14 dezembro 2023

Minha opinião

Onde o crime parece compensar
Luciano Siqueira


Em destaque na Folha de S. Paulo de hoje a notícia de que o Comando Vermelho e PCC (Primeiro Comando da Capital) se organizam em presídios de quase todos os estados.

São 70 facções dentro do sistema carcerário, essas duas de maior estrutura e notoriedade presentes em 25 das 27 unidades da federação.

São muitas as variáveis que alimentam o chamado crime organizado — das desigualdades sociais à corrupção policial.

Mas parece evidente que no ambiente dos presídios estão dadas condições propícias a que criminosos comuns, muitas vezes praticantes de crimes menores e ilegalmente mantidos encarcerados, sejam facilmente capturados e se tornam integrantes de facções organizadas.

Desse modo, o indivíduo experimenta a sensação de pertencimento a uma corporação que lhe inspira confiança e lhe dá assistência. Inclusive para evitar a condição de vítima fácil da opressão e da exploração por parte de outros presidiários.

O mundo cão dos presídios pune duplamente aquele ou aquela que cometeu algum crime. 

A facção criminosa organizada lhe dá garantia de assistência jurídica e apoio familiar, além da capacitação para delitos de maior complexidade uma vez retornando à vida aqui fora.

Há uma consistente literatura a esse respeito. 

E, numa certa medida, quando ocupantes do pavilhão dos presos políticos na Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá, no período do regime militar, embora nossos contatos com os presos comuns fossem superficiais, foi possível observar a "necessidade" que tinham de estar enturmados para sobreviverem.

"Das 70 facções atuantes no sistema prisional, apenas o Comando Vermelho e o PCC têm abrangência nacional. Outras 13 apresentam atuação regional, enquanto 55 têm influência restrita a nível local", registra a reportagem.

Alguns dos líderes dessas facções, encarcerados, comandam de dentro dos presídios ações nas ruas. 

Nos últimos anos, com inquietante frequência, conflitos que às vezes duram dias e chegam a comprometer temporariamente o transporte público e outros serviços essenciais.

Quanto maiores as desigualdades, a concentração da renda e da riqueza e a exclusão crescente no mundo do trabalho, mais difícil de superar este que se tornou verdadeiro tumor maligno na sociedade brasileira.

[Foto: Detentos do presídio de Benfica fazem o sinal do Comando Vermelho durante motim, em 2004, no Rio de Janeiro - Felipe Varanda, Folhapress]

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