11 outubro 2023

Enio Lins opina

Uma velha história de ocupação, terror e sangue
Enio Lins*

Mais sangue na Terra do Ódio, lugar que interesses políticos e econômicos milenares apelidaram de “terra santa”, estreito terreno no Oriente Médio e que vive sob guerras e terrores desde tempos imemoriais.

Nas linhas da Torá (em parte compilada pelo cristianismo como “Velho Testamento”) estão contidos relatos de como o original povo judeu migrou, em lutas de ocupação, da Mesopotâmia, em busca da “terra prometida”.

Dúvidas sobre esse processo histórico cruento podem ser dirimidas numa leitura do Velho Testamento, onde descrições como o massacre da população nativa de Jericó pelos israelitas (no livro de Josué) são puro horror.

TERRA DE MASSACRES E ÓDIOS

Essa ancestral tradição de terror tem forte marco com as Cruzadas, iniciadas no ano de 1096, quando o Papa Urbano II determinou a invasão cristã à “terra santa” para de lá desalojar os mulçumanos.

Num pulo 800 anos, o século XIX encontra essa faixa de terra batizada como Palestina, habitada por uma população islâmica, com ilhas judaicas e cristãs como vilas, e Jerusalém sempre sagrada para as três crenças.

“Uma pátria para o povo judeu” passa a ser palavra-de-ordem de crescente força entre as comunidades hebraicas espalhadas pelo mundo desde que o Império Romano impôs a diáspora entre os anos 66 e 135.

Qual o grande problema para essa ocupação dos “sem-pátria”? A terra pretendida estava totalmente habitada por nativos palestinos ao longo dos últimos 1.700 anos, pelo menos. Os conflitos foram explodindo.

ONU, PALESTINA E ISRAEL

Com o final da II Grande Guerra Mundial e face aos terríveis sofrimentos impostos pelos nazistas contra as populações judias, a recém-criada Nações Unidas decidiu partilhar essa terra então árabe-palestina com os israelitas.

Duas nações para dois povos foi a proposta aprovada pela ONU, mas desaprovada por israelenses e árabes. Israel proclamou sua independência por conta própria e o povo palestino, ainda sem liderança reconhecida, se lascou.

Na sessão de 29 de novembro de 1947, presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, a ONU aprovou sua Resolução 181, criando dois Estados, destinando 53% da área a ser ocupada por Israel, e 47% seguindo árabe, com o nome de Palestina.

Nessas áreas não estavam computados os perímetros das cidades de Jerusalém e Belém, considerados como “patrimônio universal” – territórios sagrados para judeus, cristãos e muçulmanos. Tudo isso virou letra morta.

Cinco países árabes entraram em guerra com Israel a partir de sua independência unilateral, em 1948. Dispondo de farto amamento soviético e amplos recursos americanos, Israel era militarmente muito superior e ganhou todas as paradas.

EXPANSÃO E GUERRA PERMANENTE

Desde a primeira guerra com os árabes, Israel cresceu avassaladoramente em poderio militar e em ocupação territorial, invadindo e dominando mais de 90% da área total que deveria ser dividida entre israelenses e palestinos.

Praticamente confinada no gueto de Gaza, a população palestina que ainda não foi expulsa de sua terra sobrevive como pode e, vez por outra, suas organizações militares (como o Hamas) tentam contra-ataques que são respondidos com violência multiplicada.

Dos dois lados, como em todas as guerras, a principais vítimas são civis, inclusive crianças. O terror é usado como arma de guerra pelo estado israelense e pelos grupos guerrilheiros palestinos, com raras tréguas.

É isto que acontece nos dias em curso. O Hamas fez um contra-ataque depois de meses de ataques israelenses, e Israel, aproveitando a deixa, está destroçando o pouco havia sobrado de área e autonomia palestinas.

Segue, como dantes, o derramamento de sangue na terra sacrificada. O povo palestino é o principal prejudicado e perderá mais territórios. O ódio recrudescerá entre árabes e muçulmanos, e novos atentados virão como resposta.

*Arquiteto, jornalista, cartunista e ilustrador

O caleidoscópico tempo presente https://bit.ly/3Ye45TD

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