23 agosto 2023

A intervenção de Lula no BRICS

Criação de moeda do BRICS irá reduzir vulnerabilidades, diz Lula
Na sessão plenária ampliada da Cúpula do BRICS, Lula ainda criticou a ‘terceirização’ das responsabilidades climáticas para o Sul Global e pediu esforços pelo fim da guerra
Murilo da Silva/Vermelho


 

O presidente Lula discursou, nesta quarta-feira (23), na sessão plenária ampliada da 15º Cúpula do BRICS, em Joanesburgo, na África do Sul.

Em sua fala ressaltou que os países membros representam 41% da população mundial e é responsável por 31% do PIB global em paridade do poder de compra.

Nesse sentido, Lula destacou o projeto de criação de uma moeda para transações entre os membros do bloco.

“A criação de uma moeda para as transações comerciais e de investimento entre os membros do BRICS aumentam nossas opções de pagamento e reduzem nossas vulnerabilidades”, disse Lula.

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A fala seguiu deferência feita à ex-presidenta Dilma Rousseff, que comanda o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) do BRICS, responsável pela agenda da criação da moeda.

O presidente ainda destacou que o grupo está plenamente consolidado “como marca e ativo político de valor estratégico” e que a participação de dezenas de chefes de Estado e de Governo, assim como o interesse em aderir ao BRICS, revela o “reconhecimento de sua relevância crescente”.

Financiamento e respeito ao clima

A fala de Lula ainda contou com críticas ao sistema financeiro internacional e às condições de financiamento impostas aos países em desenvolvimento, principalmente as relacionadas aos compromissos ambientais.

“Nossos recursos não devem ser explorados em benefício de poucos, mas valorizados e colocados a serviço de todos, sobretudo do bem-estar das populações locais. Mas para que as promessas já feitas pelos países ricos sejam cumpridas, o financiamento climático e de biodiversidade deve ser verdadeiramente novo e adicional em relação ao financiamento ao desenvolvimento”.

“Precisamos de um sistema financeiro internacional que, ao invés de alimentar as desigualdades, ajude os países de baixa e média renda a implementarem mudanças estruturais”, continuou.

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Dessa maneira, o líder brasileiro pediu por maior liquidez e financiamento sem condicionalidades, uma vez que “os grandes responsáveis pelas emissões de carbono que causaram a crise climática foram aqueles que fizeram a Revolução Industrial e alimentaram um extrativismo colonial predatório”, pontuou.

Com isso, Lula pediu maior compromisso com o Planeta Terra e com a humanidade pelos países desenvolvidos, ao salientar o respeito à Agenda 2030, ao Acordo de Paris e Convenção do Clima, “em vez de terceirizar as responsabilidades climáticas para o Sul Global”.

Guerra

Houve espaço também para, mais uma vez, Lula reafirmar a posição brasileira em busca da paz, pois a guerra, trouxe no discurso, “é uma insensatez que gera grandes incertezas e corrói o multilateralismo”.

“Não podemos nos furtar a tratar o principal conflito da atualidade, que ocorre na Ucrânia e tem efeitos globais. O Brasil tem uma posição histórica de defesa da soberania, da integridade territorial e de todos os propósitos e princípios das Nações Unidas”, afirmou.

Segundo Lula, a guerra evidenciou as limitações do Conselho de Segurança da ONU. Dessa forma, o BRICS e demais países devem agir pelo entendimento e pela cooperação em uma soma de esforços para encontrar uma solução para o conflito na Ucrânia.

“Estamos prontos a nos juntar a um esforço que possa efetivamente contribuir para um pronto cessar-fogo e uma paz justa e duradoura”, endossou.

Gastos militares, fome e empoderamento feminino

Não só a guerra entre Ucrânia e Rússia foi lembrada. Lula rememorou a condição de haitianos, iemenitas, sírios, líbios, sudaneses e palestinos: “todos merecem viver em paz”.

“É inaceitável que os gastos militares globais em um único ano ultrapassem 2 trilhões de dólares, enquanto a FAO nos diz que 735 milhões de pessoas passam fome todos os dias no mundo”, criticou o presidente.

Para completar, enfatizou o papel das mulheres para que o desenvolvimento econômico se concretize, em detrimento das guerras.

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“Em muitos lugares, enquanto os homens fazem a guerra, são as mulheres que lutam pela conciliação. A valorização e o fortalecimento do papel das mulheres na resolução dos conflitos será cada vez mais central para um mundo de paz. Mais do que isso, o empoderamento das mulheres é pré-condição para o pleno desenvolvimento econômico e social”.

O presidente ainda parafraseou o líder revolucionário histórico de e Burkina Faso, Thomas Sankara: “não podemos almejar uma sociedade em que metade da população é silenciada pelo machismo e pela discriminação na participação política e no mundo do trabalho”.

Os desafios e os dilemas atuais do BRICS https://tinyurl.com/4h7awstp

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