05 julho 2023

Novo perfil demográfico do Brasil

Cinco surpresas do Censo 2022

IBGE registra o menor índice de aumento populacional da história. Há mudanças no ranking das capitais mais populosas. Cai, de novo, o tamanho médio das famílias. E o Centro-Oeste, que atrai muitos migrantes, é a região que mais cresce
Mariana Alvim/BBC

 

A última edição da pesquisa censitária realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi feita em 2010 e, pela lei, ela não poderia demorar mais de 10 anos para ser feita — ou seja, deveria ter ocorrido em 2020. Mas a nova edição só foi realizada entre 1º de agosto de 2022 e 28 de maio de 2023 (fase de coleta e apuração de dados) e divulgada agora.

A primeira etapa de divulgação, que traz números da população do país, de Estados e municípios, revela que a população brasileira aumentou 6,5% e que várias capitais brasileiras diminuíram em população.

Nos próximos meses, serão divulgadas novas informações do Censo — por exemplo, sobre povos indígenas, migração e religião —, mas ainda não há um calendário fechado.

A seguir, confira cinco destaques das primeiras informações reveladas pelo Censo 2022, que visitou 106,8 milhões de endereços em todo o Brasil.

1. População aumentou, mas taxa foi a menor já registrada

A população do Brasil superou 203 milhões (203.062.512), segundo o Censo 2022. É um acréscimo de 12,3 milhões de pessoas ao total registrado no Censo 2010 (190.755.799).

A data de referência para esse e outros números da nova pesquisa é a meia-noite do dia 31 de julho para 1º de agosto de 2022. Portanto, as pessoas nascidas depois dessa data não estão contabilizadas no Censo 2022.

Ao mesmo tempo, a taxa média de crescimento anual da população brasileira foi a menor já registrada desde 1872: 0,52%.


O IBGE afirma que, com a redução dos níveis de mortalidade a partir nos anos 1940 e o declínio dos níveis de fecundidade nos anos 1960, começou nos anos 1970 uma diminuição na taxa de crescimento populacional.

Segundo projeções populacionais — inclusive do IBGE —, em algum momento nas próximas décadas a redução nessa taxa de crescimento vai se refletir em uma redução no tamanho da população brasileira.

2. Centro-Oeste passou a ser região com maior taxa de crescimento

Vale dizer que, quando falamos em crescimento de população, ela reflete tendências de fecundidade e mortalidade, como falado acima, e também de migração.

Como está, então, o crescimento da população nas diferentes áreas do país?

Embora todas as regiões, assim como o Brasil, estejam com uma taxa média de crescimento anual cada vez menor, o Centro-Oeste aparece no Censo 2022 com uma taxa duas vezes maior que a média nacional.

Enquanto a taxa brasileira anual foi de 0,52%, a do Centro-Oeste foi de 1,23% — a maior no Brasil. Em 2010, a taxa de crescimento do Centro-Oeste foi de 1,9%.

Nos Censos de 2010 e 2000, a região que tinha a maior taxa de crescimento era o Norte, cuja taxa caiu bastante na edição atual: de 2,09 em 2010 para 0,75 em 2022.

Somente com novos dados do Censo e de futuras pesquisas será possível explicar esse crescimento no Centro-Oeste, mas alguns municípios nos dão pistas. Por exemplo, considerando as cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes, aquela que teve a maior taxa de crescimento da população foi uma cidade goiana: Senador Canedo, com taxa anual de 5,23%.

Esse município foi o que teve também o maior aumento percentual no total da população: em 2010, tinha 84.443 habitantes, passando para 155.635 em 2022 — um crescimento de 84,3%.

Há várias outras cidades do Centro-Oeste no ranking das cidades que mais cresceram, como Sinop (MT) e Sorriso (MT).

O IBGE detectou, no novo Censo, o crescimento populacional em vários municípios no entorno de capitais, como a própria Senador Canedo (próxima a Goiânia). Outros exemplos são Fazenda Rio Grande (Curitiba); Palhoça (Florianópolis); Maricá (Rio de Janeiro); Valparaíso de Goiás e Águas Lindas de Goiás (Distrito Federal), São José de Ribamar (São Luís) e Santana de Parnaíba (São Paulo).

No Censo 2022, além das regiões já citadas, o Nordeste aparece com taxa anual de crescimento de 0,24%; o Sudeste, de 0,45%; e o Sul, de 0,74%.

3. Sudeste ainda concentra quase metade da população

Apesar da taxa média de crescimento anual do Sudeste ser a segunda menor do país, atrás do Nordeste, a região é casa para 41,8% da população brasileira — somando 84,8 milhões de habitantes.

São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que são os três Estados mais populosos do Brasil e que pertencem à região, concentram 39,9% da população brasileira.

Em seguida, a maior região em população é o Nordeste (26,9%), seguida por Sul (14,7%), Norte (8,5%) e Centro-Oeste (8%).


4. Capitais como Rio de Janeiro e Salvador diminuíram em população, enquanto outras cresceram

A lista dos municípios mais populosos é liderada por São Paulo (11.451.245 habitantes), Rio de Janeiro (6.211.423) e Brasília (2.817.068).

Mas o Rio de Janeiro é um dos exemplos de capitais que viram sua população diminuir entre as edições de 2010 e 2022: caiu de 6.320.446 para 6.211.423 (-1,7%).

Também registraram diminuição Fortaleza (-1%), Salvador (-9,6%), Belo Horizonte (-2,5%), Recife (-3,2%), Porto Alegre (-5,4%) e Belém (-6,5%).


Enquanto isso, algumas capitais tiveram aumento da população, como São Paulo (1,8%), Brasília (9,6%), Manaus (14,5%), Curitiba (1,2%), São Luís (2,3%) Maceió (2,7%), Campo Grande (14,1%), Teresina (6,4%) e João Pessoa (15,3%).

A reportagem não teve acesso à lista completa capitais e suas populações, apenas das capitais mais populosas — por isso, algumas capitais do país não estão mencionadas acima.

5. Número de moradores por domicílio diminuiu

As últimas três edições do Censo mostram que o número de moradores por domicílio (a chamada densidade domiciliar) vem diminuindo: em 2000, a média era de 3,76 moradores por lar; em 2010, esse número era 3,31; e em 2022, 2,79.

Isso se relaciona a outro dado revelado pelo novo Censo: o número de domicílios aumentou 34% desde 2010, chegando a 90,7 milhões — ou seja, a população parece estar dividida em um maior número de lares, diminuindo o número de moradores em cada um deles.

O Norte tem a maior densidade domiciliar (3,3 moradores por domicílio), seguida pelo Nordeste (2,9), Centro-Oeste (2,78), Sudeste (2,69) e Sul (2,64).

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