03 janeiro 2024

Futebol brasileiro: para onde?

Saber ver sem pensar

Já que Ancelotti, Guardiola ou Klopp não podem vir, prefiro um treinador que trabalhe no Brasil
Tostão/Folha de S. Paulo

 

O mundo ideal está quase sempre fora da realidade. Depois da Copa de 2022 e da afirmação de Tite de que não continuaria na seleção, a CBF, com a indicação de um coordenador técnico, deveria ter contratado um treinador já pensando no mundial de 2026.

Porém, com a possibilidade de Ancelotti, um técnico especial, dirigir a seleção brasileira a partir de junho de 2024, seria compreensível a contratação de um interino, ainda mais com a qualidade de Fernando Diniz, desde que estivesse praticamente certa a vinda de Ancelotti.

O treinador nunca disse que iria comandar a seleção brasileira e o presidente Ednaldo Rodrigues da CBF nunca mostrou evidências concretas de que Ancelotti seria contratado.

Deu tudo errado. Pior não tem jeito de ficar. O Real Madrid anunciou a renovação do contrato de Ancelotti, a CBF está sem presidente por causa da anulação da eleição e a seleção está péssima com Fernando Diniz.

Seja quem for o novo presidente, quem será ou quem deveria ser o técnico? Já que Ancelotti, Guardiola ou Klopp não podem vir, prefiro um treinador que trabalhe no Brasil, estrangeiro ou brasileiro. Não há nenhuma certeza sobre qual seria a melhor opção.

Fernando Diniz merece elogios pelo título da Libertadores e por priorizar a ousadia, a criatividade, a aproximação dos jogadores para trocar passes. Não é nada revolucionário. Assim jogam as principais equipes do mundo. Mas isso não basta. O Fluminense e a seleção brasileira deixam enormes espaços na defesa quando perde a bola, principalmente quando muitos jogadores estão agrupados em um lado do campo.

Abel Ferreira seria uma boa opção na seleção, mas após as primeiras atuações ruins seria criticado por não gostar do estilo brasileiro de atuar, com muitas trocas de passes curtos. O Palmeiras joga de várias maneiras de acordo com o momento. Abel é mais pragmático que Fernando Diniz.

Como os jornalistas não podem assistir aos treinos da seleção e dos times, existe uma dificuldade na análise das partidas, já que o que acontece em um jogo costuma ser diferente do que foi programado e ensaiado.

Mesmo assim, é possível analisar com grandes possibilidades de acerto um jogo no campo ou pela TV, já que as imagens da televisão são cada vez mais abertas, amplas para ver o conjunto. Além disso, os repórteres presentes no jogo dão muitas informações e os narradores e comentaristas ajudam na compreensão da partida.

A visão do conjunto de quem assiste ao jogo em uma posição mais alta no estádio ou pela televisão é muito melhor que a do treinador sentado ou em pé na lateral do campo. Por isso, penso que muitas vezes os treinadores deveriam ver o jogo de cima, de onde transmitiriam as decisões para os auxiliares no campo. Isso não acontece porque criaram o mito de que a presença do técnico na lateral do campo durante as partidas é fundamental para o time, mesmo que sua atuação se limite a gritar com os jogadores e a reclamar dos árbitros e auxiliares, ás vezes com agressividade.

Não basta saber e ter todas as informações. É preciso enxergar os detalhes objetivos e subjetivos, os fatos previsíveis e inesperados. Saber ver sem estar a pensar, como diria Alberto Caeiro, um dos principais entre os 127 personagens criados por Fernando Pessoa, segundo o excepcional livro "Fernando Pessoa, uma quase autobiografia", escrito por José Paulo Cavalcanti Filho.

As peças se movem https://bit.ly/3Ye45TD

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