Fernando Diniz poderá se tornar um grandíssimo treinador; ainda não é
Na cultura do exagero, se o Brasil jogar bem e vencer a Argentina, ele será novamente exaltado
Tostão/Folha de S. Paulo
A seleção brasileira, nos primeiros minutos contra a Colômbia, quando fez o gol, mostrou as vantagens de ter quatro atacantes hábeis, rápidos e dribladores, dois pelo centro e um de cada lado. Por outro lado, na maior parte do jogo, o Brasil escancarou as desvantagens dessa postura, já que um dos principais motivos da derrota por 2 a 1 foi a inferioridade numérica no meio-campo, a dificuldade de ter o domínio da bola e de trocar passes sem pressa de chegar ao gol. O Brasil pode ter o mesmo problema contra a Argentina.
As atuações individuais dos laterais Renan Lodi e, principalmente, Emerson foram muito ruins. Vinicius Junior saiu contundido no início do jogo e fez muita falta.
Na Copa de 2022, a seleção, sob o comando de Tite, também jogou com quatro atacantes, dois pelo centro (Neymar e Richarlison) e mais um de cada lado (Raphinha e Vinicius Junior). A Croácia, com mais jogadores no meio-campo, dificultou bastante a criação de jogadas pelo Brasil. A história se repete. Falo disso há mil anos.
Jogar com um, dois ou nenhum ponta aberto, rápido e driblador, é uma dúvida que perpassa a história do futebol brasileiro e mundial. Nas Copas de 1958 e 1962, o ponta-esquerda Zagallo percebeu que o meio-campo era muito grande para dois jogadores e se tornou o terceiro do setor. Rivelino, em 1970, ocupou a mesma posição de Zagallo.
Posteriormente, os times passaram a jogar com dois pontas abertos e um trio no meio campo, além de um centroavante. Muitas equipes atuais jogam dessa forma, no Brasil e no mundo, como o Barcelona, o Manchester City e outros.
Durante um longo tempo os times brasileiros adotaram a tática com dois volantes marcadores, dois meias ofensivos pelo centro e uma dupla de atacantes, sem pontas. Quem avançava pelas pontas eram os laterais. Com isso, o Brasil formou um grande número de excepcionais laterais apoiadores. Os volantes faziam a cobertura pelos lados. O excelente lateral esquerdo argentino Sorín, quando chegou ao Cruzeiro, disse que queria aprender o mistério de o futebol brasileiro ter tantos grandes laterais.
A Argentina joga com um trio no meio-campo, dois atacantes (Messi e Álvarez) e apenas um ponta, pela esquerda ou pela direita. Quem avança pelo lado que não tem ponta é o lateral ou o meio-campista deste lado.
O Real Madrid tem atuado com a dupla de ataque formada por Rodrygo e Vinicius Junior, o que inspirou Fernando Diniz a escalá-los juntos pelo centro. A diferença é que o Real não tem pontas. Quem avança pelo lado é o lateral ou um quarto meio-campista. Com isso, os dois brasileiros, possuem mais espaços de um lado a outro no campo para aproveitar a sua melhor qualidade, o drible em velocidade.
Cada jogo tem sua história, já dizia, um século atrás, o filósofo brasileiro Neném Prancha. Se o Brasil jogar bem e vencer a Argentina na terça-feira, Fernando Diniz será novamente exaltado como técnico que tenta recuperar o DNA do futebol brasileiro, como se a vida parasse no tempo. Diniz, um profissional inquieto e com boas ideias, poderá se tornar um grandíssimo treinador. Ainda não é.
Nos últimos dias, antes da partida contra a Colômbia, as manchetes eram as mesmas, uma exaltação da coragem de Fernando Diniz em escalar quatro atacantes, um de cada lado e dois pelo centro, como se fosse uma grande novidade, uma tacada genial e corajosa. É a cultura do exagero, do espetáculo, do pensamento binário de que as coisas são isso ou aquilo, nada mais.
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