31 agosto 2023

No meu Twitter

Crescentemente desmascarada, a ultradireita alimentada pela chamada guerra cultural se sente mais confortável como vítima do que obrigada a apresentar propostas concretas para solucionar problemas reais. É uma espécie de vazio barulhento e odioso.

Desconexão suspeita https://tinyurl.com/yy489esn


Menos desemprego

Desemprego cai a 7,9% no Brasil e tem menor patamar em 9 anos

País chegou a 99,3 milhões de trabalhadores empregados, ante 8,5 milhões de desempregados. Nas contas do IBGE, o País emprega 37 milhões de pessoas com carteira assinada, 13,2 milhões sem carteira assinada e 25,2 milhões por conta própria
André Cintra/Vermelho


 

A taxa de desemprego no Brasil caiu para 7,9% no trimestre móvel de maio a julho – uma queda de 0,6 ponto percentual em relação aos 8,5% registrados no trimestre de fevereiro a abril. Com isso, o Brasil chegou a 99,3 milhões de trabalhadores empregados, ante 8,5 milhões de desempregados.

Os dados fazem parte da nova Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada nesta quinta-feira (31) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Na véspera, o Ministério do Trabalho e Emprego já havia apontado um saldo líquido de mais de 1,1 milhão de empregos formais em 2023, conforme o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

O indicador da Pnad é o menor para esse trimestre em nove anos. Em julho de 2014, a taxa era de 7%. Desde então, o desemprego se manteve sempre acima de 8%. Em 2022, por exemplo, o índice estava em 9,1% e o País tinha 1,36 milhão de trabalhadores sem ocupação a mais.

Nas contas do IBGE, o País emprega 37 milhões de pessoas com carteira assinada, 13,2 milhões sem carteira assinada e 25,2 milhões por conta própria. Há, ainda, 5,9 milhões de trabalhadores domésticos e 38,9 milhões de informais.

Segundo Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios do IBGE, a redução do desemprego foi comum a todos os segmentos. “Esse recuo no trimestre encerrado em julho ocorreu principalmente pela expansão do número de pessoas trabalhando”, diz Adriana.

De acordo com a coordenadora, “a participação do trabalhador informal aumentou – mas a taxa de informalidade não tem crescimento considerável comparativo. A população ocupada cresceu como um todo, com o setor público contribuindo para a adição de trabalhadores formais”.

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Minha opinião

Muito mais do que palavras

Luciano Siqueira


 
Dizia Walfrido Canavieira, personagem de Chico Anysio, que "palavras são palavras, nada mais do que palavras".
 
Mas na vida real não é bem assim. Elas fazem sentido, até mesmo quando não pronunciadas ou escritas.
 
Em certas circunstâncias, até o silêncio fala.
 
Que as palavras sejam ditas e façam sentido e assim possam esclarecer o rumoroso caso da venda de presentes oficiais por auxiliares diretos de Bolsonaro, supostamente sob sua orientação.
 
Falarão hoje à Polícia Federal, em depoimentos simultâneos, precisamente no mesmo horário e em salas separadas, o próprio Jair Bolsonaro, a ex primeira-dama Michele, o ex-ajudante de ordens tenente-coronel Mauro Cid e o advogado Frederick Wassef.
 
Isto após recente depoimento do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que durou nada menos do que 16 horas, no qual se supõe tenha feito revelações muito concretas aos investigadores da Polícia Federal.
 
Não se trata de mesquinhez nem perseguição. As urnas já derrotaram Bolsonaro e o atual governo do presidente Lula empenha-se numa transição complexa e politicamente conflituosa a um desejado novo ciclo de transformações progressistas no país. Isso é o que conta.
 
Mas trata-se de fazer valer a legislação a respeito de bens recebidos pelo presidente da República no exercício do cargo, que legalmente passam a pertencer ao Estado brasileiro.
 
Se for confirmada a aprópriação indébita e a tentativa de negociatas com esses bens, todos os que tenham praticado atos lesivos devem pagar pelos seus crimes nos termos da legislação em vigor.
 
Os depoentes de hoje poderão enfim esclarecer o que de fato ocorreu. Tomara.

O ex-presidente em poço de areia movediça https://tinyurl.com/4wk92vde

Poço de areia movediça

Contradições sobre joias cercam Bolsonaro em dia de depoimentos

Avanço de inquérito desmonta versões e expõe ex-presidente a ponto crítico com a PF
Bruno Boghosian/Folha de S. Paulo



Jair Bolsonaro passou dias em treinamento para explicar à Polícia Federal sua lucrativa vocação para o ramo da joalheria. O avanço do inquérito sobre a venda de presentes e as táticas adotadas pelos investigadores fazem com que os depoimentos do caso sejam considerados um ponto crítico para o ex-presidente. 

A PF vai ouvir nesta quinta (31) oito suspeitos de envolvimento no esquema das joias. Os depoimentos serão tomados ao mesmo tempo. Como ninguém acredita que investigados e advogados não tenham trocado figurinhas, a medida vale pouco para evitar que eles combinem versões e muito para revelar incoerências.

Bolsonaro e aliados já produziram uma profusão dessas contradições, e aí está o perigo para o ex-presidente. Além de tornar muitas explicações inverossímeis, o vaivém dificulta o trabalho de quem tenta esconder detalhes das falcatruas.

Quando o apetite pelas joias foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, em março, o ex-presidente posou de vítima. "Estou sendo acusado de um presente que eu não pedi, nem recebi", declarou. Bolsonaro se referiu ao estojo retido no aeroporto de Guarulhos e omitiu relógios que já haviam sido vendidos.

A certeza da impunidade parece ter aumentado a desfaçatez. "Nada foi extraviado, nada sumiu. Nada foi escondido. Ninguém vendeu nada", disse, semanas depois. Àquela altura, estava em curso a operação para recomprar o Rolex que viajara em segredo no avião presidencial e fora vendido numa transação discreta.

Nenhuma explicação resistiu às provas colhidas pelos policiais. A tendência é que o caminho fique mais estreito com quebras de sigilo e telefones apreendidos. Prova disso é que a defesa do ex-presidente passou a dizer que ele tinha direito de ficar com as joias e de vendê-las.

É algo que se aproxima de uma confissão e depende de uma interpretação muito benevolente das leis e das regras estabelecidas pelo TCU. Resta saber se Bolsonaro estará disposto a testar a generosidade de investigadores e juízes nesse caso.

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Humor de resistência: Miguel Paiva

Miguel Paiva


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Governadores de direita não devem se ausentar de cerimônias oficiais como presidente da República. No mínimo em respeito ao pacto federativo.

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Enio Lins opina

Uma erva daninha que precisa ser cortada pela raiz

Enio Lins*



Inexplicavelmente, causou espanto em algumas poucas almas desavisadas o indiciamento do ex-ministro da devastação, um certo Salles, tornado réu numa ação que apura ilegalidades na exportação de madeira de lei.

Pois é, tem gente que se esquece que a Lei precisa ser madeira que o cupim não rói e o pau que bate no lombo de Francisco bate também no mocotó de Chico, sem privilégios nem prevaricações de quaisquer tipos.

No presente caso do meliante Salles, o tal do “passar a boiada”, vários mitos se acumulam – mitologia perniciosa, criminosa e covarde tal qual o mito do gado que intentou o 8 de janeiro. Acreditam que tudo podem.

Acreditam que um mandato parlamentar seja sinônimo de impunidade absoluta e até retroativa, numa espécie de anistia perene. Ledo engano. Existem defesas parlamentares, é certo – mas invulnerabilidade não.

Creem igualmente que a confissão prévia de um crime ou a verbalização da intenção de cometer um delito – no caso exclusivo deles – é salvaguarda garantidora da impunidade, posto o vagabundo estar sendo “sincerão”.

Então ministro da devastação ambiental, o tal Salles foi “sincerão” ao extremo, cometendo autodelações, autoconfissões em cascata, num processo de jair competido com o mito que mais se autodenuncia como criminoso.

Não acreditava, o tal Salles da boiada, que suas ações criminosas seriam investigadas, e certamente cria-se inatingível à Lei pelo fato de ter sido eleito – e estupidamente votado – para a deputança federal. Creu-se errado.

Créu! A Lei o laçou. Isso não significa condenação por antecipação. A denúncia do MPF, apontando para um "grave esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais", terá seu desdobramento sem açodamento.

Segundo O Globo, o MPF acusa: “a mais alta cúpula do Ministério do Meio Ambiente e a alta direção do Ibama manipularam [entre 2019 e 2020] pareceres normativos e editaram documentos para, em prejuízo do interesse público primário, beneficiar um conjunto de empresas madeireiras e empresas de exportação que tiveram cargas de madeira apreendidas nos Estados Unidos”.

Com a palavra, a 4ª Vara Federal/Criminal do Pará, que acolheu a bem fundamentada denúncia do MPF nesta segunda-feira, 28 de agosto de 2023. Um dia histórico contra a corrupção.


*Arquiteto, jornalista, cartunnista e ilustrador

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Miguel Paiva

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Boa notícia: o Senado aprovou o projeto de lei que restabelece o voto de desempate no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) a ser exercido pelo governo em disputas bilionárias entre a União e empresas sobre pendências tributárias.

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Pagu, símbolo e obra

Um furacão modernista chamado Pagu

Parque industrial – seu “romance proletário” – fez 85 anos. Nele, a escritora tripudia da elite paulista a partir da visão de trabalhadoras mulheres. E, com seu ativismo feminista e comunista, denuncia as fábricas como penitenciárias sociais
Walnice Nogueira Galvão/A Terra é Redonda


 

Quem gosta de livros e de Pagu sente-se recompensado ao compulsar a publicação de Parque industrial,[i]dada à luz pela Linha a Linha, de São Paulo. A reedição comemorativa festeja seu 85º. aniversário.

Para começar, agrada ao leitor o extremo cuidado gráfico. A capa escarlate corresponde bem ao conteúdo do livro, e copia exatamente a capa da edição original de 1933, com exceção da cor, que era neutra, em branco e preto. Acrescenta-se agora abaixo do título o subtítulo, sem disfarces: “Romance proletário”. A capa original reproduzida, da autoria do grande gravador Lívio Abramo, que além de ser artista de renome comungava das opções políticas de Pagu, é bem modernista, com linhas diagonais agressivas que se recortam e se contrapõem.

Concorrendo para o efeito geral, a gravura não só opera visualmente a súmula de uma fábrica, como ainda, em toda a sua economia, consegue sugerir o universo concentracionário que ela constitui. Esse universo é tornado verbalmente presente desde a quarta capa, que traz citação formular e bem vanguardista de Pagu: “Na grande penitenciária social os teares se elevam e marcham esgoelando”. Miguel Estêvão assina o projeto gráfico e a diagramação.

A editora teve o cuidado de incluir, além do prefácio de Augusto de Campos, descobridor de Pagu, dois trabalhos de mãos estrangeiras, porém especialistas: um do crítico norteamericano K. David Jackson, intitulado “A dialética negativa de Parque industrial”, que serviu de apresentação à tradução para o inglês por ele assinada,[ii] e outro pelo francês Antoine Chereyre: “Uma excelente estreia – a chegada do romance proletário ao Brasil”. Este último é também o tradutor da versão francesa, e suas notas, instrutivas e esclarecedoras, são aproveitadas na presente edição.

O fato de incluir esses dois tradutores/críticos dá outro alcance à obra de Pagu, agora acessível em duas outras línguas de cultura de primeira importância, ampliando sua repercussão mais do que merecida. Devemos ainda ao crítico norteamericano um trabalho monumental, o levantamento completo do jornalismo de Pagu, que rendeu quatro volumes e será publicado em breve pela Edusp, a editora da USP.

A renovação do interesse por esta grande libertária data de poucos anos, quando começaram a ser publicados vários de seus dispersos e inéditos. Após o livro seminal de Augusto de Campos, Pagu Vida-Obra, em 1982,[iii] foram vindo à luz as memórias incompletas; o álbum de 1929; os croquis; os contos policiais estampados em 1944 na revista Detetive, dirigida por Nelson Rodrigues; e a edição facsimilar de O Homem do Povo, jornal que produziu junto com Oswald de Andrade.

Uma tardia e crescente popularidade acarretou estudos críticos, reedições, fundação de centros culturais e de pesquisa, filmes de ficção, documentários, espetáculos teatrais, programas de televisão, nomes de revistas e de escolas, canções, enredos de desfile de carnaval, uma exposição mais do que completa no Museu Lasar Segall e numerosos eventos. Entre outras instâncias, a Universidade Estadual de Campinas abriu um centro de pesquisa sobre gênero que leva seu nome; e edita a revista Cadernos Pagu.

Textos seus figuram numa antologia do marxismo na América Latina, ao lado de Mariátegui, Luis Carlos Prestes, Fidel Castro, Che Guevara, Marighella e o subcomandante Marcos do Exército Zapatista. E é verbete, entre outros ícones das lutas sociais, como Caio Prado Jr. e João Pedro Stédile, num Diccionario de la Izquierda Latinoamericana,[iv]em preparo pelos argentinos.

Seus dois filhos contribuíram para o resgate, editando textos, publicando inéditos, instalando um site. Um deles, Geraldo Galvão Ferraz, em parceria com Lucia M. Teixeira Furlani, uma entusiasta de Pagu, com tese de doutoramento e livro sobre ela, organizou ainda uma fotobiografia e o site http://www.pagu.com.br . O outro, Rudá de Andrade, co-dirigiu um filme, o documentário Pagu – livre na imaginação, no espaço e no tempo (2001). Seu neto Rudá K. de Andrade, filho, como o nome indica, de Rudá de Andrade, fala da extraordinário trajetória da avó em livro recente, intitulado A arte de devorar o mundo – Aventuras gastronômicas de Oswald de Andrade (2021).[v]

O avô, um gourmet cujo paladar fora refinado em Paris, onde aprendera mais coisas afora vanguardismo,apreciava a mesa farta. O livro, trazendo fotos de iguarias e fornecendo receitas, vem acrescentar um aspecto até agora pouco explorado dos modernistas.

O autor chama-se Rudá tal como seu pai, só que o onomástico completo do pai é Rudá Poronominare Galvão de Andrade. Como é sabido, foi Oswald quem escolheu os dois prenomes indígenas.

É fácil confundir filho e neto, dado que ambos são xarás, portando o mesmo e raro prenome de Rudá. Detratores contemporâneos de Oswald disseminaram a vilania de que ele era tão desvairado que tinha dado ao filho o nome de “Lança-Perfume Rodo Metálico” – a marca mais popular nos carnavais da época, quando se cheirava éter à vontade, como se lê nos poemas de Manuel Bandeira. A vantagem do Rodo Metálico era a bisnaga blindada, como o nome indica, enquanto as outras eram de vidro e estilhaçavam nas estrepolias da farra. Mas a calúnia é repetida até hoje.

Sabe-se que os modernistas prezavam a convivialidade e, afora as residências uns dos outros, frequentavam os salões de seus mecenas, que recebiam em dia marcado. A casa de Paulo Prado à Av. Higienópolis abria-se para o almoço aos domingos. O Pavilhão Moderno, de Olívia Guedes Penteado à rua Duque de Caxias com Conselheiro Nébias, nos jardins de sua casa edificada por Ramos de Azevedo, “tinha seu dia”, como dizia Proust, às terças-feiras. E na rua Domingos de Morais, a Vila Kyrial de Freitas Valle misturava passadistas e modernistas, enquanto promovia conferências e tertúlias.

Paulista do interior, Pagu foi criada na capital. Em 1929 formou-se pela Escola Normal da Praça da República, diploma que habilitava ao ensino de crianças, no primário. Fenômeno então recente no panorama brasileiro, a “normalista” abria a perspectiva da emancipação feminina através do trabalho. As moças acorreram em peso, ganhando aura de costumes menos engessados e maneiras não tão espartilhadas. A proibição estatutária de casar antes da obtenção do diploma acirrava as fantasias masculinas e inspirava a música popular.[vi]

Seu uniforme azul-marinho e branco alegrava a paisagem urbana do centro. As obras dos modernistas, sobretudo os de São Paulo, estão cheias de alusões a elas. O tema já rendera um romance naturalista que beirava o sensacionalismo: A normalista (1893)de Adolfo Caminha. Tal como na literatura, a pecha de independentes e transgressoras aplicadas a essas jovens aparece no carnaval, na música popular, no teatro de revista, na charge e na caricatura.

Pagu foi apresentada por Raul Bopp a Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade, figuras de proa do Modernismo e seu casal mais ilustre. Pagu abala o cenáculo modernista com sua formosura juvenil, charme e comportamento inconvencional. A exuberância da cabeleira, a boca polpuda, os olhos derramados – do célebre poema que lhe dedicou Raul Bopp, de que vai aqui uma amostra – comprováveis em fotos e desenhos, tornaram-se sua marca registrada:

“Pagu tem uns olhos moles

Uns olhos de fazer doer (…)

Passa e me puxa com os olhos

Provocantissimamente

Mexe-mexe bamboleia

pra mexer com toda a gente”

Em 1929, Pagu e Oswald de Andrade passam a viver juntos. Dessa união, com cinco anos de duração, resultaria o filho Rudá de Andrade. Pagu participaria intensamente da fase antropofágica do Modernismo e forneceria dois desenhos à Revista de Antropofagia.

A crise econômica de 1929 abre passo a uma reconfiguração de forças, com radicalização dos intelectuais, à direita e à esquerda. Encerra-se a década de eclosão e fastígio do Modernismo, baseada numa feliz fusão de vanguardistas com mecenas cafeicultores. Nesse processo, Oswald e Patrícia filiam-se ao Partido Comunista em 1930 e tornam-se ativistas da revolução.

No mesmo ano, Pagu faz uma rápida viagem a Buenos Aires, no intuito de procurar Luiz Carlos Prestes, que ali vivia em exílio; mas só o encontraria mais tarde em Montevidéu. No navio, travou amizade com Zorrilla de San Martin. Fez contatos na área literária com o cenáculo da revista Sur: Jorge Luis Borges, Victoria Ocampo, Eduardo Mallea.

O novo casal funda em 1931 o tablóide O homem do povo, que durou apenas oito números. Hostilizado pelos estudantes da vizinha Faculdade de Direito, que invadiram a redação e tentaram empastelá-lo, acabou proibido por ordem policial. Pagu escrevia a coluna “A mulher do povo”, de tom panfletário, em que fustigava a burguesia e as instituições, reservando virulência maior para as grã-finas e outras mulheres ociosas. Criou uma história em quadrinhos cuja protagonista era uma garota revolucionária chamada Kabeluda.

Sua primeira prisão se deu em 1931 em Santos, maior porto do Brasil e escoadouro da riqueza principal de então, o café. Trabalhando como operária, participou de uma greve de estivadores e foi presa quando acudia um manifestante baleado.

Em 1933 publica o romance de que aqui nos ocupamos: Parque industrial – romance proletário, sob o pseudônimo de Mara Lobo. Exemplo da estética modernista, o texto é disposto em blocos de escrita, com flashes e flagrantes de extremada síntese, linguagem quase telegráfica e de impacto, utilização entremeada do coloquial. Seu cenário é o Brás, em São Paulo, bairro operário e reduto da imigração italiana. Pagu aproveita a experiência de sua própria proletarização: na literatura brasileira nada há de similar a seu ativismo feminista e comunista. O entrecho cuida de trabalhadoras pobres, que se deixam seduzir pela sereia dos donjuans ricos, circulando por ali em seus enormes carros de luxo, e que acabarão degradadas em prostitutas.

Logo encetaria seu grande périplo (1933-1934), que se tornaria lendário na tradição oral, até que fossem publicadas suas memórias (parciais) em 2005. Visitaria Estados Unidos, Japão, China, de onde teria trazido as primeiras sementes de soja, conforme testemunha Raul Bopp em Pagu – Vida-Obra, Manchúria e Rússia. Depois iria para a Europa, de onde seria repatriada. No itinerário, contatos com Freud, o último imperador chinês Pu Yi, os surrealistas franceses.

Novamente presa na repressão que se seguiu ao Levante Comunista de 1935, ao ser libertada cinco anos depois estava exaurida e pesava 44 quilos. Rompe com o Partido. Desse mesmo ano data sua união com Geraldo Ferraz, escritor e jornalista, com quem viveria até o fim de seus dias. Da união nasceria outro filho, Geraldo Galvão Ferraz, em 1941.

Mais um livro, A famosa revista, escrito a quatro mãos com Geraldo Ferraz, seria publicado em 1945. Já mais distante da estética modernista, abandona o fragmento em prol do discurso contínuo, mantendo, todavia, uma linguagem inovadora e incisiva, demolidora de lugares-comuns. Sátira ao Partido Comunista, denuncia seus vícios, como o autoritarismo, a burocracia, e mais o pretexto da clandestinidade que acoberta personalismo, desonestidade e manipulação alheia.

Retoma em 1942, para não mais abandoná-lo, o jornalismo, seu ganha-pão e canal de expressão. Começa a trabalhar na agência de notícias France-Presse em 1945, ali permanecendo por um decênio, e entra para o corpo de redação da Vanguarda Socialista, fundada por Mário Pedrosa, que congregaria a nata da intelectualidade de esquerda anti-stalinista.

Pagu transfere-se com seus ideais utópicos para o pequeno Partido Socialista, pelo qual foi candidata a deputada estadual em 1950. Na campanha, publica o panfleto Verdade e liberdade, expondo os motivos que a levaram a romper com o Partido Comunista, já criticado em craveira ficcional em A famosa revista.

A partir daí escreveria em vários jornais da grande imprensa e acabaria por fixar residência em Santos, onde viveria até a morte. Mas frequentaria a Escola de Arte Dramática de São Paulo, para a qual deixaria em legado sua biblioteca de teatro,[vii] e acompanharia a cena cultural, visitando exposições, teatros, concertos, lendo livros novos e velhos, água para o moinho de seus escritos. Produziria crônicas, poemas, crítica literária, traduções de fragmentos, comentários de artes plásticas e de teatro, artigos de política nacional e internacional.

Permaneceria inconformista e fiel às vanguardas, exigente, sarcástica, adepta de fórmulas fulminantes. Como se não bastasse, sempre insubmissa na defesa dos avanços modernistas e contestatária na denúncia dos retrocessos, fossem estéticos, políticos ou comportamentais. Um exemplário de autores e obras abordados revela preferência por poetas e dramaturgos – mas invariavelmente pouco convencionais: Arrabal, Ionesco, Ubu Rei de Alfred Jarry, Brecht, Lolita de Nabokov, de quem faz a defesa, Becket, Valéry, André Breton, Philippe Soupault, Octavio Paz, St. John Perse, Dylan Thomas, Artaud, Dürrenmatt, Ghelderöde, Ibsen, Fernando Pessoa, a Ópera de Pequim, a estreia brasileira de A sagração da primavera, de Igor Stravinski. Escreve sobre música de vanguarda nacional e estrangeira. Amplia a gama de a ssuntos ao passar a registrar notas sobre televisão. Funda a Associação de Jornalistas Profissionais de Santos.

Passada a fase modernista e militante, após muitas prisões e experiência tanto de proletarização quanto de clandestinidade, a autora comunista e feminista do romance Parque industrial, como vimos, romperia as amarras partidárias. Entretanto, espírito libertário, continuaria a empunhar a bandeira do Modernismo e a investir contra tudo que fosse retrógrado, na arte ou na vida.

Walnice Nogueira Galvão é professora Emérita da FFLCH da USP. Autora, entre outros livros, de Lendo e relendo (Sesc\Ouro sobre Azul).

Publicado originalmente na revista Opinioes, no. 2, 2023.

Notas

[i] Mara Lobo (Pagu), Parque industrial – romance proletário. São Paulo: Linha a Linha, 2018 (https://amzn.to/45ekuur).

[ii] Industrial park: A proletarian novel, trad. Elizabeth Jackson e K. David Jackson. Lincoln: University of Nebraska Press, 1993 (https://amzn.to/3DYnwXN).

[iii] Augusto de Campos, Pagu Vida-Obra. São Paulo: Brasiliense, 1982 (https://amzn.to/45b4CZn).

[iv] Diccionario de la Izquierda Latinoamericana. Buenos Aires: Planeta.

[v] Rudá K. de Andrade, A arte de devorar o mundo – Aventuras gastronômicas de Oswald de Andrade. São Paulo: doburro, 2021.

[vi] Normalista, samba de Benedito Lacerda e David Nasser, gravação de Nelson Gonçalves.

[vii] “A Pagu da EAD”, in Alfredo Mesquita, O teatro de meu tempo, Nanci Fernandes et al. (Orgs.). São Paulo: Perspectiva, 2023 (https://amzn.to/3KG6qBp).

Atores de Hollywood fazem greve pela primeira vez em 43 anos em parte por temores sobre o impacto da inteligência artificial (IA) https://tinyurl.com/na4kx69b 

30 agosto 2023

Minha opinião

Desconexão suspeita

Luciano Siqueira


 
O mínimo que se espera de qualquer analista, seja qual for o objeto da análise, é a conexão entre fatores, razões e fatos.
 
A cobertura da grande mídia brasileira a serviço do capital financeiro e do agronegócio exportador, sempre com um pé atrás em relação ao governo Lula, quando trata da chamada mini reforma ministerial faz uma intencional separação entre a natureza das concessões ao centrão e a correlação de forças real, que se expressa de maneira contundente no parlamento, em particular na Câmara dos Deputados.
 
Pois bem. O que mais se lê agora, às vésperas do anúncio dos novos ministros, é a crítica velada ou aberta do que se considera concessões exageradas do presidente ao centrão.
 
Tudo é dito e apresentado como equívoco do governo, fragilidade do presidente.
 
Como se fosse possível governar contando com apenas 130 votos dos 513 da Câmara dos Deputados.
 
Ou como se fosse possível deslocar do campo preliminarmente oposicionista uma parcela suficiente de parlamentares para formar a maioria sem nenhuma concessão.
 
Vão-se anéis para não perder os dedos, vaticina a sabedoria popular. 
 
É o que acontece com a chegada ao primeiro escalão do governo de representantes do centrão, ligados aos partidos PP, Republicanos e União Brasil.
 
Só não entende quem não quer.

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Arte é vida

 

Ayanda Mabulu

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Futebol & Inteligência Artificial

A inteligência artificial vai trazer progresso ao futebol?

Gerson, com sua exuberante inteligência natural, parecia ligado a um potente computador
Tostão/Folha de S. Paulo

 

Como sou um ignorante tecnológico, achava que a tal da inteligência artificial era uma ficção literária. Os entendidos dizem que já é uma realidade, que vai provocar uma nova revolução no conhecimento e no trabalho de todas as profissões.

Será que a inteligência artificial vai trazer progresso ao futebol? Será que o jogo vai ser diferente? Penso que a inteligência artificial não demitiria o técnico Pepa, do Cruzeiro.

Os gramados brasileiros pedem socorro. A solução seria colocar gramas artificiais em todos os estádios, já que muitos são usados também para shows e outros eventos? Ou é melhor trazer os jardineiros ingleses? Mesmo com tanta chuva e períodos com neve, todos os gramados da Inglaterra são perfeitos, o que melhora muito a qualidade das partidas.

Por mais que avancem a ciência esportiva, as estratégias de jogo, o planejamento, o preparo físico e mental e a intensidade das equipes, os grandes e decisivos lances de um jogo ocorrem em uma fração de segundos, sem programação, decorrente das escolhas e condutas de um dois ou três jogadores próximos.

No primeiro gol do Atlético-MG contra o Santos, na inauguração do belíssimo estádio do Galo, Pedrinho percebeu, em um piscar de olhos, a movimentação de Hulk, deu o passe para ele, que, de calcanhar, passou para Paulinho finalizar com precisão. A conexão dos três ocorreu pelo olhar e movimentos dos corpos. É a comunicação analógica, natural, biológica e inconsciente.

Será que a inteligência artificial já entrou em campo para melhorar a técnica de Raphael Veiga na cobrança de faltas? Contra o Vasco, no lugar de jogar a bola por cima da barreira, como era esperado, ele colocou com precisão a bola no outro canto, com um chute forte e de curva.

Naquela partida, a inteligência artificial poderia ajudar o árbitro de campo e o do VAR, que anulou erroneamente um gol do Vasco após um chute de fora da área de Paulinho. Como explicou o comentarista de arbitragem Paulo Cesar Oliveira, do SportTV, a finalização ocorreu em um tempo muito distante do impedimento marcado. Foi outra jogada.

Será que a inteligência artificial poderia aprimorar ainda mais a inteligência natural de Suárez, com seus toques precisos de primeira na bola, que iluminam todo o espaço para os companheiros do Grêmio? Suárez é tão bom que no Barcelona, junto com Messi e Neymar, facilitou para que todos os três brilhassem. Muitos vão dizer que jogar ao lado de craques é mais fácil. É o contrário. Muitos excelentes centroavantes, artilheiros, destaques em seus clubes se perdiam quando jogavam ao lado de Pelé na seleção.

Na primeira vez que atuei ao lado de Pelé e Gerson, nós três juntos, foi em um amistoso. No intervalo, Gerson sentou ao meu lado e perguntou: "Dá para jogar em dois toques no lugar de um? Assim haverá tempo de eu, vindo de traz, me aproximar de você e de Pelé.". Fiz o que pediu, o que foi bom para nós três. Gerson, com sua exuberante inteligência natural, observava os detalhes do jogo como se estivesse ligado a um potente computador, uma inteligência artificial.

Qual é o futuro do ser humano? Como será o mundo com a inteligência artificial? O problema não é ser dependente da máquina, pois isso já é evidente, sem volta, um fato que trouxe benefícios e malefícios. O maior problema é incorporar a máquina, ser como ela, como acontece quando alguém cria um personagem e os dois passam a ser a mesma pessoa. Será que o ser humano continuará sonhando?

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Taxação dos fundos de super-ricos

Governo edita medida provisória para taxar fundos de super-ricos

MP prevê cobrança de 15% a 22,5% sobre rendimentos dos fundos exclusivos. Segundo previsão, arrecadação pode chegar a R$24 bilhões entre 2023 e 2026
Paulo Toth/Vermelho

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva editou nesta segunda (28) uma medida provisória que prevê a cobrança de 15% a 22,5% sobre rendimentos dos fundos exclusivos, conhecidos como fundos dos “super-ricos”.

Os fundos exclusivos são aqueles em que há um único cotista e são geridos por profissionais particulares. Atualmente, esses fundos só são taxados pelo IR no momento do resgate. De acordo com as estimativas do governo, há cerca 2,5 mil brasileiros com recursos aplicados nesses fundos, que acumulam R$ 756,8 bilhões e respondem por 12,3% dos fundos no país.

O texto da MP dos super-ricos, como batizado pelo próprio governo, determina que a cobrança será realizada duas vezes ao ano, diferentemente do que ocorre atualmente, em que a tributação é realizada apenas no resgate. Será tributado com alíquota de 10% quem optar por iniciar a arrecadação em 2023. A previsão da área econômica é arrecadar R$ 24 bilhões entre 2023 e 2026.

Na sua live semanal, Lula defendeu uma cobrança mais igualitária no sistema tributário brasileiro. “Essas pessoas ganham muito dinheiro e não pagam nada de Imposto de Renda”, afirmou o presidente.

“É importante que compreendam que o estado de bem-estar social da Europa é feito porque há uma contribuição equânime, mais justa do pagamento de imposto de renda. Não é como no Brasil que quem paga mais é o mais pobre, que paga mais do que o dono do banco”, disse.

Por ser uma medida provisória, o texto tem validade imediata, mas precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional em até 120 dias ou perde a validade.

O anúncio do envio da MP foi feito durante um evento, no Palácio do Planalto, em que o presidente Lula sancionou a lei que reajusta o salário mínimo e amplia faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF).

Durante o evento em que o presidente assinou a MP, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu as medidas de taxação de fundos e investimentos no exterior. Segundo ele, não há nenhum sentimento de “revanche” contra os mais ricos, mas uma perspectiva de estabelecer justiça social e um sistema tributário mais equilibrado. Além disso, Haddad afirmou que as iniciativas estão em linha com legislações de países capitalistas mais desenvolvidos da Europa, da América do Norte e também da América do Sul.

“Estamos olhando para os países da OCDE [Organização para o Cooperação e o Desenvolvimento Econômico], estamos olhando para os nossos vizinhos mais desenvolvidos, mais bem arrumados, o caso do Chile, da Colômbia. Estamos olhando para os Estados Unidos, para a Europa. Estamos olhando para as boas práticas do mundo inteiro e procurando estabelecer, e nos aproximar, tentativamente, daquilo que faz sentido do ponto de vista da justiça social. Aqui não tem nenhum sentimento que não seja o de justiça social”, declarou.

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Injustiça tributária

Milionários pagam menos Imposto de Renda que servidores públicos
Estudo publicado pelo Sindifisco demonstra o privilégio contábil dos milionários do país. Nesta segunda (29), Lula editou MP para taxar grandes fortunas
Vermelho/Agência Brasil

 

Beneficiados por brechas que permitem camuflar rendas pessoais como rendimentos empresariais, os milionários no Brasil pagam menos Imposto de Renda do que servidores públicos e outras categorias profissionais de renda média e alta. A conclusão consta de estudo inédito publicado pelo Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional).

Feito com base nos dados do Imposto de Renda Pessoa Física 2022 (ano-base 2021), o levantamento constatou que os contribuintes que declararam, em 2021, ganhos totais acima de 160 salários mínimos (R$ 176 mil por mês ou R$ 2,1 milhões anuais) pagaram, em média, 5,43% de alíquota efetiva de Imposto de Renda (IR). Formado por 89.168 pessoas, esse contingente responde por apenas 0,25% do total de 35.993.061 declarantes do Imposto de Renda Pessoa Física no ano passado.

Essa alíquota efetiva é inferior à de muitas categorias de profissionais. Médicos pagaram, em média, 9,42% de Imposto de Renda no ano passado. Os super-ricos também pagam menos que outras categorias, como professor de ensino médio (8,94%), policiais militares (8,87%) e enfermeiro (8,77%).

Entre os servidores públicos, a alíquota média para carreiras da administração pública direta correspondeu a 9,54%, subindo para os ocupantes de outros órgãos, que ganham mais, como servidores do Ministério Público (11,83%), membro do Poder Executivo (12,15%), servidor do Poder Judiciário (12,53%), carreiras de gestão governamental e analista (13,66%), servidor do Poder Legislativo (13,76%), servidor do Banco Central (14,48%), carreiras de auditoria-fiscal e fiscalização (14,73%) e advogados do serviço público (15,66%).

Desigualdades

A alíquota efetiva representa percentual da renda total que de fato foi paga como Imposto de Renda. Segundo o Sindifisco, a menor alíquota efetiva decorre principalmente de indivíduos cuja parcela significativa de renda é composta por lucros e dividendos de empresas, rendimento isento no Brasil desde 1996. O órgão também atribui as disparidades à falta de correção da tabela do Imposto de Renda, que ficou congelada entre 2015 e este ano, e à inflação, que corrói menos as rendas dos mais ricos.

“A participação relativa dos rendimentos isentos e não tributáveis, como lucros e dividendos, no total da renda declarada aumentou de 32% para 36%. O que demonstra que a regressividade do sistema tributário está se aprofundando, pois os super-ricos estão utilizando esses recursos como nunca, contribuindo ainda menos para a arrecadação federal”, afirma o presidente do Sindifisco Nacional, Isac Falcão.

Embora a classe média também tenha parte dos ganhos atrelada a rendimentos isentos, essa parcela é inferior à dos milionários. Na tabela atual, o Imposto de Renda é tributado na fonte, com alíquotas progressivas de até 27,5% para rendimentos acima de R$ 4.664,69 por mês. Mesmo com o aumento do limite de isenção da tabela do IR para R$ 2.380 por mês, sancionada nesta segunda-feira (28) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as demais faixas não foram corrigidas.

Outro fator que contribui para o menor pagamento de Imposto de Renda em algumas categorias é a chamada pejotização, em que profissionais liberais abrem empresas no próprio nome e recebem como pessoas jurídicas. Algumas categorias pagam alíquotas efetivas próximas ou inferiores à de super-ricos, como odontólogos (5,89%), cantor e compositor (5,34%) e advogados (5,24%).

Em 2021, segundo a Receita Federal, os contribuintes brasileiros receberam R$ 555,68 bilhões em lucros e dividendos, alta de quase 45% em relação a 2020 (R$ 384,27 bilhões) e de 46,5% na comparação com 2019 (R$ 379,26 bilhões). Para o Sindifisco Nacional, esse movimento se deve às expectativas dos agentes econômicos de um possível restabelecimento da tributação sobre lucros e dividendos na segunda fase da reforma tributária. Segundo a entidade, parte do empresariado antecipou a distribuição dos lucros para evitar uma provável taxação.

Distorções

Em relação aos contribuintes que ganham até 15 salários mínimos mensais, a alíquota efetiva média subiu entre a declaração de 2021 e de 2022. Acima desse rendimento, houve queda, exceto para os contribuintes que ganham mais de 320 salários mínimos, cuja alíquota efetiva passou de 5,25% para 5,43%.

Quem ganhava entre cinco e sete salários mínimos, por exemplo, pagou 5,98% de alíquota efetiva em 2022, mais que os milionários. Dois anos antes, a taxa média estava em 4,91% para a faixa de cinco a sete salários mínimos. Na faixa entre sete e dez salários mínimos, a alíquota efetiva passou de 7,7% para 8,67%.

Segundo o Sindifisco, a maior alíquota para as faixas de baixa e de média renda deve-se à falta de correção da tabela. Isso porque os reajustes anuais, mesmo que não compensem a inflação, fazem o trabalhador subir de faixa e pagar menos Imposto de Renda, mesmo sem a melhora do poder de compra.

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A onda fascista e os desafios da comunicação

O enfrentamento da extrema direita e o papel da imprensa

Claúdio Carraly*



Nos tempos contemporâneos, a ascensão da extrema direita e a disseminação de discursos de ódio têm provocado profunda inquietação na sociedade global. A utilização desses discursos, como uma tática para ganhar espaço na mídia tradicional, tem alimentado uma onda fascista que se espalhou mundo afora, minando os valores fundamentais da democracia, da tolerância e da diversidade. Diante dessa conjuntura, é imperativo explorar estratégias pela imprensa e pela sociedade democrática para responder de maneira eficaz a essa tática sem cair na armadilha de se tornarem meios de propaganda para os extremistas de direita. Analiso o papel da imprensa, os desafios que ela enfrenta e como apresentar abordagens fundamentadas e aprofundada s para preservar a integridade da informação e defesa da democracia.

O crescimento da extrema direita nas últimas décadas tem sido marcado pela exploração de discursos de ódio como uma estratégia para ganhar visibilidade e influência. Grupos e líderes extremistas perceberam a eficácia desse método que alimenta a polarização da sociedade, promovendo a criação de bodes expiatórios, explorando ansiedades e medos nascidos da ignorância coletiva. Discursos que promovem o ódio racial, sexual, religioso, político e cultural são frequentemente utilizados para criar uma narrativa que apela às emoções das pessoas, desviando a atenção de questões mais complexas e profundas. Trazem como solução ao conjunto desavisado da sociedade solu&cced il;ões imediatistas e voluntariosas.

No entanto, é crucial compreender que a adoção desses discursos de ódio não é uma novidade na história. Hannah Arendt, filósofa alemã de origem judaica,  analisou profundamente a ascensão do totalitarismo no século XX. Em sua obra "Origens do Totalitarismo", ela destacou como líderes totalitários manipularam as massas por meio de discursos carregados de ódio, criando um ambiente propício para a supressão de liberdades individuais e a erosão das instituições democráticas. Arendt alertou sobre a importância de reconhecer os sinais precursores desse tipo de regime e da necessidade de resistir à disseminação do ódio como estratégia política.

Para além da antevisão do fenômeno, ainda em seu nascedouro é preciso atuar de forma determinante para enfrentar diretamente seus defensores e mostrar para a população que o que esses apresentam são respostas vazias que não vão de fato resolver as questões fundamentais. Por vezes as parcela intelectualizadas, seja na política, imprensa e formadores de opinião em geral, acham que o discurso dos próceres de extrema direita são tão rasos, erráticos, beirando o ridículo, que não vão encontrar aderência na sociedade, infelizmente a historia já mostrou que estamos errados e o presente só confirma esse fato.

A imprensa livre tem uma função vital em uma sociedade democrática, sendo a responsável por informar o público, promover a transparência e fiscalizar o poder. No entanto, a ascensão da extrema direita trouxe à tona uma série de desafios para essa imprensa, colocando em risco sua integridade e seu papel como veículo que apresenta os fatos como eles são. Um desses desafios é a exploração dos discursos de ódio como uma maneira de atrair audiência e ganhar relevância na mídia tradicional. Fato que elevou nomes da extrema direita que receberam muito espaço da mídia tradicional exatamente por gerar discussões draconianas mas que ao mesmo tempo deram a esses o espaço gratuito e exposição que necessitavam para levar seu discurso para o maior número de pessoas possível, daí o que vimos foi o ovo eclodir em serpente.

Para compreender como a imprensa pode responder a essa tática, é válido recorrer às ideias de Walter Lippmann, jornalista estadunidense e teórico da comunicação, em sua obra "Opinião Pública", ele discutiu como a imprensa molda a percepção pública e como a realidade é mediada pelas representações midiáticas. Ele enfatizou a importância de um jornalismo responsável, baseado em fatos verificáveis e na busca pela verdade. Nesse contexto, é fundamental que a imprensa se mantenha fiel aos princípios do jornalismo ético, recusando-se a dar espaço desproporcional a discursos de ódio e adotando uma abordagem crítica na cobertura de eventos relacionados à extrema d ireita.

Aqui mesmo compreendendo os interesses comerciais da grande mídia o fato é que quando a notícia é apresentada, essa deve ser um fato, mesmo que o editorial critique, discorde e até acentue as cores ao sabor de seus interesses. Lógico que o ideal é que isso não ocorresse, por isso a importância de uma imprensa cada vez mais livre e independente, mas não podemos fugir da “realpolitik”, porém o que vimos ocorrer no passado histórico e vem se repetindo hoje, não sabemos se como farsa ou tragédia, é que a ascensão de mídia alternativa de extrema-direita negando a verdade, descontextualizando fatos e até revisando a historia, fez que uma imensa parcela da sociedade fosse jogada em um ambiente particular onde tudo q ue vinha da mídia tradicional fosse tergiversado sob o manto de que a verdade real é a que ele desfrutava em sua bolha e fora dela nada era fato, mesmo quando a verdade era irrefutável.

Uma das principais defesas dos extremistas de direita é dizer que estão sendo tolhidos em sua liberdade de expressão. Essa falácia afirma que o discurso de ódio é apenas uma livre exposição do pensamento. A liberdade de expressão é essencial para o progresso da sociedade, permitindo a exposição de opiniões divergentes e a busca coletiva e salutar pela verdade. No entanto, a liberdade de expressão como todo direito tem seus limites, e esse limite é a lei, quando uma posição apresentada representa um dano, incentivo a crime, violência, racismo, homofobia, misoginia, ou qualquer forma de opressão a minoria e ao diverso, isso não é direito de expressão é apenas e tão somente crime e como crime deve ser tratado pela sociedade.

Portanto, a imprensa e a sociedade democrática devem buscar abordagens que combatam o discurso de ódio sem abrir espaço para falsas dicotomias, quando se abre espaço equivalente para quem defende o aquecimento global e quem é contra, mesmo sabedores de que imensa maioria da comunidade cientifica comprova esse fato, a imprensa faz o jogo da desinformação e da extrema-direita. Uma estratégia é o jornalismo investigativo, que expõe as raízes ideológicas e os objetivos dos extremistas de direita, desmascarando suas falsas narrativas. A exposição crítica, baseada em evidências, pode enfraquecer a influência desses grupos ao revelar suas contradições e seu distanciamento da realidade, não aceitando respostas rasas e sem base teórica e questionando prontamente essas informações.

Um pilar fundamental na resposta à utilização de discursos de ódio é o investimento no jornalismo de qualidade e na educação midiática da população. A sociedade democrática deve reconhecer a responsabilidade compartilhada entre jornalistas, veículos de comunicação e cidadãos para promover a precisão, a imparcialidade e a análise crítica das informações. Sendo fundamental também  o fomento de uma imprensa não vinculada as grandes corporações de mídia, até para servir de contraponto editorial e também na fiscalização dessas.

Nesse sentido, a abordagem de Paulo Freire, pedagogo e filósofo da educação, é relevante. Em sua obra "Pedagogia do Oprimido", Freire destacou a importância da educação como prática de liberdade, capacitando os indivíduos a compreenderem criticamente o mundo ao seu redor. Uma população educada midiaticamente é mais capaz de discernir entre discursos embasados em fatos e aqueles que visam manipular as emoções e espalhar o ódio. Investir em programas educativos que abordem a análise crítica da mídia e a identificação de narrativas extremistas é uma estratégia poderosa para conter a propagação do discurso de ódio, desmascarando todos aqueles que aparecerem apresenta ndo soluções simples para questões complexas.

*Advogado, ex-Secretário estadual-adjunto de Direitos Humanos
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No meu Twitter

O esperneio norte-americano na cena mundial em transição para a multipolaridade chega a ser insano. Põe 1/4 da economia mundial sob sanções econômicas e financeiras e vê o dólar como padrão cada vez mais questionado.

O PCdoB na luta institucional: se você não viu, pode ver agora https://tinyurl.com/yc5p4bw5

29 agosto 2023

O PCdoB na luta institucional

Luciano Siqueira e Devson Magalhães debatem a participação dos comunistas na frente institucional - parlamentos e governos.
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Uma crônica de Ruy Castro

Vivos para sempre

Como seriam as continuações de clássicos do cinema com seus atores originais, mesmo já mortos?
Ruy Castro/Folha de S. Paulo

 

Ouço dizer que, com a Inteligência Artificial, astros do cinema já mortos voltarão espetacularmente a trabalhar. A IA poderá reproduzi-los como eram sem reciclar material pré-existente, como fizeram com Harrison Ford, 80 e quebrados, que ressurgiu jovem e pimpão num recente épico. Donde será possível produzir continuações de clássicos do cinema com os atores originais, mostrando o que aconteceu com os personagens depois do "The end".

Com "Casablanca" (1942), é fácíl. Já sabemos que, depois de botar Ingrid Bergman e o marido naquele vôo para Lisboa, Humphrey Bogart e o chefe de polícia vivido por Claude Rains informam que ali era o começo de uma bela amizade e que iriam embora de Casablanca. No novo filme, eles assumirão que será em lua de mel e que virão para o Rio, já cheio de refugiados europeus e onde certamente encontrarão conhecidos. Se serão felizes para sempre, fica por conta do roteirista.

E uma continuação de "Um Corpo que Cai" (1958)? Depois de perder Kim Novak pela segunda vez, James Stewart é reinternado na clínica para se recuperar e, ao receber alta, encontra outra mulher igualzinha a Kim. Descobre que, de novo, é a mesma Kim e que ela também não caíra daquela torre, e sim mais uma dublê. Mas, desta vez, Stewart não quer se arriscar a mais uma decepção. Sobe à Golden Gate e se joga lá de cima na baía de San Francisco —desculpe o spoiler.

E como seria um pós-"E.T." (1981)? O querido extraterrestre chegou ao seu planeta e o encontrou destruído por uma guerra nas estrelas. Resolve então voltar para a Terra e abrir em Orlando, Flórida, um parque de diversões com as bicicletas voadoras, que ele controla mentalmente. Só que, um dia, chega a Orlando um ex-presidente brasileiro. Ele corrompe o E.T. e, com a mente deste abalada, as bicicletas começam a cair. O parque vai à falência e E.T. faz uma delação premiada no FBI.

Ok, são só sugestões.

Incansável na luta e na arte de viver https://bit.ly/3GwFhie 

No meu Twitter

Governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, mantém homenagem a Erasmo Dias, truculento personagem da ditadura militar. Se elegermos daqui a três anos um governador democrata, essa mácula institucional será enfim suprimida.

Caminhos cruzados https://tinyurl.com/35yp9kjm

Foi golpe

A tese, defendida por órgãos da grande mídia, de que a presidenta Dilma não foi afastada por um golpe, mas pelo mau desempenho da economia e por sua incapacidade de lidar com o Congresso é primária e agride a Constituição. A prerrogativa de descontinuidade do governo cabe aos eleitores no pleito seguinte e não na adoção do impeachment. Sem dúvida, defender semelhante tese é ser partidário de um golpe.

Sylvio Belém

Enio Lins opina

Duas bandas antagônicas nos mesmos fardamentos

Enio Lins*



Forças armadas fazem parte da história, e estão presentes em quaisquer sociedades desde tempos imemoriais. Até os índios recepcionaram os europeus aqui chegantes com seus guerreiros pintados em gestual marcial.

Por falar em povos originários deste nosso Brasil, o guerreiro nativo era valorizado a ponto de ser literalmente comido em rituais de absorção da valentia, e de outras qualidades, da pessoa armada – assim retratou Hans Staden.

Em 1557, retornado à Alemanha, Hans Staden publicou “História verdadeira ....” contando suas aventuras num Brasil recém-descoberto. Esse livro virou best seller na Europa ao descrever o ritual tupinambá de antropofagia.

MILICOS E A CIVILIDADE

Militares, dependendo do caso, podem ser um mal desnecessário ou um bem utilitário. Na tentativa de golpe em 8 de janeiro, entre fardados, uns participaram da subversão e da desordem, outros garantiram a ordem.

Só para ficarmos do Século XX pra cá, temos exemplos notáveis como Marechal Rondon, Marechal Lott, capitão Sérgio “Macaco”, brigadeiro Othon Correia, Almirante Aragão – a querida Major Elza Cansanção – pessoas do bem e de coragem.

Reconhecendo méritos até em oficiais golpistas de 1964, é-se indispensável ressaltar a capacidade estratégica e firmeza de milicos (de direita) como o general Golbery, general Geisel, coronel Jarbas Passarinho, major Heitor Ferreira...

Não listei nesse rol nenhum nome que tenha tido militância à esquerda, como o capitão Lamarca ou o tenente R2 Osvaldão, muito menos o capitão Luiz Carlos Prestes. Não se trata de puxar a brasa pra sardinha canhota.

Não pretendo sujar essas linhas mais do que o necessário com nomes abomináveis como Ustra, torturador covarde que os próprios comandantes de 64 evitaram, a todo custo, que alcançasse o generalato ainda na ativa.

CONTEMPORANEIDADE DÚBIA

Desde que a maioria do comando militar decidiu distender (como diria Geisel e Golbery) numa “meia-volta volver” ao Estado Democrático de Direito, a direita extremada na caserna pratica a subversão aberta e ofensiva.

Essa dubiedade pode ser aferida nas atitudes dos generais Geisel e Figueiredo, condutores do processo de abertura. Em relação à extrema-direita, Geisel foi duro e disciplinador. Figueiredo foi dúctil e conivente.

Geisel não hesitou em afastar o comandante do II Exército, general Ednardo d’Ávila, em 1976, quando da repetição do desrespeito à ordem de pôr fim aos assassinatos políticos, na sequência das mortes de Vladmir Herzog e Manuel Fiel Filho.

Geisel demitiu sumariamente seu ministro do Exército, general Sílvio Frota, em 1977, quando percebeu a articulação desse poderoso oficial no sentido de manter o poder para a banda podre das Forças Armadas.

LENIÊNCIA E CUMPLICIDADE

Figueiredo, na presidência, cumpriu o compromisso de devolver o poder aos civis, mas conciliou com a escalada de terrorismo orquestrada pela banda podre remanescente dos “porões da ditadura”.

Sob a omissão (ou cumplicidade) do general-presidente Figueiredo, os atentados às bancas de jornais evoluíram até a bomba que matou a secretária da Ordem dos Advogados do Brasil, Dona Lyda Monteiro, em 27 de agosto de 1980.

Figueiredo foi conivente com o ato terrorista-militar no Dia do Trabalho, em 1981, quando ao manipular uma bomba, o sargento Guilherme do Rosário a explodiu no colo, o matando e ferindo seu cúmplice, capitão Wilson Machado.

Nenhum desses criminosos, afastados ou não de seus postos, foi responsabilizado, muito menos punido de acordo com a Lei. Apesar de desmoralizados, seguiram suas carreiras, poucos optaram pela Reserva.

CONSEQUÊNCIAS DESASTROSAS

No alvorecer da Redemocratização, a banda podre passou a afrontar a banda disciplinada das Forças Armadas. O general Leônidas Pires Gonçalves, fiador do processo democrático e defensor do profissionalismo, virou alvo.

Ministro do Exército do primeiro governo civil depois de 1964, o general Leônidas foi fundamental, inclusive, na garantia da posse de José Sarney, em 15 de março de 1985, frente à impossibilidade de Tancredo Neves assumir o cargo.

Grupelhos fardados passaram a afrontar o ministro do Exército e, naquele quadro de quebra de hierarquia se destacou um oficial carioca, dito “treinado para matar”, que achou melhor jair se contrapondo a seus superiores.

Preso, entre outros delitos disciplinares, por ter ameaçado explodir alvos civis e militares, Jair desdisse o dito e choramingou para não ser punido. Livrou-se, numa sentença não-unânime e seguiu, livre, civil e solto em sua pregação antidemocrática.

Essa conciliação abjeta com um oficial covarde, indisciplinado e com ideias terroristas está dando no que estamos vendo nos dias em curso: militares traficando cocaína em aviões da FAB, oficiais receptando joias, e mais...

Mais, muito mais: oficiais envolvidos em tentativas de fraudar as eleições e em golpes contra o Democracia, oficiais defendendo um ex-militar confessadamente delituoso, acintosamente miliciano, e o saudando como “mito”.

A BANDA SAUDÁVEL

Por outro lado, não foram vistos todos os rostos da maioria de militares que recusaram o convite golpista e se posicionaram ao lado da Constituição, da Democracia, da disciplina e do profissionalismo. Mas estão em maioria, óbvio.

Essa banda saudável das Forças Armadas, porém, não é a questão fundamental para o futuro. Essencial mesmo é enfrentar e extirpar a banda podre. Como metástases espalhadas a partir do grande tumor ditatorial do passado recente, seguem ameaçando a civilidade, corroendo a disciplina e o profissionalismo militar. Este é o risco, o perigo latente.


*Arquiteto, jornalista, cartunista e ilustrador

Checar e-mail e WhatsApp pode interromper a respiração https://tinyurl.com/jakthkae