26 dezembro 2023

Enio Lins opina

Vítimas, algumas não inocentes, de uma concepção criminosa

Enio Lins



Sábado, 16/12/2023, um rico empresário paulistano supôs que uma jovem que pedia informações à sua porta fosse bandida. Disso teve convicção como a turminha da Lava-jato estava convicta que seus adversários políticos eram ladrões e precisavam ir em cana mesmo sem provas. O cara viu na moça um alvo legítimo.

Teve o empresário paulista a convicção de que a jovem, aparentemente indefesa, era uma meliante que ameaçava a integridade de seu lar, seu patrimônio e à sua família. E o que fez? Não telefonou para a polícia, sequer procurou checar algum indício sobre o que queira acreditar. Mandou bala. Atirador “esportivo”, acertou no alvo.

Respondendo ao fogo inesperado, um parceiro da jovem alvejada atingiu o atirador que tinha a si próprio como um heroico “homem de bem”; do lado de dentro da casa mais um cidadão tentou atirar também. Foi baleado. Morreram a moça, o empresário-atirador e uma pessoa identificada como seu segurança.

Quem atirou de volta foi o parceiro de trabalho da jovem alvejada sem motivo. Ambos eram policiais a paisana e solicitavam imagens das câmeras de segurança para investigações no bairro e haviam passado por outras casas, sem problemas, até chegar na mansão do empresário-atirador. Aí viraram alvo.

Milene Estevam era o nome da jovem. Tinha 39 anos e era investigadora da Polícia Civil de São Paulo. Tinha sete anos na força policial, era considerada dedicada e corajosa e em seu currículo constam operações arriscadas. Naquele sábado seria uma ação sem risco, investigação numa área de mansões. Deixou órfã uma filha de cinco anos.

Rogério Saladino, de 56 anos, era empresário e CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), e teria antecedentes criminais. Alex James, de 49 anos, seria “segurança particular”. Ao ver o patrão alvejado, teria se apossado de uma das armas dele e atirado contra quem considerava bandido. Morreram ambos.

Três mortos. Baleados por um entendimento tresloucado sobre armas de fogo e do “direito de autodefesa”. Mais óbitos por conta de um erro criminoso que foi política de governo durante quatro anos e que, desgraçadamente, ainda seduz corações e mentes Brasil afora.


*Arquiteto, jornalista, cartunista e ilustrador

Uma eterna roda viva https://bit.ly/3Ye45TD

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