28 julho 2023

Neoliberalismo midiático

A mídia volta a tratar a economia como caso de polícia

Imaginaram poder reproduzir estratégia do início do governo Dilma, onde miravam alvos, faziam a crítica e conseguiam resposta da presidente.
Luis Nassif/Jornal GGN

 

O episódio Márcio Pochmann – alvo de ataques quando foi aventado seu nome para a presidência do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) – é um pequeno ensaio de um dos maiores pesos que o país carrega: a ignorância coletiva da mídia.

Acompanhe o que aconteceu. 

  1. Miriam Leitão, que é jornalista de economia, tem broncas antigas com Pochmann, ainda do tempo de presidente do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas). Na época, Pochmann resolveu filtrar as manifestações de técnicos do órgão e também impediu que algumas fontes de Mirian, já aposentadas, continuassem a utilizar a estrutura do órgão. Criou-se uma questão pessoal.
  2. Quando surgiu o seu nome, Mirian partiu para o velho jogo do assassinato de reputações, repetindo integralmente as disputas intestinas que sempre emporcalharam a discussão econômica no país. E lançou a suspeita de que Pochmann poderia manipular as estatísticas do IBGE. Só uma profunda ignorância ou má fé para supor que um presidente do IBGE possa fazer qualquer espécie de manipulação. É ignorar por completo toda a estrutura de coleta de dados e de checagens do IBGE.
  3. Mas, confiando no espírito de torcida e na ignorância de seus pares, deu a senha: a volta da briga do bem contra o mal. O bem, obviamente, o mercado e os economistas ortodoxos; o mal, os desenvolvimentistas. Imediatamente ergueu-se um coro de araras e papagaios na Globonews e na CNN, com o alerta de que o PT estaria querendo interferir na política econômica. Quem é que vai explicar a esse bando de terra planistas que IBGE não formula nem nunca formulou política econômica? Mirian sabe disso, por isso veio com a suspeita ignominiosa de que um intelectual da envergadura de Pochmann poderia – repito “poderia” – manipular os dados. Os demais, sem nenhuma noção, foram atrás do primeiro bordão que encontraram. Houve colunista que disse que ele iria trombar com Fernando Haddad; a outra que garantiu que Simone Tebet estava descontente; um solene “membro do Planejamento” &n dash; assim mesmo -, dizendo que era uma escolha pior do que todas as escolhas de Jair Bolsonaro.
Com isso, volta-se ao mesmo clima de 10 anos atrás. Nem se pode dizer que é resquício do lavajatismo. Na verdade, a Lava Jato foi consequência dessa falta de decoro de tratar o pensamento contrário como inimigo e criminalizar todas suas atitudes, colocar a vítima sob suspeita dos crimes (intelectuais) mais hediondos e não agir com a responsabilidade que um veículo de massa exige, atacando a vítima sem lhe dar as mesmas armas para se defender.

Volta-se ao subjornalismo, ao estilo típico do pré-bolsonarismo. Aliás, alguém comentou outro dia que o bolsonarismo foi o maior instrumento de lavar reputações manchadas pelo lavajatismo.

Durante algum tempo, pareceu que haviam aprendido a lição e passariam a fazer críticas fundamentadas e civilizadas, sem emular o comportamento das torcidas organizadas.

Lego engano! O jornalismo brasileiro ainda é uma construção do terceiro mundo.

Depois da escolha de Pochmann, o mesmo O Globo soltou uma matéria mostrando a total tranquilidade de Simone Tebet com a escolha e a constatação óbvia de que o IBGE é imune a manipulações. E qual a evidência que tinham de que Pochmann tentaria manipular? Nenhuma! Uma acusação leviana, jogada ao vento como penas de galinha, para utilizar a imagem bíblica..

Em vez de admitir a impossibilidade de manipulações do IBGE, mudaram a versão para um presidente figurativo, ignorando a biografia de Pochmann.

Imaginaram que poderiam reproduzir a estratégia do início do governo Dilma, na qual simulavam apoio à presidente, a “faxineira da República”, miravam alvos, faziam a crítica e conseguiam imediatamente derrubá-las. Com Lula, ocorre o contrário. Provavelmente foram os ataques baixos a Pochmann que consolidaram a sua escolha para o IBGE. E se de fato existiu uma fonte do Planejamento espalhando as infâmias, faria bem a Ministra Simone Tebet em localizar, porque só atrapalhou a boa imagem colaborativa que vem construindo. Na minha opinião, a fonte inicial, na qual se baseou Malu Gaspar tem as iniciais ML.

Aqui, o currículo do candidato de Miriam à presidência do IBGE:



Aqui, os livros de Pochmann na Amazon:

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