atos e fatos de gente como o falso messias e o craque estuprador, e nesse item – para esses canalhas – a máxima é: se a mulher merecer, é para ser estuprada. Simples assim.
Esse pensar – criminoso – é o mesmo que justifica tentativas de golpe e privilégios de todos os tipos, até os mais absurdos. É o direito de levar na marra. Afinal eles se acham ungidos e que o poder lhes permite tudo, e quem se opor a isso é “comunista”.
Esse praticar do poder machista, avassalador, é o que gera e faz multiplicar os feminicídios aqui e alhures, dentre outros horrores. Enquanto o craque segue impune dentro das quatro linhas, a falta por ele cometida continuará banalizada, permitida “na moral”.
Bolsonaro no seu devido lugar https://bit.ly/3pbYb8Q
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