25 agosto 2023

BRICS: caminho alternativo?

BRICS na encruzilhada: aproveitando o momento para uma economia global mais justa

BRICS têm o potencial de forjar um caminho que fortalece as economias individuais e contribui para um sistema global mais justo e inclusivo.
Siphamandla Zondi, Karin Costa Vazquez, Mikatekiso Kubayi e Hellen Adogo/Observatório de geopolítica/Jornal GGN

 

Os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) têm sido uma força motriz no desenvolvimento global desde sua primeira cúpula em 2009 em Yekaterinburgo, Rússia. Com uma agenda focada na criação de um sistema de governança global mais equitativo, justo e inclusivo, o progresso alcançado é significativo. A criação do Novo Banco de Desenvolvimento e a expansão iminente dos BRICS, com 23 países solicitando formalmente a adesão, são alguns testemunhos do potencial do bloco.

À medida que os BRICS se preparam para um novo ciclo de cinco anos a partir de 2024, é imperativo avançar em iniciativas que aprofundem a cooperação intra-bloco e que enfrentem desafios comuns. A reforma da arquitetura financeira global, a integração das economias dos BRICS e a expansão do número de membros são temas-chave da próxima cúpula na África do Sul. Resolver questões como mecanismos de pagamento em moedas locais e de atração de investimentos entre os membros será essencial para traduzir ambições em ações concretas.

A crise financeira global de 2008 e o surto de Covid-19 destacaram a necessidade de reformas na economia global. Os BRICS dão nova perspectiva para regiões historicamente marginalizadas, como África e América Latina, ao voltar a atenção do mundo para temas prioritários para o desenvolvimento do Sul Global. A transição energética justa, o comércio em moeda local e o financiamento para o desenvolvimento são alguns deles.

A parceria com os BRICS deve ser equitativa e voltada para o desenvolvimento, focando em setores-chave como mineração, industrialização, expansão de infraestrutura, saúde e energia. A Índia tem defendido esses temas ao longo de toda a sua presidência do G20 este ano. Com o Brasil prestes a assumir a presidência do G20, seguido pela África do Sul em 2025, há uma real oportunidade para os países dos BRICS exercerem sua influência coletiva também dentro dessa plataforma.

Os BRICS podem advogar de maneira assertiva e acelerar a cooperação e o financiamento para o desenvolvimento de seus membros e do Sul Global. A sintonia estratégica entre os BRICS e o G20 pode servir como catalisador para uma transformação positiva na economia global, promovendo o crescimento inclusivo e o desenvolvimento sustentável.

Também é necessário um esforço coordenado para lançar o sistema de pagamento dos BRICS a partir dos acordos bilaterais existentes entre os atuais cinco membros do bloco e operacionalizar o Arranjo Contingente de Reservas. Essas plataformas podem, inclusive, ser abertas à adesão dos potenciais novos membros dos BRICS.

O Novo Banco de Desenvolvimento pode ser posicionado como uma plataforma de ideias, parcerias e soluções do Sul Global, para o Sul Global, visando enfrentar os desafios de desenvolvimento comum destes países por meio da troca de conhecimentos para o desenho de novos projetos e de soluções para desafios transnacionais, como mudanças climáticas e a transição energética. Essa medida reforçaria a adicionalidade do banco na arquitetura financeira global. 

Outras medidas incluem a expansão direcionada do Novo Banco de Desenvolvimento, permitindo que a instituição financie projetos transnacionais que apoiem a integração econômica regional. O compromisso com a paridade de gênero em todos os níveis organizacionais também deve ser afirmado e incentivos devem ser criados para atrair e reter mulheres no banco.

Os BRICS têm o potencial de forjar um caminho que fortalece suas economias individuais e contribui para um sistema global mais justo e inclusivo. O caminho pode ser complexo, mas os benefícios potenciais para o Sul Global são grandes. A visão estabelecida em Yekaterinburgo em 2009 é mais relevante hoje do que nunca.

Siphamandla Zondi, Diretor do Instituto para o Pensamento e Conversação Pan-Africana (IPATC), Universidade de Joanesburgo

Karin Costa Vazquez, Diretora Executiva do Centro de Estudos Africanos, Latino-Americanos e Caribenhos (CALACS) O.P. Jindal Global University.

Mikatekiso Kubayi, Pesquisador no Instituto para o Diálogo Global associado à Unisa, Pesquisador Associado no IPATC e candidato a doutorado na Universidade de Joanesburgo.

Hellen Adogo, Pesquisadora no Instituto para o Pensamento e Conversação Pan-Africana (IPATC), Universidade de Joanesburgo

Lula sugere criação de moeda do BRICS para reduzir vulnerabilidades https://tinyurl.com/yju7sz2r

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