13 junho 2023

Futebol: alternativas táticas

O mundo e a estratégia no futebol não começaram com a internet

O jogo é muito complexo; nós é que tentamos simplificá-lo com as nossas racionalizações
Tostão/Folha de S. Paulo



No Brasil, tem aumentado a escalação com três zagueiros e dois alas, formando uma linha de cinco atrás. Quando o time ganha, o esquema é elogiado. Quando perde, é criticado, como se fosse a principal razão das vitórias e das derrotas.

A seleção brasileira jogou duas Copas do Mundo dessa maneira. Em 1990, dirigida por Sebastião Lazaroni, foi derrotada pela Argentina com uma excepcional atuação de Maradona. Em 2002, comandada por Felipão, foi campeã. O técnico e todos os jogadores merecem muitos elogios, mas a razão principal da conquista foi o magistral trio de atacantes formado por Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo.

O esquema com uma linha de cinco (três zagueiros e dois alas) possui muito mais desvantagens do que vantagens. A equipe fica com poucos jogadores no meio-campo e deixa muitos espaços na intermediária para o adversário trocar passes e chegar ao gol. Quando os alas avançam, sobram espaços nas suas costas. Os zagueiros tentam fazer a cobertura, geralmente chegam atrasados e/ou são driblados, abrindo um buraco pelo meio da área.

O Corinthians, na derrota por 3 a 0 para o Independiente del Valle, mostrou todas as deficiências do jogo com três zagueiros, ao deixar muitos espaços na intermediária, nas costas dos alas, e, pior ainda, propiciar enormes vazios entre a defesa, o meio-campo e o ataque. O tempo passou, e Luxemburgo não viu.

O Palmeiras, melhor time brasileiro, não usa três autênticos zagueiros. De vez em quando, coloca um dos laterais mais recuados para fazer a saída de bola da defesa.

Independentemente do esquema tático, se o time marca muito atrás, com os defensores colados na grande área, permite ao adversário pressionar e criar mais chances de gol. Além disso, quando a equipe recupera a bola, fica muito longe do outro gol para contra-atacar.

A formação tática com duas linhas de quatro é muito mais eficiente na marcação porque há um jogador na linha de meio-campo para proteger cada defensor.

Há poucas vantagens no esquema de três zagueiros. Uma é ter um jogador a mais para marcar uma dupla de atacantes pelo centro, como joga o Atlético-MG, com Hulk e Paulinho. Guardiola e poucos outros treinadores, às vezes, quando querem um time bastante ofensivo, escalam três rápidos zagueiros e sete jogadores no campo adversário, para pressionar, sufocar e recuperar rapidamente a bola perto do outro gol.

Nesta temporada, Guardiola inova mais uma vez ao ter em um mesmo jogo uma linha de três ou quatro defensores. O zagueiro Stones avança e se torna um meio-campista, deixando atrás uma linha de três. Quando é preciso, no momento certo, ele recua e passa a ser mais um defensor.

É diferente do líbero no passado. O líbero se posicionava atrás de uma linha de três ou quatro defensores para fazer a cobertura. Quando o time recuperava a bola, avançava e se tornava um meio-campista.

A Itália, na final da Copa do Mundo de 1970, jogou com uma linha de quatro defensores, que marcavam individualmente, e mais um zagueiro na sobra, que não era um líbero, pois não se tornava um jogador de meio-campo quando o time tinha a bola. Eu, como tinha sido combinado com Zagallo, atuei à frente do zagueiro de sobra, entre ele e os outros quatro defensores, para evitar que saísse na cobertura quando um deles fosse ultrapassado. Marquei o líbero. Por isso, peguei pouco na bola.

O mundo e a estratégia no futebol não começaram com a internet. O jogo é muito complexo. Nós é que tentamos simplificá-lo com as nossas racionalizações e ilusória sabedoria.

[Ilustração: Rudi Nicks]

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