02 setembro 2023

Onde o bolsonarismo recua

ENGOLIDOS PELA PRÓPRIA CPI

Joias de Bolsonaro e hacker de Araraquara dominam o debate sobre a comissão do 8 de janeiro, enquanto bolsonaristas encolhem nas redes
Pedro Bruzzi/Piauí


 

Que medo é esse de investigar os atos do 8 de janeiro?”, tuitou o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), meses atrás. “A CPMI do 8 de janeiro é uma das coisas mais importantes desse ano”, vaticinou seu colega André Fernandes (PL-CE). Depois de uma intensa mobilização, esses e outros parlamentares bolsonaristas conseguiram, no final de fevereiro, juntar as assinaturas necessárias para instalar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito focada nos atos golpistas de 8 de janeiro. A deputada Carla Zambelli (PL-SP) celebrou a vitória no Twitter com deboche: “Vai ter muita gente barbada que não vai dormir hoje.” Era uma referência a Lula.

Para um observador externo, a posição adotada pelos bolsonaristas pareceria kamikaze. Afinal, a multidão que invadiu a Praça dos Três Poderes pedindo um golpe de Estado era bolsonarista. As digitais do ex-presidente eram inegáveis e logo se tornaram alvo de investigação da Polícia Federal. Mas, por isso mesmo, a única estratégia que restou aos bolsonaristas foi tumultuar. Por meio da CPI, queriam ampliar aquilo que já faziam nas redes sociais: plantar suspeitas de que havia infiltrados petistas entre os manifestantes e de que o governo Lula teria sido conivente com os invasores.

O governo, que não queria dar palco para a oposição, foi contra a CPI — daí a pergunta feita maliciosamente pelo deputado Carlos Jordy. Parlamentares petistas, assim como o próprio presidente, diziam que cabia à Justiça investigar e punir os culpados pelo 8 de janeiro. Mas a rede bolsonarista é tenaz e muito organizada. O barulho foi grande e o assunto pegou, principalmente no seu agrupamento. Deputados do Centrão embarcaram na ideia.

Acontece que CPIs são imprevisíveis. A vitória momentânea da bancada bolsonarista se reverteu numa enxurrada de novos indícios criminais contra Bolsonaro e militares próximos a ele, como o ajudante de ordens Mauro Cid. Hoje, fala-se menos na invasão golpista do que nas joias árabes e no hacker de Araraquara (SP), que diz ter sido contratado por Carla Zambelli para invadir o sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A deputada foi intimada a depor à Polícia Federal em setembro, e corre risco de ser cassada. Passados seis meses daquele tuíte, é mais provável que Zambelli, e não Lula, esteja perdendo o sono.

Tão logo houve a confusão em Brasília, já se via parlamentares se manifestando nas redes em apoio à instalação de uma CPI. Um dos destaques foi a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), que, depois de se candidatar à presidência, ficou em cima do muro entre Lula e Bolsonaro. Ainda na tarde de 8 de janeiro, ela fez um post de grande alcance.

As primeiras menções à CPI miravam o bolsonarismo, cuja vinculação com os atos golpistas era evidente. Mas, em pouco tempo, operou-se uma inversão. Os apoiadores de Bolsonaro passaram a clamar pela investigação e acusaram o governo de querer impedi-la.

Entre o início de fevereiro, quando começou o ano legislativo, e o fim de março, o debate em torno da CPI produziu 791 mil posts no Twitter e foi amplamente dominado pela oposição (representada pela cor azul no grafo abaixo). Dos perfis engajados na discussão, 89% eram bolsonaristas. A base governista (11% dos perfis) pouco havia falado sobre o tema; os parlamentares, em especial, faziam silêncio. As poucas postagens feitas por perfis da esquerda debochavam ou tentavam entender a exótica estratégia dos bolsonaristas.

O debate seguiu nessa toada até a divulgação das imagens de câmeras de segurança do Palácio do Planalto, no dia 19 de abril. Descobriu-se que o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Lula, general Gonçalves Dias, esteve no palácio durante a invasão e interagiu com golpistas. GDias, como é conhecido, foi demitido por Lula dias depois. E o governo, que saiu chamuscado da história, decidiu então apoiar a instalação da CPI. Embora a oposição já reunisse as assinaturas necessárias desde fevereiro, a criação do grupo vinha sendo retardada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). 

Dali até maio, quando a investigação efetivamente começou, houve um pico de menções à CPI no Twitter. A confiança dos bolsonaristas era tanta que até mesmo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o mais discreto da família, defendeu a instalação da comissão.

Com a instalação da CPI, operou-se uma mudança imediata: os governistas, que até então propositalmente ignoravam o assunto, entraram no debate nas redes sociais. Nos primeiros dias da investigação, entre os dias 25 e 27 de maio, 39,5% dos usuários que discutiam a CPI eram alinhados ao governo, contra 60,5% de perfis ligados à oposição. A mudança é visível no grafo abaixo, em que o agrupamento vermelho (governistas) avança sobre o azul.

A hegemonia da base bolsonarista se manteve, com poucas oscilações, até que as atividades da comissão fossem interrompidas em função do recesso parlamentar. Em sessões tumultuadas, a CPI vinha tateando, até ali, possíveis falhas, tanto do governo quanto das forças militares, nas ações de inteligência e contenção aos invasores da Praça dos Três Poderes.

Depois do recesso, no entanto, a discussão mudou de direção. Os deputados e senadores voltaram ao batente no dia 1º de agosto, uma terça-feira. No dia seguinte, foram surpreendidos com uma notícia: a Polícia Federal havia prendido Walter Delgatti, o hacker que, anos antes, revelara as conversas entre o ex-juiz (e agora senador) Sergio Moro e procuradores da Operação Lava Jato. Dessa vez, Delgatti foi preso sob acusação de ter forjado um mandado de prisão contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, além de inserir alvarás de soltura falsos no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O assunto foi parar na CPI quando, em depoimento à PF, Delgatti contou ter se reunido com Bolsonaro e com Carla Zambelli. No encontro, segundo o hacker, os dois quiseram saber se ele seria capaz de invadir urnas eletrônicas. Vendo nisso um atentado à democracia relacionado ao 8 de janeiro, a comissão convocou Delgatti para depor diante dos deputados e senadores. A sessão, que aconteceria em 10 de agosto, foi remarcada para o dia 17.

Deu-se, ali, o pico de menções à CPI no Twitter, com 98 mil publicações em um dia. Diante dos parlamentares, Delgatti distribuiu acusações. Afirmou que Bolsonaro havia lhe prometido indulto, caso o hacker fosse preso por invadir urnas eletrônicas; que Zambelli havia oferecido a ele um emprego na campanha de Bolsonaro; e que o falso mandado de prisão contra Alexandre de Moraes, descoberto pela PF, fora um pedido de Zambelli.

Dias antes, para piorar, a CPI passara a tratar das joias recebidas por Bolsonaro e seus aliados em viagens ao Oriente Médio. No dia 11 de agosto, o ajudante de ordens do ex-presidente, tenente-coronel Mauro Cid, preso desde maio, foi alvo de uma operação de busca e apreensão. A Polícia Federal investiga se ele e outros militares próximos a Bolsonaro ganharam dinheiro vendendo ilegalmente presentes oficiais, alguns deles valiosíssimos. 

No mesmo dia da operação, parlamentares aventaram a hipótese de abrir uma CPI das Joias. A ideia não foi adiante, mas o debate na CPI do 8 de Janeiro foi contaminado pelo assunto. A relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), disse que iria investigar o possível uso de dinheiro oriundo das joias no financiamento do 8 de janeiro.

Pela primeira vez, o bolsonarismo perdeu a hegemonia no debate digital. Entre 17 e 18 de agosto, 57% dos perfis que repercutiam a CPI estavam ao lado do governo. A oposição, abalada pela enxurrada de acusações, ficou em posição minoritária, com 43% dos perfis.

CPI do 8 de janeiro não teve, até o momento, o mesmo destaque no debate digital que a CPI da Pandemia, instalada em abril de 2021. Na época, a comissão adquiriu características de programa televisivo, acompanhada ao vivo por milhares de pessoas na tevê e na internet. Os senadores que integravam o grupo fizeram fama. É difícil imaginar que Simone Tebet (MDB-MS) se candidatasse à presidência — e depois virasse ministra do Planejamento de Lula — não fosse a repercussão de suas falas no colegiado. O mesmo não acontece, hoje, com os integrantes da CPI do 8 de janeiro. A profusão de indícios criminais e linhas de investigação, cada uma apontando numa direção diferente, talvez explique a dificuldade do público de acompanhar o trabalho da comissão. Se o diversionismo for parte da estratégia bolsonarista, pode se conside rar que teve algum resultado. 

As acusações contra Bolsonaro e seus aliados, no entanto, são concretas. Repercutem nas redes e pautam o debate público, por mais que não sejam sempre associadas ao trabalho da CPI diretamente. Foi o que aconteceu no caso de Walter Delgatti. O hacker já era assunto antes de depor na CPI. Tendo deposto, ganhou ainda mais atenção no debate digital.

Neste mês de agosto, Delgatti foi de longe o assunto mais comentado sobre a CPI, superando o volume de menções diretas à própria comissão. Ele foi objeto de 1,7 milhão de publicações no Twitter entre os dias 1º e 29 de agosto. As joias de Bolsonaro, por sua vez, apareceram em 769 mil publicações sobre a comissão nesse mesmo período. 

A CPI, se não for prorrogada, se encerra em novembro. Integrantes da CPI cogitam uma delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, que continua preso, e não descartam o indiciamento de Bolsonaro com base nas acusações do hacker. Zambelli está na mira da PF. Considerando o cenário geral e as possibilidades reais de punições a importantes nomes da base do ex-presidente, o saldo não é nada alvissareiro para quem defendeu, com unhas e dentes, a instalação da CPI.

“Que medo é esse de investigar os atos do 8 de janeiro?”, tuitou o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), meses atrás. “A CPMI do 8 de janeiro é uma das coisas mais importantes desse ano”, vaticinou seu colega André Fernandes (PL-CE). Depois de uma intensa mobilização, esses e outros parlamentares bolsonaristas conseguiram, no final de fevereiro, juntar as assinaturas necessárias para instalar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito focada nos atos golpistas de 8 de janeiro. A deputada Carla Zambelli (PL-SP) celebrou a vitória no Twitter com deboche: “Vai ter muita gente barbada que não vai dormir hoje.” Era uma referência a Lula.

Para um observador externo, a posição adotada pelos bolsonaristas pareceria kamikaze. Afinal, a multidão que invadiu a Praça dos Três Poderes pedindo um golpe de Estado era bolsonarista. As digitais do ex-presidente eram inegáveis e logo se tornaram alvo de investigação da Polícia Federal. Mas, por isso mesmo, a única estratégia que restou aos bolsonaristas foi tumultuar. Por meio da CPI, queriam ampliar aquilo que já faziam nas redes sociais: plantar suspeitas de que havia infiltrados petistas entre os manifestantes e de que o governo Lula teria sido conivente com os invasores.

O governo, que não queria dar palco para a oposição, foi contra a CPI — daí a pergunta feita maliciosamente pelo deputado Carlos Jordy. Parlamentares petistas, assim como o próprio presidente, diziam que cabia à Justiça investigar e punir os culpados pelo 8 de janeiro. Mas a rede bolsonarista é tenaz e muito organizada. O barulho foi grande e o assunto pegou, principalmente no seu agrupamento. Deputados do Centrão embarcaram na ideia.

Acontece que CPIs são imprevisíveis. A vitória momentânea da bancada bolsonarista se reverteu numa enxurrada de novos indícios criminais contra Bolsonaro e militares próximos a ele, como o ajudante de ordens Mauro Cid. Hoje, fala-se menos na invasão golpista do que nas joias árabes e no hacker de Araraquara (SP), que diz ter sido contratado por Carla Zambelli para invadir o sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A deputada foi intimada a depor à Polícia Federal em setembro, e corre risco de ser cassada. Passados seis meses daquele tuíte, é mais provável que Zambelli, e não Lula, esteja perdendo o sono.

Tão logo houve a confusão em Brasília, já se via parlamentares se manifestando nas redes em apoio à instalação de uma CPI. Um dos destaques foi a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), que, depois de se candidatar à presidência, ficou em cima do muro entre Lula e Bolsonaro. Ainda na tarde de 8 de janeiro, ela fez um post de grande alcance.

As primeiras menções à CPI miravam o bolsonarismo, cuja vinculação com os atos golpistas era evidente. Mas, em pouco tempo, operou-se uma inversão. Os apoiadores de Bolsonaro passaram a clamar pela investigação e acusaram o governo de querer impedi-la.

Entre o início de fevereiro, quando começou o ano legislativo, e o fim de março, o debate em torno da CPI produziu 791 mil posts no Twitter e foi amplamente dominado pela oposição (representada pela cor azul no grafo abaixo). Dos perfis engajados na discussão, 89% eram bolsonaristas. A base governista (11% dos perfis) pouco havia falado sobre o tema; os parlamentares, em especial, faziam silêncio. As poucas postagens feitas por perfis da esquerda debochavam ou tentavam entender a exótica estratégia dos bolsonaristas.

Grafo de menções sobre a CPI do 8 de janeiro no Twitter
(entre 1º de fevereiro e 31 de março de 2023)


O debate seguiu nessa toada até a divulgação das imagens de câmeras de segurança do Palácio do Planalto, no dia 19 de abril. Descobriu-se que o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Lula, general Gonçalves Dias, esteve no palácio durante a invasão e interagiu com golpistas. GDias, como é conhecido, foi demitido por Lula dias depois. E o governo, que saiu chamuscado da história, decidiu então apoiar a instalação da CPI. Embora a oposição já reunisse as assinaturas necessárias desde fevereiro, a criação do grupo vinha sendo retardada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). 

Dali até maio, quando a investigação efetivamente começou, houve um pico de menções à CPI no Twitter. A confiança dos bolsonaristas era tanta que até mesmo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o mais discreto da família, defendeu a instalação da comissão.

Com a instalação da CPI, operou-se uma mudança imediata: os governistas, que até então propositalmente ignoravam o assunto, entraram no debate nas redes sociais. Nos primeiros dias da investigação, entre os dias 25 e 27 de maio, 39,5% dos usuários que discutiam a CPI eram alinhados ao governo, contra 60,5% de perfis ligados à oposição. A mudança é visível no grafo abaixo, em que o agrupamento vermelho (governistas) avança sobre o azul.

Grafo de menções sobre a CPI do 8 de janeiro no Twitter
(entre 25 de maio e 27 de maio de 2023)


A hegemonia da base bolsonarista se manteve, com poucas oscilações, até que as atividades da comissão fossem interrompidas em função do recesso parlamentar. Em sessões tumultuadas, a CPI vinha tateando, até ali, possíveis falhas, tanto do governo quanto das forças militares, nas ações de inteligência e contenção aos invasores da Praça dos Três Poderes.

Depois do recesso, no entanto, a discussão mudou de direção. Os deputados e senadores voltaram ao batente no dia 1º de agosto, uma terça-feira. No dia seguinte, foram surpreendidos com uma notícia: a Polícia Federal havia prendido Walter Delgatti, o hacker que, anos antes, revelara as conversas entre o ex-juiz (e agora senador) Sergio Moro e procuradores da Operação Lava Jato. Dessa vez, Delgatti foi preso sob acusação de ter forjado um mandado de prisão contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, além de inserir alvarás de soltura falsos no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O assunto foi parar na CPI quando, em depoimento à PF, Delgatti contou ter se reunido com Bolsonaro e com Carla Zambelli. No encontro, segundo o hacker, os dois quiseram saber se ele seria capaz de invadir urnas eletrônicas. Vendo nisso um atentado à democracia relacionado ao 8 de janeiro, a comissão convocou Delgatti para depor diante dos deputados e senadores. A sessão, que aconteceria em 10 de agosto, foi remarcada para o dia 17.

Deu-se, ali, o pico de menções à CPI no Twitter, com 98 mil publicações em um dia. Diante dos parlamentares, Delgatti distribuiu acusações. Afirmou que Bolsonaro havia lhe prometido indulto, caso o hacker fosse preso por invadir urnas eletrônicas; que Zambelli havia oferecido a ele um emprego na campanha de Bolsonaro; e que o falso mandado de prisão contra Alexandre de Moraes, descoberto pela PF, fora um pedido de Zambelli.

Dias antes, para piorar, a CPI passara a tratar das joias recebidas por Bolsonaro e seus aliados em viagens ao Oriente Médio. No dia 11 de agosto, o ajudante de ordens do ex-presidente, tenente-coronel Mauro Cid, preso desde maio, foi alvo de uma operação de busca e apreensão. A Polícia Federal investiga se ele e outros militares próximos a Bolsonaro ganharam dinheiro vendendo ilegalmente presentes oficiais, alguns deles valiosíssimos. 

No mesmo dia da operação, parlamentares aventaram a hipótese de abrir uma CPI das Joias. A ideia não foi adiante, mas o debate na CPI do 8 de Janeiro foi contaminado pelo assunto. A relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), disse que iria investigar o possível uso de dinheiro oriundo das joias no financiamento do 8 de janeiro.

Pela primeira vez, o bolsonarismo perdeu a hegemonia no debate digital. Entre 17 e 18 de agosto, 57% dos perfis que repercutiam a CPI estavam ao lado do governo. A oposição, abalada pela enxurrada de acusações, ficou em posição minoritária, com 43% dos perfis.

Grafo de menções sobre a CPI do 8 de janeiro no Twitter

(entre 17 e 18 de agosto de 2023)

CPI do 8 de janeiro não teve, até o momento, o mesmo destaque no debate digital que a CPI da Pandemia, instalada em abril de 2021. Na época, a comissão adquiriu características de programa televisivo, acompanhada ao vivo por milhares de pessoas na tevê e na internet. Os senadores que integravam o grupo fizeram fama. É difícil imaginar que Simone Tebet (MDB-MS) se candidatasse à presidência — e depois virasse ministra do Planejamento de Lula — não fosse a repercussão de suas falas no colegiado. O mesmo não acontece, hoje, com os integrantes da CPI do 8 de janeiro. A profusão de indícios criminais e linhas de investigação, cada uma apontando numa direção diferente, talvez explique a dificuldade do público de acompanhar o trabalho da comissão. Se o diversionismo for parte da estratégia bolsonarista, pode se conside rar que teve algum resultado. 

As acusações contra Bolsonaro e seus aliados, no entanto, são concretas. Repercutem nas redes e pautam o debate público, por mais que não sejam sempre associadas ao trabalho da CPI diretamente. Foi o que aconteceu no caso de Walter Delgatti. O hacker já era assunto antes de depor na CPI. Tendo deposto, ganhou ainda mais atenção no debate digital.

Neste mês de agosto, Delgatti foi de longe o assunto mais comentado sobre a CPI, superando o volume de menções diretas à própria comissão. Ele foi objeto de 1,7 milhão de publicações no Twitter entre os dias 1º e 29 de agosto. As joias de Bolsonaro, por sua vez, apareceram em 769 mil publicações sobre a comissão nesse mesmo período. 

A CPI, se não for prorrogada, se encerra em novembro. Integrantes da CPI cogitam uma delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, que continua preso, e não descartam o indiciamento de Bolsonaro com base nas acusações do hacker. Zambelli está na mira da PF. Considerando o cenário geral e as possibilidades reais de punições a importantes nomes da base do ex-presidente, o saldo não é nada alvissareiro para quem defendeu, com unhas e dentes, a instalação da CPI.

As palavras valem, mesmo quando omitidas https://tinyurl.com/3ju94a87

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