09 novembro 2023

Minha opinião

Um passo adiante no Minha Casa, Minha Vida*
Luciano Siqueira


Em país marcado por tremenda desigualdade social, agravada pelo conturbado ambiente de polarização política e ideológica em que um dos polos navega em realidade paralela e confunde milhões via fake news, há um "detalhe" na anunciada "faixa 4" do programa Minha Casa, Minha Vida de duplo significado.

O objetivo é alcançar parcela expressiva da chamada "classe média", beneficiandofamílias com renda mensal de até R$ 12 mil.

Além de socialmente justa, a intenção anunciada pelo presidente Lula alcança a superação de uma lacuna verificada em seus dois governos anteriores e nos governos de Dilma Rousseff: milhões de brasileiros e brasileiras pertencentes a essa faixa social intermediária, digamos assim, entre os 41% mais pobres e os 10% mais ricos, não se sentiu beneficiária das políticas sociais.

À época, pesquisas revelavam insatisfação dessa faixa da população, caldo de cultura onde prosperaram antipolítica, disseminada amplamente pela pelos conglomerados midiáticos, e a ascensão da extrema direita bolsonarista.

Por enquanto, até o fim de 2026, o governo pretende entregar mais de 2 milhões de casas no formato atual do programa. 

Ainda insuficiente, porém de um simbolismo muito forte. No governo Bolsonaro o programa mudou de nome e estacionou, deixando 188 mil unidades com obras paradas.


Porém não basta a retomada do benefício. É preciso abordar politicamente a população beneficiária, contribuindo para elevar o seu nível de consciência.

Tanto porque desde o segundo governo Lula, contraditoriamente, a bandeira da Reforma Urbana se enfraqueceu - parte considerável das energias do movimento popular deslocada para as linhas de financiamento habitacional comunitário - , como o conjunto dos programas sociais vitoriosos não produziram a elevação do nível de consciência da população, conforme se constatou em sondagens como as realizadas pelo Instituto Locomotiva.

Realizações de governo eram apresentadas como dádivas, não como conquistas do povo.


A agenda da reconstrução nacional, que dá conteúdo e sentido ao atual governo, tem necessariamente a dupla face das realizações objetivas e a abordagem subjetiva da maioria da população. Sem o que não se melhora a difícil correlação de forças inóspita a transformações sociais consistentes.

*Texto da minha coluna semanal (publicada às quintas feiras) no portal Vermelho

Para além do risco de giz https://bit.ly/3Ye45TD 

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