Acordo entre terroristas é positivo, mas não resolve o problema
Enio Lins*
Anunciado nos últimos dias, o acordo entre o governo de Israel e o governo de Gaza (leia-se Hamas) deve ser saudado como um flash de paz e vida em meio ao tenebroso cenário de guerra e morte no Oriente Médio.
É um bom acordo por libertar reféns de ambos os lados em combate, o que significa menos gente em sofrimento e sob ameaça permanente de morte. Os dias de trégua, se confirmados, também são muito bem-vindos.
Mas é indispensável não se acalentar ilusões sobre a possibilidade de uma paz duradoura entre quem apoie ou quem se oponha à política de ocupação total, colonização absoluta, do espaço palestino por Israel.
Israel não desistirá de dominar toda a região palestina, do Mar Mediterrâneo ao Rio Jordão (no mínimo), aí inclusos o Mar da Galileia, o Norte do Mar Morto, e se apropriar de toda Jerusalém (o que já acontece).
Na Palestina, segundo a estratégia sionista, não existe nenhum lugar para palestinos. A atual população palestina superconcentrada em Gaza e dispersa na Cisjordânia está condenada (por Israel) à morte ou ao degredo.
Para a população palestina está colocado, desde 1946, um dilema simples e direto: aceitar perder toda sua terra ancestral em silêncio ou, se berrar, ser assassinada ou exilada. De nada valem as resoluções conciliadoras da ONU.
São letra-mortas todas as decisões da ONU, várias e meritórias, que se opõem aos interesses colonialistas e racistas dos sionistas. Nunca valeram ao longo de 76 anos de avanço, violento e incontido, de Israel sobre o território palestino.
Para o sionismo israelense, a palestina é o seu Lebensraum (Espaço Vital) – tese suprematista criada por Friedrich Ratzel, e ideologia transformada por Hitler em justificativa para a expansão territorial do III Reich, a partir de 1939.
Israel sionista aplica esse conceito do Espaço Vital (nazista) desde sempre, tornando extremamente letal a fusão das concepções do alemão Friedrich Ratzel (1844/1902), e do judeu Theodor Herz (1860/1904).
Voltaremos ao Lebensraum israelense em breve (exige mais espaço); mas, por ora, fiquemos na pauta da hora: a trégua passageira na matança, paz efêmera e elogiável, entre terroristas. Parabéns aos envolvidos, especialmente ao Catar, pela mediação.
*Arquiteto, jornalista, cartunista e ilustrador
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